The Sandman 1x06 – Chapter 6: The Sound of Her Wings
“Why do
they fear the Sunless Lands?”
O melhor
episódio dessa temporada de “The Sandman”,
e possivelmente um dos melhores episódios de qualquer série que eu já vi na
vida. “The Sound of Her Wings” é
SIMPLESMENTE PERFEITO, e novamente preciso elogiar os visuais dessa série, a
maneira fascinante como a adaptação é conduzida com respeito ao material
original e, é claro, a história propriamente dita – aqui, particularmente
emocionante, inteligente e reflexiva. “The
Sandman” é, e nunca é demais repetir, uma obra-prima. O episódio reúne duas
edições da HQ de Neil Gaiman, e é uma escolha que mexe muito comigo, tendo em
vista que “O Som de Suas Asas” é a
minha edição favorita de “Prelúdios &
Noturnos”, e “Homens de Boa Fortuna”
é a minha edição favorita de “Casa de
Bonecas”… a emoção que foi assisti-las adaptadas no mesmo episódio é
difícil de mensurar.
“The Sound of Her Wings” começa com
Sonho sentado em um banco na praça, com um pedaço de pão na mão, alimentando
pombos, desolado – é assim que a Morte, sua irmã mais velha, o encontra, e eu
estava muito ansioso para esse diálogo, que segue perfeitamente o que
conhecemos da HQ… a interação entre Sonho e Morte sempre rende alguns dos melhores momentos de “The Sandman”, e aqui não é diferente, e
eu adoro ver como a Morte se preocupara
com o irmão enquanto ele estivera preso, mas como ela é maravilhosa, também,
dando em Sonho o chacoalhão de que ele precisava para parar de ficar sentado
“sentindo pena de si mesmo”, e é ela quem começa a ajudá-lo a enxergar que sua
função é seu propósito, e que se o seu “joguinho” terminou e as ferramentas de
poder foram encontradas, ele não precisa ficar “perdido” por isso.
Morte o
convida a caminhar com ela, e sentimos que poderíamos acompanhar a caminhada e
o diálogo daquela dupla para sempre…
a condução da trama é tão bela e tão poética que essas características superam
o pesar e a melancolia de ver as pessoas sendo levadas pela Morte – não há
crueldade, não há frieza, há apenas uma função a ser cumprida e quem a cumpra;
Morte está fazendo seu trabalho, com uma sabedoria admirável, uma calma e uma
gentileza acolhedoras… enquanto ela guia pessoas até as Terras sem Sol, onde
eles vão descobrir “o que vem a seguir”, ela conta sobre sua experiência, sua
própria dor, como pensou em desistir antes de perceber que estava ali para
servir os humanos e que era necessária, e Sonho lhe indaga sobre como ela se
sente por ninguém ficar muito contente
por receber a sua visita… mesmo que morrer seja tão natural quanto nascer.
“I'm not alone when I'm doing my job. And neither are
you. Think about it. The only reason we even exist, you and I, and Desire and
Despair, the whole family… we're here to serve them. It isn't about quests or
finding purpose outside our function. Our purpose is our function.
We're here for them. Since I figured
that out, I realized I need them as much as they need me”
A primeira
pessoa que a Morte leva nesse episódio é Harry, que ela e Sonho encontram
tocando violino sozinho em um apartamento bem iluminado; depois, ela leva Sam,
um homem que morre afogado durante a sua lua-de-mel e não tem nem a chance de
se despedir da esposa; depois um bebê em seu berço, uma mulher em um asilo, um
homem caído em um beco… e ela leva cada uma dessas pessoas como aprendeu que
era o ideal: tudo de que as pessoas
precisam, nesse momento, é de palavras gentis e um sorriso amigável, para saberem
que não estão sozinhas. Kirby Howell-Baptiste interpretou brilhantemente
sendo a melhor Morte que poderíamos ter, impondo perfeitamente seu modo de
falar, sua voz e seu rosto acolhedores como é a proposta… por fim, ela leva
Franklin, o rapaz da bola no início do episódio, e aconselha Sonho a encontrar
um velho amigo…
Hob Gadling.
A história
de Sonho e Hob/Robert vem de “Homens de
Boa Fortuna”, uma HQ do segundo arco de “The
Sandman”, e faz todo sentido colocá-la aqui, porque começa também com Sonho
e Morte andando no mundo dos humanos, em 1389, e gira em torno de um homem que
“decidiu não morrer”. Enquanto dois dos Perpétuos entram em uma taverna para
ouvir a conversa dos humanos, eles conhecem Hob Gadling, um homem que acha a
morte “uma estupidez”; ele acredita que as pessoas só morrem por costume, por
imitação, “porque todo mundo morre”, então ele decide que não vai morrer… como
Sonho não entende por que alguém ia querer uma eternidade daquela, e acredita
que, caso não morra, Hob estará implorando
pela morte dentro de 100 anos, a Morte resolve conceder a esse homem seu
desejo… e Sonho acha fascinante acompanhá-lo.
Assim, em
1389, ele estabelece que, dentro de 100 anos, ele vai encontrá-lo novamente
naquele mesmo lugar, e então eles conversarão sobre a sua escolha de “não
morrer”. E, assim, o próximo encontro acontece em 1489, e Hob Gadling está
confuso, se perguntando se fez um pacto com o diabo ou algo assim, porque
aquele homem na sua frente sabia que
ele estaria ali em 100 anos, foi o único que não riu dele… ainda assim, embora
confuso, Hob não mudou de ideia: ele ainda não quer morrer, há tanto pelo que
se viver! As coisas estão mudando, um monte de novidades chegou ao mundo nesses
últimos 100 anos, e ele sabe que as coisas vão continuar avançando e ele quer
saber o que mais o mundo tem a oferecer. Fascinado e quiçá surpreendido, Sonho
marca, então, o próximo encontro dentro de mais 100 anos… e, assim, fica estabelecido que eles se encontraram ali naquele lugar,
uma vez a cada 100 anos.
1589, Hob
Gadling agora se chama Sir Robert Gadlen, e ele deve ter vivido seus melhores
100 anos desde que isso tudo começara… prosperara, se tornara rico e nobre,
conseguira uma esposa e um filho. Está vivendo uma vida como a que julgara que
seria o Paraíso, se existir um, melhor do que jamais estivera. Adoro como a
passagem de Sonho por diferentes épocas é marcada pela “aparição” de
personagens como Will Shaxberd, um aspirante a dramaturgo que sonha em “fazer
sonhos que possam viver muito além de seu tempo”, e com quem Sandman conversa
para fazer alguma espécie de acordo… Will Shaxberd se tornaria, eventualmente,
aquele que conhecemos como William Shakespeare e, bem, tudo isso foi possível
graças a Sonho… e, de certa maneira, graças a Hob/Robert, porque Sonho o
encontrara ali, no seu encontro secular.
Interessantíssima
a transição de 1589 a 1689 – se em 1589 tudo estava mais do que perfeito e Robert acreditava que nada poderia
derrubá-lo, em 1689 ele está completamente arruinado. Ele perdeu tudo: terra
ouro, a esposa, o filho… passou fome, sede… quase foi queimado como um bruxo… é
doloroso ouvi-lo perguntando a Sonho se ele sabe o quanto dói sentir fome, mas
não morrer, e é fortíssimo quando ele diz que odiou cada segundo dos seus últimos 80 anos, “cada maldito segundo”.
Isso, no entanto, não muda a sua convicção inicial, que começou isso tudo há
300 anos: não, ele ainda não quer morrer…
ainda existe muito pelo que viver. E Sonho não admite isso em voz alta, é
claro, mas ele acha fascinante, até
porque Hob, a uma altura dessas, já lhe mostrou que ele estava errado… ele não
desistira ou implorara pela Morte como ele imaginou que aconteceria.
1789. Hob
subiu novamente, embora esteja envolvido em escravidão, o que Sonho desgosta e
lhe dá um conselho incrível e sábio que faz Hob pensar… a passagem por 1789
traz momentos incríveis! Há uma citação a “Rei
Lear” e as pessoas que estão tentando mudar o seu fim para dar-lhe um final
feliz, e uma breve conversa sobre Shakespeare e o “acordo” que Sonho fizera com
ele, seja ele qual for, e a lenda que corre em Londres sobre “o Diabo e o Judeu
Errante que se encontram naquela taverna uma vez por século” traz uma visita
inesperada de alguém que também quer o dom da imortalidade: Lady Johanna
Constantine. O “duelo” com Constantine é um máximo, e o que isso representa
para eles também, porque eles já
compartilham uma relação fofa, depois de 400 anos… a maneira como Hob o
defende, por exemplo, sem saber que não precisava…
“You need not have come to my defense”
“Clearly”
“Still, I didn't want to be drinking alone here in 100
years' time”
Há uma
química fascinante nessa cena! O sorrisinho de Hob e a mão na orelha, quase um
flerte tímido, e a maneira como Sonho também tenta esconder um sorriso, sem
muito sucesso, porque, na verdade, gostou de Hob ter se importado e do
comentário sobre o próximo encontro, em 100 anos… 1889 começa muito bem: uma
conversa leve, sorrisos mais soltos, eles gostam da companhia um do outro, até
Hob fazer um comentário sobre como acredita que Sonho o encontra ali a cada 100
anos não na esperança de que ele mude de ideia sobre a Morte, porque já sabe
que ele não mudará, mas porque gosta da
sua companhia: “Friendship. I think you’re lonely”. Sentindo-se ultrajado e
furioso, Sonho se levanta para ir embora, para “provar que Hob não sabe do que
está falando” e que ele não precisa de sua companhia… enquanto Sonho vai
embora, Hob grita que estará ali em 100 anos…
Se ele também estiver, é porque eles são
amigos.
Na HQ, Sonho
passa menos de 100 anos prisioneiro dos Burgess, o que quer dizer que ele não
chega a perder nenhum encontro com Hob Gadling… mas a sua ausência em 1989
deixa tudo muito mais dramático nessa
história inusitada de amizade cujos encontros acontecem uma vez a cada 100
anos. Em 1989, porque estava em seu cativeiro, Sonho não apareceu, mas Hob
Gadling estava lá, esperando por ele… e
eu juro que fiquei de coração partido por ele. A maneira como ele espera,
como ele bebe, como ele percebe que “levou um bolo” (“Maybe in another 100 years”), e como ele sofre com a possibilidade
de não existir mais aquele bar no futuro, porque ele foi vendido e vai ser
derrubado… porque, no fundo, ele espera que seu amigo ainda vai aparecer… mais
cedo ou mais tarde ele vai aparecer. E, então, chegamos em 2022, com Sonho
parado do lado de fora de onde o bar ficava…
E ele não existe mais.
A série
conseguiu deixar esse último encontro ainda mais INTENSO e mais SIGNIFICATIVO.
Existe um “aviso” mostrando a direção para um novo bar, e Sonho o segue e,
mesmo que não seja o dia marcado do encontro secular deles, Hob Gadling está lá – porque ele sabia
que, mais cedo ou mais tarde, seu amigo viria. A CENA É PERFEITA. A maneira
como Sonho caminha até Hob, como o rosto de Hob se ilumina com um sorriso
quando ele levanta o rosto e o vê, como diz que ele está atrasado, em tom quase
de brincadeira, mas com muita sinceridade, alívio e felicidade, e Sonho diz
que, então, lhe deve desculpas, porque “não é legal deixar amigos esperando”. Sonho puxa uma cadeira e se senta na frente
dele, E É A COISA MAIS LINDA E MAIS FOFA DE TODO O MUNDO, a maneira como as expressões
deles transmitem todas as emoções necessárias para o momento. Emocionante e belo, a cena me fez chorar.
Assim como na HQ, o fim de “Homens de Boa
Fortuna” nos deixa querendo mais…
Termino o
episódio como terminei a HQ quando a li:
querendo ver mais desses dois… querendo ver, pelo menos, esse encontro completo.
Agora que eles são abertamente amigos, agora que eles estão ali não por uma
“aposta” ou nada, mas apenas porque gostam
da companhia um do outro.
“You're
late”
“It seems I owe you an apology. I've always
heard it impolite to keep one's
friends waiting”
A beleza
desse episódio é absurda. Melhor episódio de “The Sandman”. Emocionante do início ao fim! Obra-prima.
Para mais
postagens de “The Sandman”, clique aqui.
Eu achei o episódio perfeito,se terminassem a temporada aí,eu não ia me incomodar,porque a história da Rose Walker foi bem mais ou menos pra mim
ResponderExcluirNão sei se você leu as HQs, mas essa "quebra de ritmo" se deve ao fato de que de fato foram adaptados dois arcos. "Prelúdios & Noturnos" do 1 ao 6, e "Casa de Bonecas" do 7 ao 10.
ExcluirNa minha opinião, "Prelúdios & Noturnos" é muito mais impactante... mas "Casa de Bonecas" é um bom arco e introduz coisas que serão importantes no futuro de The Sandman... só é outro estilo e outro ritmo. Mesmo assim, concordo com você: acho que a primeira temporada poderia ter sido mais curta e ter se encerrado no Episódio 6, porque teria sido uma primeira temporada fechadinha, introdutória e, convenhamos, perfeita. "Casa de Bonecas" poderia ser adaptado na segunda temporada com "Estação das Brumas"...