Adão Negro (Black Adam, 2022)
“Not your son. Not your country. Not your
decision to make”
EU ADORO O
UNIVERSO DE SHAZAM. Criado em 1939 e publicado pela primeira vez no início de
1940, Shazam não era originalmente um personagem da DC, e foi o primeiro
super-herói a ganhar uma adaptação para o cinema, se tornando o personagem mais
popular da década de 1940. Durante a década de 1990, Shazam foi adquirido pela
DC, ganhou novo destaque, e voltou a ganhar notória popularidade com o filme “Shazam!”, de 2019, protagonizado por
Zachary Levi. Agora, The Rock protagoniza “Adão
Negro”, um spin-off do filme de
2019, que tinha o intuito de “relançar” o Universo Cinematográfico da DC, mas
que não atingiu os objetivos estabelecidos e não será levado adiante – uma
pena, porque eu realmente gostei bastante
de “Adão Negro”, e embora não seja o melhor filme do gênero nem nada assim,
era uma introdução interessante para uma nova era.
Adão Negro é
um personagem criado em 1945 e que atua ora como vilão ora como um anti-herói –
e eu acho que anti-heróis têm histórias bem interessantes para contar.
Retornamos para Kahndaq há aproximadamente 5.000 anos, quando o país era
escravizado pelo Rei Ahk-Ton em busca de eternium, um metal poderoso com o qual
ele cria a Coroa de Sabbac, um objeto poderoso capaz de canalizar poderes
demoníacos capazes de torná-lo praticamente invencível.
E, por isso, Kahndaq precisava de um herói… de um Campeão. Gosto muito de toda
a sequência na qual um garoto é transportado para o Conselho dos Magos
justamente durante a sua execução e, ali, Kahndaq não ganha um mártir, mas um milagre. KAHNDAQ FINALMENTE TEM O HERÓI
QUE ESPERAVA, o herói que pode derrotar o Rei Ahk-Ton e acabar com o seu reino
de terror.
Depois da
batalha do Teth-Adam com o Rei Ahk-Ton, o rei foi morto, seu castelo destruído,
a Coroa de Sabbac escondida pelos Magos e Teth-Adam jamais foi visto novamente…
até os dias de hoje, quando talvez Kahndaq esteja precisando mais uma vez de um
herói, já que o país foi invadido pela Intergangue, que está buscando colocar
as mãos na Coroa de Sabbac. A sequência de ação que introduz o Teth-Adam/Adão
Negro é eletrizante e com um quê de
diversão intencional ou não, e é a única sequência que de fato justifica o uso da câmera lenta, porque estamos vendo o
personagem pela primeira vez e sua velocidade é um fator importante do seu
leque de poderes – eventualmente, no entanto, “Adão Negro” falha na direção e abusa do efeito de câmera lenta em
uma série de momentos nos quais o recurso não
era realmente necessário e se torna brega.
“Adão Negro” consegue ser leve e ter o
seu próprio timing de comédia aliado
à ação e a um toque singelo de morbidez e macabro, que o diferente de “Shazam!”, como era de se esperar. Gosto
particularmente da relação que o Teth-Adam constrói aos poucos com Amon, o
filho de Adrianna, a mulher que o libertou de onde quer que ele estivesse nos
últimos 5.000 anos – e acho interessante como Amon é um garoto que, de certa
maneira, funciona como nosso avatar, fascinado por super-heróis e pela chegada
do Adão Negro, e como o próprio Adão Negro valoriza os seus comentários e
conselhos… e se é algo que pode parecer “apressado”, porque ele não é
necessariamente o tipo de pessoa que ouviria o garoto, eventualmente tudo se
encaixa e percebemos que Teth-Adam talvez tenha uma boa relação com Amon porque
o faz lembrar de Hurut.
O filme
também apresenta a Sociedade da Justiça, que é enviada a Kahndaq para “deter” o
Teth-Adam – embora o país esteja perfeitamente satisfeito em ter seu herói de
volta, para ajudá-los contra a Intergangue. A equipe é formada por Carter Hall,
o Gavião Negro, que tem possivelmente o visual mais bonito da equipe, fiquei babando toda vez que ele assumia o
uniforme e as asas; Kent Nelson, o Senhor Destino, que tem um dos poderes mais
interessantes e úteis do filme; Al Rothstein, o Esmaga-Átomo, que talvez
tivesse a intenção de ser uma espécie de “alívio cômico” no filme, mas não se
sai tão bem como planejado; e Maxine Hunkel, a Ciclone, que tem um efeito muito
legal que é o mais místico dos quatro
e tem ares de “fada”, mas eventualmente ela acaba recaindo naquilo que eu já
falei e o excesso de câmera lenta
deixa as cenas bregas e cansativas.
Uma parte de
“Adão Negro” é, então, o embate entre
o Tenth-Adam e a Sociedade da Justiça – e é feita uma discussão rasa sobre como
os pretensos heróis estrangeiros querem interferir em um país alheio de acordo
com as coisas nas quais eles
acreditam, mas não necessariamente o pessoal de Kahndaq. A ideia da Sociedade
da Justiça é aprisionar Tenth-Adam, mas talvez eles não tenham qualquer chance
de vencê-lo em batalha e, portanto, precisam convencê-lo a dizer a palavra “Shazam” e abrir mão de seus poderes…
mas como fazer isso se eles não conseguem nem entrar em acordo sobre como agir
em situações mais simples? Há uma linha tênue entre a busca por justiça e
vingança que é o ponto de partida de uma série de obras de ficção, e que se aplica
muito bem em “Adão Negro”.
Eventualmente, eles precisam trabalhar em
equipe para salvar Amon.
O primeiro clímax do filme acontece quando Ishmael,
o traidor que está tentando roubar a Coroa de Sabbac porque, aparentemente, ele
é o último descendente do Rei Ahk-Ton, sequestra Amon para negociar a troca
dele pela Coroa de Sabbac – e Adrianna está disposta a entregá-la para proteger
o próprio filho. Aqui, temos uma das minhas sequências de ação favoritas do
filme, quando a Coroa é entregue e Ishmael atira em Amon, e então o Adão Negro
corre para protegê-lo da bala e, em seguida, enfrentar Ishmael, enquanto o
Senhor Destino protege Amon com o seu poder, o Gavião Negro envolve Adrianna
com as suas asas (sério, que visual bonito o do Gavião Negro!), e o
Esmaga-Átomo, em sua forma gigante, protege Maxine com as mãos… e, ali,
excessivamente antecipado, na verdade, parece que tudo foi “resolvido”. Mas sabemos que não é possível.
Ishmael traz
à tona o nome de Hurut e isso permite que o filme conte a verdadeira história do que aconteceu em Kahndaq em 2.600 a.C.: o
personagem interpretado por The Rock não é, realmente, o Campeão que foi
escolhido pelo Conselho para receber os poderes dizendo “Shazam”… o Campeão
escolhido foi seu filho, Hurut, o mesmo garoto que vimos no início do filme e
que presumimos que fosse o Teth-Adam que conhecemos, porque o próprio Billy
Batson vira “adulto” ao usar os poderes. Hurut foi um dos primeiros Campeões
escolhidos pelos Magos, mas ele passou os seus poderes para o pai, ferido, para
salvá-lo – e morreu atingido por flechas do Rei Ahk-Ton logo em seguida.
Teth-Adam, então, buscou vingança antes de justiça, e foi sua ira incontrolável
que destruiu não só o rei, mas o reino… e, por isso, ele foi aprisionado há 5.000 anos.
O lugar de onde Adrianna o libertou não era
seu túmulo, mas sua prisão.
Agora,
então, Teth-Adam resolve dizer “Shazam” e renunciar aos seus poderes, aceitando
ser preso novamente, enquanto percebemos que tudo o que acontecera fazia parte
do plano de Ishmael: em um paralelo interessante e demoníaco à maneira como o
Adão Negro e o Shazam ganham seus poderes, Ishmael diz “Sabbac” e também se transforma, assumindo uma forma
macabra que pode destruir Kahndaq de uma vez por todas… ou aprisioná-la para
sempre em uma escravidão sem fim. Então, a Sociedade da Justiça luta contra
Sabbac, mas o Senhor Destino é o primeiro a perceber que só uma pessoa pode destruí-lo: Teth-Adam. Por isso, ele precisa ser
libertado mais uma vez e dizer a palavra que o transforma em um Campeão. Não
importa quem ele foi ou o que fez há 5.000 anos… importa o que ele vai escolher fazer agora. É hora de ser um herói.
Realmente gostei bastante de “Adão Negro”. Acho que o filme tinha tudo para ser um sucesso dentro
do gênero e dentro daquilo a que se propôs. É uma boa história de origem com um
personagem cheio de potencial, tem atuações competentes, visuais interessantes,
e embora a direção peque em alguns momentos, entrega uma aventura gostosa de se
assistir e boas sequências de ação, como se espera de um filme de super-herói.
Infelizmente, no entanto, parece que esse “novo” Universo Cinematográfico da DC
não será levado adiante nos moldes propostos por “Adão Negro”, e aquela cena pós-créditos com a participação de
Henry Cavill retornando ao seu papel de Superman, por exemplo, pode ser
descartada, porque já não significa nada.
De qualquer maneira, ficamos agora aguardando “Shazam!: Fúria dos Deuses” em 2023.
Para reviews de outros FILMES, clique aqui.
Comentários
Postar um comentário