Philip K. Dick’s Electric Dreams – Autofac
“Everything is replaceable”
Eu adoro as
histórias de Philip K. Dick, os assuntos que elas levantam e a maneira como
elas costumam nos surpreender com plot
twists sempre interessantes. “Autofac”,
baseado no conto de mesmo nome, conta a história de uma pequena cidade tentando
sobreviver depois de uma guerra ter devastado o mundo… 20 anos depois do fim da
guerra e com grande parte da humanidade exterminada, essa pequena cidade tenta
sobreviver e recomeçar a vida à sua
maneira, mas são “impedidos” graças à Autofac, aquela que foi a maior
empresa automatizada no ápice da sociedade humana, e que agora continua
enviando mercadorias constantemente – mesmo que elas não sejam mais
necessárias. O episódio suscita uma discussão interessante a respeito de
recursos naturais, dependência que temos/não temos das máquinas, e retrata
muito bem elementos clássicos da ficção científica.
O grande
problema da Autofac é que eles estão esgotando todos os recursos possíveis,
inundando o mundo com mais plástico e produzindo sem parar coisas das quais os humanos não precisam há pelo menos 10
anos, o que os impede de se desenvolver por conta própria. Então, um grupo
de humanos tem um plano, que envolve tentar “conversar” com a Autofac e
informar a situação, para que as mercadorias parem de ser produzidas e enviadas
sem necessidade – e, se esse plano não der certo, eles planejam invadir a
Autofac e destruí-la de dentro. A ideia é interessante e inusitada, e “Autofac” consegue entregar bons
personagens, dos quais eu destaco, inicialmente, Emily e Avi, e a relação
deles, e Conrad. Depois, é claro, como não elogiar a incrível Alice, a
inteligência artificial humanoide que é enviada pela Autofac para “dialogar”
com os humanos.
A história é
bem construída, e durante grande parte do episódio eu fiquei me perguntando onde ela queria chegar – ela não seria
tão linear e tão óbvia, não sendo baseada em um conto de Philip K. Dick.
Percebemos que é na “barganha” entre Emily e Alice que estamos deixando passar
alguma coisa, e é muito legal como ambas
estão escondendo algo, no fim das contas… Emily percebe que a programação de
Alice é muito mais complexa e muito mais parecida com um ser humano de
verdade do que ela imaginou, então, quando ela ameaça “formatá-la” para que
possa hackeá-la e enviar bombas para dentro da Autofac, Alice resolve “ajudar”…
e, agora, Emily, Conrad e Perine estão prontos para invadir a fábrica e detonar
tudo lá de dentro – afinal de contas, Alice foi bastante irredutível quando, em
uma “conversa amigável”, eles tentaram pedir que a fábrica parasse de produzir.
A Autofac nunca vai parar… eles querem
consumidores.
O clímax do
episódio acontece dentro da fábrica, e está baseado na interessante e
reveladora relação que se estabelece entre Emily e Alice, e no conceito
apresentado em um diálogo prévio: de que
tudo pode ser substituído. Alice parece estar se saindo bem enganando Emily
e não a levando para onde prometera levar, e então Emily é confrontada com uma
“revelação” interessante: a de que ela é,
na verdade, apenas uma cópia de alguém que já fora humana – alguém que de
fato presenciou o fim do mundo, como ela vê nos seus sonhos que parecem tão
“imaginativos”. É uma reviravolta interessante da história o fato de Emily ser,
assim como Alice, uma inteligência artificial em um corpo que imita o corpo
humano, e a vemos sofrer com a revelação, porque ela se sente real: e, se ela sente, fala e age como uma humana… o que não a torna humana de fato?
A grande
reviravolta do episódio, é claro, ainda estava por vir, que era o fato de que
Emily sabe, há anos, que ela não é humana – não 100%, mas uma inteligência
artificial. Sem contar para mais ninguém no vilarejo, ela tinha um plano
próprio que envolvia se infiltrar na Autofac com um vírus implantado em sua
própria programação: um vírus que vai enfim destruir a grande fábrica
automatizada e liberar os humanos para que eles prosperem como bem entenderem…
construída e programada à imagem da mulher que construiu a Autofac, há muitos anos, antes da guerra, Emily também
é, agora, a mulher que destrói a
Autofac, e que viabiliza a “segunda chance da humanidade”. É um final
interessante e muito mais esperançoso e bonito do que se podia esperar,
conforme vamos assistindo ao episódio… curioso
para as próximas histórias de “Electric Dreams”.
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