Sandman, Volume 3 – Sonho de Uma Noite de Verão / Fachada
William Shakespeare e Rainie.
“Sandman” é um mundo de sonhos e de
referências… e eu acho que até nesse momento Neil Gaiman consegue evocar a
natureza do sonho para compor suas histórias: afinal de contas, os nossos
sonhos não são, muitas vezes, referências daquilo que vivemos durante o dia e vaga
pelo nosso inconsciente, às vezes sem que percebamos, pelo menos até que se
materialize quando estamos desacordados? Na segunda parte de “Terra dos Sonhos”, o terceiro volume
de “Sandman” (edições 19 e 20 da
série), Neil Gaiman nos apresenta mais duas histórias paralelas que tem tudo a
ver com o seu universo e com os seus personagens, mas que são independentes –
e, como eu comentei no último texto, eu gosto muito dessas histórias que são
fechadas em si mesmas, embora a minha favorita nesse volume continue sendo a
incrível “Um Sonho de Mil Gatos”.
“Sonho de Uma Noite de Verão”, como o
nome sugere já a uma primeira olhada, é uma história de “Sandman” que traz William Shakespeare como um dos personagens
principais – e ele está encenando pela primeira vez a última comédia que
escreveu, que lhe foi encomendada pelo próprio Senhor dos Sonhos. É impossível
ler a essa edição de “Sandman” e não
pensar em “Homens de Boa Fortuna”,
uma edição que fez parte do Volume “Casa
de Bonecas”, e que é, até hoje, uma das melhores edições de “Sandman” que eu já li. Nessa edição,
Sandman se torna amigo de um humano, e vemos William Shakespeare em segundo
plano durante um dos encontros do misterioso Senhor dos Sonhos com Robert,
encontros esses que se espalham ao longo de séculos. Agora, então, temos a
chance de conhecer mais sobre a relação de Sandman com Shakespeare.
Acho
interessante que “Sandman” sempre me
faz pensar nas possibilidades do mundo real e na maneira como os sonhos são
mesmo misteriosos – Sandman está
sempre lá, na história da humanidade, participando de alguma maneira. Aqui, a
célebre peça “Sonho de Uma Noite de
Verão” foi escrita por Shakespeare a pedido de Sandman para homenagear o
povo do Mundo das Fadas e eternizá-los na mente dos humanos mesmo muito depois
de eles terem se retirado para seu próprio mundo… é uma edição divertida, que
eu sinto que eu teria aproveitado mais se eu tivesse um conhecimento maior em
relação à peça de Shakespeare – sinto que eu deixei muitas brincadeiras de Neil
Gaiman simplesmente passar sem que as aproveitasse por completo. Ainda assim, a
edição é gostosa de se ler, e tem todo esse tom místico que “Sandman” nos traz.
Depois,
temos “Fachada”, e eu percebi que
Urânia Blackwell não era uma personagem que aparecia no mundo dos quadrinhos pela
primeira vez… assim como John Constantine não era uma invenção de Neil Gaiman
quando ele apareceu ainda em “Prelúdios
& Noturnos” (inclusive, outra edição que eu adoro em “Sandman”).
Urânia Blackwell, conhecida como “Rainie”, é uma personagem da DC, uma das
Metamorphae, que apareceu pela primeira vez em 1967, uma super-heroína com um
poder bastante interessante, mas que talvez não seja a personagem mais lembrada
da DC, até porque, pelo que pesquisei, sua participação em anos mais recentes
foi bastante reduzida. Em 1990, então, Neil Gaiman a traz como a personagem
principal de uma de suas histórias, uma que é protagonizada não por Sandman,
mas por uma de suas irmãs mais conhecidas: a Morte.
Assim como a
edição anterior, “Fachada” também me
trouxe recordações de outra edição de “Sandman”,
“O Som de Suas Asas”, mas aqui
puramente pelo tom melancólico de uma história protagonizada pela Morte, uma
personagem extremamente carismática na mitologia de “Sandman”. Rainie está infeliz com a sua condição, com a sua aparência,
com o fato de estar separada do mundo, quando ela recebe a visita da Morte, que
realmente estava apenas de passagem por
ali, e lhe diz que esse ainda não é o seu momento, mas que a Morte um dia
chegará para ela, assim como chegará para todos os seres vivos. O diálogo da
Morte com Rainie é poderoso e escrito de forma brilhante, e acompanhamos
arrepiados o momento em que Neil Gaiman narra a morte de uma super-heroína do
Universo DC, que faz um pedido a Rá, o Deus do Sol.
Assim como “O Som de Suas Asas”, uma edição
memorável!
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