Philip K. Dick’s Electric Dreams – The Commuter
Escapismo e verdade.
Estou em um
estado tão grande de choque e cheio de reflexões que eu não tenho certeza se
consigo escrever um texto coerente… baseado em “O Passageiro Habitual”, conto de Philip K. Dick lançado pela
primeira vez em 1953, “The Commuter”
é facilmente um dos melhores episódios de “Philip
K. Dick’s Electric Dreams” – a excelente atuação e o fato de conseguirmos
nos importar com o protagonista faz com que mesmo a primeira parte do episódio,
em que ainda estamos tentando entender
qual é a trama, funcione brilhantemente, e conforme as coisas vão se
esclarecendo, o episódio assume um tom intimista e filosófico que levanta uma
série de reflexões e que nos deixa atordoados e pensativos… “The Commuter” fala sobre fuga e
negação, materializando o tema de maneira inteligente em uma cidade que não
existe, mas poderia existir.
Ed Jacobson,
brilhantemente interpretado por Timothy Spall, trabalha em uma estação de trem
há 20 anos – e então, misteriosamente, uma mulher aparece pedindo uma passagem
para “Macon Heights”, uma parada que não
existe e nunca existiu… ele sabe disso, sempre trabalhou lá, mas a mulher
parece muito certa de que o lugar existe. O episódio é construído de maneira
instigante, e eu adoro a sensação quase desconfortável
que ele causa quando nos perguntamos, sem entender, o que está acontecendo,
qual é o grande mistério, que lugar misterioso é Macon Heights no fim das
contas… e Ed Jacobson acaba resolvendo tentar chegar até lá, entrando no trem,
cronometrando os 28 minutos que a mulher dissera que demora para chegar até a
cidade, e então pulando do trem, como
ele vê outras pessoas fazendo, rumando para uma cidade que não deveria estar
ali.
Mas está… e parece colorida e perfeita
demais.
Aprendemos a
duvidar, na ficção, de tudo que parece “muito perfeito”, e isso faz com que
Macon Heights promova um sentimento confuso que tem a ver com curiosidade e
assombro, mas que não chega a ser aconchegante – para muitos outros viajantes
parece ser, mas não para Ed. Quando Ed retorna de sua primeira viagem a Macon
Heights, as coisas em casa estão diferentes, e então “The Commuter” começa a fazer sentido de forma inteligente: Sam, o
filho de Ed, simplesmente parece ter
parado de existir… durante a primeira parte do episódio, conhecemos Sam e
todos os problemas que a família tem com ele e com a sua condição, e temos uma
conversa sincera e bem escrita entre Ed e a esposa, na qual eles falam sobre
ter ou não ter medo do filho e do que
ele pode fazer… parte de Ed parecia desejar, então, que o filho “não
existisse”.
E foi isso o
que Macon Heights lhe proporcionou – foi isso o que Macon Heights lhe tirou. A
trama é interessante, bem conduzida, o tom do episódio é introspectivo e
melancólico, e isso embasa muito bem os sentimentos e reflexões que a história
propõe. Vemos Ed investigar Macon Heights, descobrir quem é a mulher que
apareceu na estação pedindo um bilhete para essa cidade, e a cada nova visita
de Ed, a cidade parece menos acolhedora e menos perfeita… tudo parece
artificial demais, repetido, e ele percebe que todos ali parecem estar vivendo
uma mentira, parecem estar fugindo de
algo que lhes machuca, algo que eles querem negar e querem fingir que nunca
existiu – e é justamente essa a proposta de Macon Heights: “consertar” as
coisas que não podem ser consertadas no mundo real… proporcionar um lugar onde
o escapismo de todo problema é real.
O episódio é
forte – talvez o mais forte de “Philip K.
Dick’s Electric Dreams”, e me deixou com uma sensação estranha na boca do
estômago, mas é, ao mesmo tempo, muito bonito e tem uma mensagem interessante,
conduzida de forma competente até uma conclusão emocionante. Ed Jacobson
consegue perceber a fuga ao seu redor e consegue não escolher “o caminho mais fácil”, porque ele quer ver o filho de
volta – apesar de qualquer coisa, ele é seu filho, ele o ama, e ele não quer
que ele nunca tenha existido… Ed faz a escolha que todos os demais que fogem
constantemente para Macon Heights não
consegue fazer: ele escolhe abraçar e enfrentar seus problemas, e viver no
mundo real, com todas as suas alegrias e todos os seus sofrimentos, mas pelo
menos é de verdade. Um episódio
impactante, certamente um dos melhores de toda a série!
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Esse final mostrando apenas o filho e não a mãe, me pareceu estranho..
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