Vale o Piloto? – The Sandman 1x01 – Chapter 1: Sleep of the Just

“For I am the King of Dreams…”

Eu sempre disse que “Sandman” é UMA OBRA DE ARTE – e eu estava esperando tão ansiosamente pela estreia dessa adaptação. Com “Chapter One: Sleep of the Just”, “The Sandman” já consegue mostrar todo o seu potencial, estabelecendo com calma e competência as bases para a grande história que está se iniciando… e eu não poderia estar mais empolgado! Visualmente impressionante, e mantendo o tom poético e melancólico das páginas da HQ de Neil Gaiman, a adaptação entrega um Piloto fascinante que é um presente para os fãs de longa data de “Sandman” (tudo é muito fiel à HQ, o episódio conseguindo evocar os mesmos sentimentos e o mesmo estilo dos quadrinhos), mas, ao mesmo tempo, é uma porta de entrada convidativa e clara o suficiente para atrair toda uma nova legião de fãs. Tenho certeza de que a série será um imenso sucesso!

Lembro-me de quando li “O Sono dos Justos” pela primeira vez, e como aquilo me marcou. Talvez seja um pouco por ouvirmos falar de “Sandman” há tanto tempo (a primeira HQ foi publicada em 1989), não sei, mas esse primeiro “conto” da grande história do Sonho dos Perpétuos evoca uma grandiosidade sempre impressionante… podemos ainda não saber nada do que vem a seguir, mas “O Sono dos Justos” nos faz perceber rapidamente que a mitologia de “Sandman” é fascinante. Somos fisgados em poucos minutos de leitura e, agora, em um episódio de 54 minutos que de modo algum parece ter tudo isso… o tempo voa, eu não sei se alguma vez na vida eu vi um episódio de quase uma hora de duração que tenha passado tão rápido quanto “Sleep of the Just”, e terminamos o episódio ávidos por mais, ansiosos para dar play no próximo episódio.

A história começa em 1916, na Inglaterra, com dois homens ambiciosos e irresponsáveis que querem invocar e aprisionar a Morte e exigir que ela devolva seus filhos. John Hathaway chega à Ordem dos Antigos Mistérios, liderada por Roderick Burgess, o Magus, trazendo com ele o Grimório Magdalene. O episódio traz esse ritual macabro que inicia a narrativa principal de “The Sandman” com uma precisão impressionante, e na medida certa: não é nada exagerado, nem megalomaníaco, e isso traz a narrativa para uma sensação de realidade incrível, com um presente a mais aos fãs da HQ de Neil Gaiman, que reconhecem falas inteiras e até enquadramentos de câmera que nos remetem aos desenhos originais, como a própria chegada de Sonho ao seu cativeiro de mais de um século. E, no lugar da Morte, Sonho é aprisionado por Roderick.

Os elementos são brilhantemente introduzidos: vemos o elmo, o rubi e a algibeira cheia de areia ao lado de Sonho, suas ferramentas de poder que são, uma a uma, tomadas dele. E, enquanto isso, vemos o mundo sucumbir a uma DOENÇA DO SONO. O Piloto reduz a quantidade de narrativas paralelas que dão profundidade à Doença do Sono se espalhando pelo mundo (embora vejamos Unity Kinkaid brevemente!), mas traz Sonho narrando o que está acontecendo, enquanto uma doença misteriosa assola milhões de pessoas e os médicos a chamam de “encefalite letárgica” – por sinal, algo genial da narrativa, porque é uma doença real e misteriosa que Neil Gaiman inclui com maestria e boa justificativa a “Sandman”… algumas pessoas imploram por um sono que nunca vem, enquanto outros se tornam sonâmbulos eternos ou dormem sem nunca acordar ou morrer.

É o Coríntio quem visita Magus trazendo algumas informações, como o nome do Perpétuo que ele aprisionou no lugar da Morte, Sonho, e algumas instruções sobre como impedir que ele escape. Durante anos, Roderick Burgess manteve Sonho aprisionado, tentando negociar sua liberdade em troca de dinheiro, juventude e imortalidade, mas Sonho nunca abriu a boca, nunca disse nada… e aproveito para elogiar a interpretação de Tom Sturridge durante a sua prisão, porque sua atuação estava intensa na sua postura e, principalmente, no seu olhar. Ele deu uma força e uma raiva ao Sonho da qual ele precisava, mas que não podia expressar com palavras… e foi interessante como o Piloto escolheu contar uma história com menos paralelos e centrar-se nos Burgess, e nas diferenças entre Roderick, o Burgess que o aprisionou, e Alex, seu filho mais novo.

Alex Burgess é um personagem interessante. O vemos na infância e na juventude, principalmente, sempre menosprezado pelo pai e tratado como lixo, e percebemos que existe certa sinceridade nele quando ele tenta, sozinho, conversar com Sonho em 1926, e diz que “o deixaria sair, se pudesse”, mas o pai o escuta dizer isso e o faz matar um dos corvos de Sonho, que aparece por lá desde que o Senhor dos Sonhos foi aprisionado há 10 anos… e quando Alex não apenas mata o corvo, mas o mata na frente de Sonho, sabemos que as coisas não vão ficar bem para ele. Nem mesmo quando Roderick morre em uma cena incrível: é maravilhoso como “The Sandman” traz momentos grandiosos em sequências “simples”, como a morte de Roderick, porque a morte dele batendo a cabeça mostra o quanto ele era frágil, apesar de toda a sua ganância.

A cena de Sonho e Alex estendendo a mão um ao outro é uma das coisas MAIS LINDAS, visualmente falando, que eu já vi na vida… é algo de se assistir mil vezes e de se encantar sempre. Aquele era o momento em que Alex podia provar o que dissera antes: que soltaria Sonho se pudesse, mas ele não o faz, porque diz que “precisa pensar”, e ele retorna mais tarde, com Paul, tentando barganhar… diferente do pai, no entanto, que sempre pediu poder e riqueza, ele pede que Sonho prometa não machucar ele e Paul, mas Sonho não aceita o acordo, porque não sabe se pode ou se quer perdoá-lo, então ele continua lá, preso por mais muitos anos até que, já muito velho e perto da morte, Alex o visite uma última vez, e Paul ajude Sonho rompendo o círculo que o cerca… e é aí que A GRANDE FUGA DE SANDMAN começa, uma cena que eu estava ansioso para ver.

Adoro o poder do Senhor dos Sonhos de caminhar através dos sonhos das pessoas, e de escapar quando alguém pega no sono em sua presença, e é algo singelo e, ao mesmo tempo, estrondoso, outra sequência brilhante… Sonho está fraco, depois de mais de um século de aprisionamento, e talvez ele queira vingança e queira recobrar suas ferramentas de poder, mas, antes, ele quer ir para casa – e é tristíssimo chegar ao Sonhar, outrora tão belo e chamativo (a cena introdutória mostrando o Sonhar é de ARREPIAR, porque o Sonhar é um dos conceitos mais interessantes da ficção, facilmente), agora destruído, porque Sonho passou tantos anos ausente… ele terá que reconstruir seu reino e, para isso, precisará ir atrás de seu elmo, de seu rubi e da algibeira com areia. “Sleep of the Just” é uma estreia ainda mais perfeita do que eu esperava, estou MUITO FELIZ com essa série.

“The Sandman” está, finalmente, entre nós. E como se deve!

 

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