Philip K. Dick’s Electric Dreams – Impossible Planet

“There’s no mystery anymore”

Que força impressionante! “Impossible Planet” é, facilmente, um dos meus episódios favoritos em “Electric Dreams”, e principalmente por seu tom intimista e reflexivo… não tem grandes surpresas, mas tem uma humanidade intensa e melancólica que impacta – terminei o episódio pensativo e, de certa forma, maravilhado com a capacidade da série de contar uma história tão triste de uma forma quase poética, mas sem anular a sua força e o seu perigo… baseado em “O Planeta Impossível”, lançado por Philip K. Dick pela primeira vez em 1953, o episódio traz uma senhora de 342 anos, Irma Louise Gordon, procurando uma agência de turismo para que a leve na jornada mais importante de sua vida: uma viagem até a Terra, onde ela possa nadar como a avó nadou um dia… e essa será a sua última viagem já que tem, no máximo, mais uns dois meses de vida.

O universo de “Impossible Planet” é bem construído: situado no futuro, estamos em uma época na qual a Terra já não existe mais… devastada e inabitável, o planeta foi abandonado, e se tornou algo inalcançável – diferente do conto, o planeta não é um “mito”, mas todos sabem que não existe como voltar para lá e que, mesmo que retornassem, não encontrariam nada além de um planeta destruído… Irma e seu companheiro androide conseguem convencer Brian Norton e Ed Andrews a pilotarem uma nave até a “Terra”, oferecendo um pagamento altíssimo (ela não tem mais por que continuar guardando dinheiro, tem?)… o problema, é claro, é que ir para a Terra é impossível, então Ed Andrews sugere que eles encontrem algum planeta “parecido” com a Terra, em outro sistema solar, e levem Irma para lá – afinal de contas, ela não saberia a diferença, saberia?

Gosto muito de como o episódio consegue estabelecer seus protagonistas de forma convincente, e de como faz com que nos importemos com eles… Irma Louise Gordon é carismática desde o primeiro momento, e podemos nos relacionar ao seu sonho, que ela defende com tanta sinceridade. Brian Norton, por sua vez, é um personagem com camadas e frustrações, e mesmo tendo concordado em enganar a senhora de 342 anos, ele acaba apresentando um bom coração, e se pergunta se o que está fazendo é certo ou não… o episódio traz toda uma reflexão filosófica interessante a respeito do que é “verdade” e do que é verdade para nós: talvez aquele planeta para o qual a nave está indo não seja, no fim das contas, a Terra, mas Irma Louise acredita que é – e será que isso não é o suficiente para que ela realize seu sonho?

É doloroso e forte, mas impossível retornar – depois de tudo aquilo, contar a Irma que aquele planeta é um planeta qualquer escolhido para enganá-la seria uma crueldade… por isso, Brian acaba se envolvendo cada vez mais na mentira, e a sustenta enquanto se envolve cada vez mais com Irma e com sua história, a cada minuto mais disposto a realizar o sonho da senhora. E entendemos, também, os motivos que levaram Irma a sonhar com isso, graças às histórias da avó sobre nadar nua em um rio em Carolina e essa ser “a melhor sensação que ela já teve na vida”, e os motivos que a levaram a escolher, especificamente, a empresa de Brian Norton para que a levasse nessa jornada: ele é exatamente como o avô que aparece na foto antiga de sua avó. Ela quer recriar essa memória, que nem é dela, para ter essa sensação uma vez na vida antes de morrer.

E morre desse modo.

O episódio é, sim, intenso e trabalhado na melancolia – mas, de alguma maneira inusitada, muito bonito, apesar de triste. Acho que eu entendi a posição do androide, por exemplo, que amava Irma, no fim das contas, e que, sabendo que ela morreria em dois meses, escolheu não lhe dizer a verdade, para que ela acreditasse que estava na Terra, porque isso a faria feliz uma última vez. Brian, por sua vez, não estava condenado daquela maneira, mas acaba se envolvendo a tal ponto naquela fantasia que escolhe descer da nave com Irma e andar por aquele planeta inóspito e tóxico, com pouco oxigênio nos tanques, até que eles terminem alucinando… ouvindo pássaros, vendo um rio no qual nadarem juntos. É uma excelente sequência aquela do final, mesmo que represente a morte dos personagens. “Impossible Planet” é um dos episódios da série que mais mexeu comigo!

 

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