The Time Traveler’s Wife 1x03

“Because I’m her fucking husband!”

O episódio mais pesado e mais triste de “The Time Traveler’s Wife” até o momento – essa parte da história me faz muito mal, me causa angústia, revolta, desespero… ainda assim, a série continua sendo excelente e fazendo um ótimo trabalho adaptando o livro original. O primeiro episódio da série trouxe os princípios básicos da viagem no tempo de “The Time Traveler’s Wife”, apresentou Henry e seus primeiros encontros com Clare, de uma maneira inteligente e bem amarrada; o segundo episódio foi extremamente emotivo, trazendo o maior trauma da vida de Henry, a sua relação com a mãe e a sua “segunda chance” com Clare; nesse terceiro episódio, é hora de conhecer um pouco mais da Clare, que é a única que está contando a história dessa vez, anos depois da morte de Henry, e nos lembra de que essa não é a história de um viajante no tempo…

É a história da mulher do viajante no tempo.

Assim, o episódio é inteiramente contado do ponto de vista de Clare – o que o torna mais linear, apesar de vermos diferentes versões de Henry, de idades diferentes, e até revisitamos dois momentos importantes do primeiro episódio, que é o momento em que Clare vê Henry pela primeira vez, quando ela tem 6 anos, e quando Clare encontra o Henry em sua própria linha temporal e é a primeira vez para ele, quando ela tem 20 e ele tem 28. E vários detalhes do que aconteceu nesse “meio-tempo”. Muito se fala sobre o Moffat, que assina a adaptação de “A Mulher do Viajante no Tempo”, ter aproveitado algumas ideias do livro em sua fase como showrunner de “Doctor Who”, como na história de amor do Doctor e River, mas e a história de Amy? Uma garota ruiva que conheceu o Doctor criança e esperou por ele durante 12 anos de sua vida?

Clare, na verdade, teve uma vida sofrida – mesmo antes de chegar ao seu pior trauma, aos 16 anos. Como a sua versão mais velha diz, “ninguém deveria conhecer sua alma gêmea aos 6 anos de idade”, porque sabemos que Clare se moldou ao redor do seu “amigo imaginário” que aparecia para ela na clareira, um homem por quem ela passou a vida toda esperando… primeiro como um amigo, depois como um amor, mesmo sem saber que ele eventualmente seria seu marido. A relação de Clare, dos 6 anos à adolescência, com Henry é puramente platônica, e eu só imagino o quanto isso deve ter doído… o quanto ela sonhou, sabendo que ele era casado com uma mulher chamada Clare, que ela fosse a mesma Clare que seria sua esposa, e aquela lágrima caindo sobre o tabuleiro de xadrez quando ela tem 13 anos e ele mente, dizendo que eles não ficam juntos, é de partir o coração.

Mas Henry fez o que tinha que fazer… o que, como a Clare do futuro diz, “um homem decente faria”.

Acompanhamos breves encontros de Clare e Henry ao longo dos anos – afinal de contas, eles se encontram 152 vezes antes que Clare, aos 20 anos, o encontrasse em sua própria linha temporal. É aos 16 anos, no entanto, que temos a maior parte da história do episódio. Já interpretada por Rose Leslie, vemos Clare nessa idade pela primeira vez como uma garota com os hormônios a mil, louca para “atacar” o Henry, e eu confesso ter me divertido muito com a Clare escondendo as roupas de Henry para que ele pudesse ficar pelado (Theo James é um homem muito bonito, né? Que benção termos “The Time Traveler’s Wife” para poder ficar babando por ele!), propondo, inclusive, um jogo de damas, dizendo que, a cada peça que ele tirasse dela, ela lhe diria onde estava uma peça de roupa – e, então, ele joga damas melhor do que jamais havia jogado.

Na próxima vez que Henry retorna, no entanto, Clare não está lá – um pouco brava porque ele a derrotou no jogo e se vestiu, um pouco frustrada porque ele insiste em dizer que eles não ficam juntos no futuro. Clare foi para uma festa, e é aqui que algo horrível acontece quando ela se aproxima de um babaca criminoso que abusa dela… ela chega correndo desesperada e chorando na lareira, tarde da noite, e Henry pula para chegar até ela e saber o que está acontecendo, mas desaparece no meio do pulo. Na próxima vez que ele aparece para ela, ela está diferente… séria, traumatizada e sofrendo, Clare está mais intensa e mais machucada do que jamais a vimos, e ela diz que “vai levá-lo para dar uma volta de carro”, em uma sequência desesperadora na qual ela age loucamente no trânsito, dizendo que “ela não vai morrer naquele dia”.

Toda a construção da história do abuso foi difícil de assistir – são cenas que de verdade me machucam. Clare pede que Henry mate Jason para ela, mas se recusa a falar sobre o que aconteceu, mas Henry percebe que é algo sério e não questiona… diz que está disposto a fazer isso. No fundo, sabíamos que nenhum dos dois teria coragem de, de fato, cometer um assassinato, mas Jason merecia, no mínimo, uma surra e uma ameaça gigantesca. O Henry de 32 anos liga para o Henry de 24, que é o Henry daquele momento no tempo, e pede que ele tenha um álibi para aquela noite, então ele e Clare vão até a casa de Jason para buscá-lo, e o babaca nojento e covarde chora, faz xixi de medo, implora, mas acaba no porta-malas do carro de Clare para que ela e Henry o levem para bem longe… e, no meio do caminho, Clare conta a Henry o que aconteceu.

Mas não tudo… “The Time Traveler’s Wife” entrega sua sequência mais desesperadora, mais triste e mais revoltante quando Clare conta parte da história a Henry e tira a blusa, para que ele veja os hematomas que Jason deixou em seu corpo e a marca de queimadura de cigarro em seu peito, e a revolta toma conta de Henry de uma maneira tão intensa que ele teria matado, se ela não tivesse pedido que ele não o fizesse… Clare mente, dizendo que Jason não chegou a estuprá-la, uma mentira que ela sustentou durante toda a sua vida, e é doloroso ouvi-la falar sobre isso na filmagem do futuro, dizendo que, quando estava com Henry, ela podia fingir que o estupro não tinha acontecido e que a versão que ela contou para ele era a real… mas não era. E agora, tantos anos depois da morte de seu marido, esse trauma claramente ainda a assombra o tempo todo.

Que dor, que sofrimento!

Achei interessante como Clare confiou em Henry e pediu a sua ajuda, e como ele realmente esteve ali para ela, mas como a “vingança”, mesmo que com a participação de Henry, acaba sendo protagonizada por Clare, e ela dá a ela sua própria cara, com a ajuda das amigas – infelizmente, isso era uma dor dela, e algo que ela carregou sozinha durante toda a sua vida. A história também faz com que Henry acabe confessando a Clare que foi, sim, com ela que ele se casou no futuro, porque ele solta isso em um momento impactante, tomado pela raiva que as mentiras de Jason causam nele, e é impressionante como tudo faz sentido. Depois daquela vez, Clare só vê Henry mais uma vez, aos 18 anos, antes do seu “primeiro encontro oficial” com ele, quando ambos estão em seus “tempos corretos”, ele com 28 anos, ela com 20, como vimos no primeiro episódio.

Um episódio inteligente e fortíssimo. A série continua incrível!

 

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