Philip K. Dick’s Electric Dreams – Safe and Sound
Manipulação.
ACHEI
INCRÍVEL. Embora tenhamos entendido o que estava acontecendo previamente, e o
episódio tenha se preocupado desnecessariamente em explicar em detalhes toda a
maneira como Foster Lee foi usada
para reforçar uma ideia fabricada, “Safe
and Sound” (baseado no conto “Foster,
You’re Dead”, publicado por Philip K. Dick em 1955) é facilmente um dos
meus episódios favoritos em “Electric
Dreams”, porque tem uma premissa interessante, uma construção de cenário
incrível, e uma narrativa intensa que gera angústia, criando um suspense
aterrador enquanto vemos Foster Lee tomar
todas as decisões erradas – uma sociedade que se sustenta na venda
exacerbada de “proteção”, que vigia e controla as pessoas e que precisa manter
o medo de ataques terroristas vê em uma adolescente ingênua a chance de
perpetuar seu poder.
Foster Lee
acabou de se mudar das Bolhas para uma cidade futurística e utópica em que tudo
parece “perfeito”: as pessoas têm a mais refinada tecnologia possível e vivem
em “segurança”, protegidos de supostos ataques terroristas promovidos por
pessoas que vêm “do lado de fora” – como Foster e a mãe. O que Irene, a mãe,
quer, na verdade, é justamente desmentir toda essa falácia de ataques
terroristas, que são claramente forjados
para que os moradores da cidade continuem tendo medo das “Bolhas” e permitindo
que sejam observados e controlados por “equipamentos de segurança”, como o Dex
– mas, na verdade, nenhuma das pessoas daquele lugar parece ter presenciado de fato um ataque
terrorista… é bastante evidente que nenhum aconteceu de verdade há pelo menos
20 anos. E, sabendo disso, o pessoal da
cidade vai querer “consertar” isso.
Assim como é
característico de vários episódios de “Philip
K. Dick’s Electric Dreams”, em “Safe
and Sound” paira certa ironia doentia. Enquanto Irene veio para a cidade
para representar as Bolhas, tentar negociar melhores condições de tratamento
para eles, e rejeita, a qualquer custo, as tecnologias usadas ali, que ela
considera “invasivas”, a filha adolescente, Foster, se envolve depressa com
toda essa utopia – em parte por se encantar pela tecnologia e começar a
acreditar nas coisas que se prega ali, em parte para poder “se sentir parte de
um grupo”, o que é uma temática bem pertinente para a adolescência… e olha o
quanto Foster Lee coloca em risco quando, sem a autorização ou mesmo o
conhecimento da mãe, Foster procura a ajuda de um colega de escola para comprar
para ela um Dex, aquele “computador pessoal”, para que ela “seja como todos os
demais”.
Toda a
condução da trama é fascinante – e desesperadora, é claro. Vemos Foster se
envolver cada vez mais com Ethan, a voz por trás de seu Dex, que a faz
acreditar em ameaças onde elas não existem, criando uma paranoia que, na
verdade, é típica dos moradores dali… jovem, ingênua e fácil de impressionar,
Foster Lee é rapidamente influenciada a perseguir um colega de escola que
supostamente está fazendo algo errado e, depois, a interrogar uma outra colega,
que assim como ela, veio das Bolhas. A maneira como Dex/Ethan faz com que
Foster se sinta importante e a única salvação é alarmante – para nós, é
evidente o quanto ela está sendo usada e qual o possível desfecho desse conto,
mas também percebemos o quanto Ethan consegue ser manipulador e convincente, e
podemos entender por que Foster
acredita nas coisas que ele lhe diz…
O fim do
episódio é melancólico e brutal – Foster acaba sendo persuadida a fazer uma
bomba caseira e quase provocar um ataque terrorista real, acreditando que está
fazendo isso “para salvar” a todos ou algo assim, enquanto a sua mãe é presa e
condenada a anos de prisão como uma terrorista que a usou (?), e toda a
narrativa fabricada de que as pessoas das Bolhas os detestam e querem matá-los
fica mais forte do que nunca… e, mesmo depois de toda essa conclusão
perturbadora, Foster Lee continua acreditando que fez o que era certo. É
interessante, e problemático, o poder que se exerce sobre mentes
impressionáveis e manipuláveis, e como uma narrativa mentirosa pode se
sustentar praticamente sem ser questionada, se quem está por trás dela for
inteligente o suficiente para encontrar mecanismos de sustentá-la.
Preocupante.
Mas um excelente episódio!
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