[Series Finale] Alice in Borderland 2x08
Limbo.
Eu tive
algumas críticas à segunda temporada de “Alice
in Borderland”, especialmente no que dizia respeito ao ritmo da narrativa,
mas esse episódio me faz dizer com orgulho: QUE CONCLUSÃO PERFEITA! Antes do
lançamento, eu não sabia que a temporada tinha sido feita como uma conclusão da história, mas esse episódio
fecha tudo de uma maneira tão bonita que eu sinto que não é necessário que se continue a partir daqui… depois de um
episódio longo, tenso e com um suspense interessante que nos deixa apreensivos, concluímos entendendo onde Arisu e os demais
estavam, e o que significava tudo o que eles estavam enfrentando – e tudo é
repleto de simbologia e beleza, em uma história que levanta algumas questões e
nos deixa reflexivos.
No fim do
episódio passado, depois do massacre e da derrota do Rei de Espadas, Arisu e
Usagi se prepararam para o último jogo, dessa vez contra a Rainha de Copas –
que propõe um jogo de croquet com uma regra aparentemente bem simples: Arisu deve completar três rodadas e,
independente de ganhar ou perder, ele só precisa chegar até o fim sem desistir.
O jogo, então, é muito mais psicológico
do que qualquer outra coisa, porque a Rainha de Copas parece disposta a enrolar o máximo possível, inclusive
adiando a terceira e última partida propondo que “eles tomem um chá”. E,
durante aquele chá, ela espera ter as palavras certeiras para fazer com que
Arisu desista da partida, dando a ela, finalmente, a vitória. E será que Arisu é capaz de se manter
firme?
Arisu quer
respostas… ele está há muito tempo buscando respostas, buscando saber onde ele está e se ele poderá voltar ao
“mundo real” quando os jogos terminarem. A Rainha de Copas sabe todas as
respostas para as suas perguntas – mas talvez ela não queira compartilhá-las.
Com muita seriedade e capacidade de convencimento, a Rainha de Copas explica
para Arisu e Usagi que eles estão 1.000
anos no futuro, e que aqueles jogos são a maneira de manter uma humanidade entediada com a vida eterna entretida.
Eu gosto do tipo de resposta proposta ali, eu gosto de imaginar Arisu e Usagi
em uma realidade virtual, em algo que se assemelha a “The Matrix” com um toque de “Jogos
Vorazes”. É o tipo de ficção científica que eu adoro… mas fiquei feliz que
aquela não fosse a resposta oficial.
Ainda era
cedo demais no episódio, e eu sentia que ainda podíamos ter um plot twist que tornasse tudo ainda mais interessante – a ficção
científica já usou estratégias parecidas vezes demais e “Alice in Borderland” não queria cair na mesmice. Então, depois de
rir de Arisu e Usagi, a Rainha de Copas começa a falar sobre uma segunda possibilidade de “verdade”, mas,
daquela vez, eu não acreditei nela nem por um minuto… eu sabia, àquele ponto,
que ela enrolaria o quanto pudesse e que não daria as respostas que Arisu
buscava. Se a primeira teoria envolvia um futuro distópico e tecnologia, a
segunda teoria envolvia alienígenas, androides e memórias falsas, e embora
plausível, pareceu tão descabido naquele momento, como se a Rainha não
estivesse se esforçando o suficiente para vender sua história.
Já a
terceira teoria teria funcionado… mas havia furos
que não podiam ser ignorados. Fiquei inclinado a acreditar na Rainha de Copas
quando ela tentou convencer Arisu de que tudo era uma ilusão, fruto de sua
imaginação e, portanto, estava acontecendo apenas dentro da sua cabeça, como
uma forma de fugir do trauma e da culpa que sentia por causa da morte de
seus melhores amigos, Chota e Karube. Aqui, conhecemos uma nova versão dos acontecimentos no centro de Tóquio no dia em que
tudo começou, quando a Rainha de Copas, convertida em sua psiquiatra (!), pede que ele se lembre do que aconteceu depois que eles viram os fogos de artifício…
e, então, vemos um desfecho diferente e chocante para o momento em que eles
atravessavam a rua…
Chota e Karube são brutalmente atropelados.
É muito
convincente – e muito possível. Teríamos Arisu em tratamento, criando uma nova
realidade em sua mente para fugir do trauma e do sentimento de que ele tinha matado os amigos, e fazia
sentido, tendo em vista que essa culpa
meio que se repete dentro do jogo e na morte de Chota e Karube como a
conhecemos na primeira temporada. Vemos, também, Usagi como uma paciente da
mesma psiquiatra, e um quadro na parede com a paisagem na qual eles estão
agora, com um jogo de croquet acontecendo… tem uma vibe meio “Sucker Punch”,
ou mesmo de outras histórias que acabaram não se passando dentro da mente de um
personagem, mas que brincaram com isso, como “Legion” e “Cavaleiro de Lua”.
Mas há um furo muito grande que não nos deixa acreditar nessa trama: e as cenas sem o Arisu?
Quer dizer, para que existiriam todos
aqueles jogos só do Chishiya, se tudo fosse criado na mente do Arisu para fugir
do seu trauma? Para mim, aquilo ali é o que me fez balançar a cabeça e
dizer: não, ainda não é isso. E não
era. Ali, a Rainha de Copas joga a sua carta mais desesperada e mais baixa,
tentando fazer com que Arisu desista e tome um remédio, na realidade do
hospital psiquiátrico, ou uma caneca de chá, na realidade do jogo de croquet… e
Usagi é quem tem que impedir Arisu de fazê-lo, além de tentar fazer com que ele
acorde para a realidade. Tudo aquilo é DESESPERADOR, porque demora minutos
intermináveis que nos deixam em uma apreensão crescente enquanto esperamos para
ver Arisu se levantar e fazer alguma coisa para impedir a morte de Arisu e para
descobrirmos a verdade.
E, em algum
momento, Arisu se levanta… e retorna para o jogo.
Quando Arisu
termina a terceira rodada, ganhando ou perdendo, ele zera o jogo da Rainha de
Copas – porque a única regra era chegar até o fim sem desistir, e ele se
manteve forte, apesar das tentativas. Agora, com todos os jogos zerados, os
sobreviventes precisam fazer uma escolha
antes de poderem descobrir o que vem pela frente e onde eles estavam, afinal de
contas… eles querem continuar ali, como cidadãos? Então, cada um dos personagens
que seguem vivos fazem a sua escolha – E EU ESTAVA TÃO ANSIOSO PARA SABER A
RESPOSTA. Antes de podermos começar a desvendar o que realmente aconteceu, no entanto, Arisu tem uma espécie de encontro espiritual com Chota e Karube,
em um momento leve, bonito e melancólico, que é muito importante.
Então,
retornamos para onde “Alice in
Borderland” começou. Revemos algumas cenas do primeiro episódio da primeira
temporada, antes de Arisu e os demais serem transportados para Borderland (que,
quando explicado onde eles estavam, é
um título MARAVILHOSO!), e tem um certo tom agridoce quando revemos essas cenas
depois de tudo… achei incrível como
os demais personagens que conhecemos durante os jogos são adicionados àquela
cena: vemos Usagi, Chishiya, Tatta, Kuina… todos estavam por perto, e era
extremamente importante que eles
estivessem, porque todos estavam no centro da cidade quando um meteoro atingiu a cidade e causou um
estrago sem tamanho. Tempo depois, Arisu desperta no hospital e descobre
que “morreu”: seu coração parou por um minuto antes de ele ser trazido de
volta.
Ele estava
num lugar durante esse tempo, que pareceu muito
mais longo do que um minuto… uma espécie de limbo, onde ele e todos os
demais que estavam na mesma condição que ele precisavam lutar no limite entre a
vida e a morte. E ISSO POR SI SÓ É UMA SIMBOLOGIA E TANTO. O final de “Alice in Borderland” é emocionante,
surpreendente e fecha tão bem o ciclo que eu só queria sorrir e aplaudir pela
grande história que nos contaram… amo que Borderland e os jogos fossem parte de
um limbo entre a vida e a morte, onde algumas pessoas lutavam para sobreviver
enquanto outras de fato morriam. Entendemos por
que Aguni parece ter morrido e “voltado” tantas vezes, por exemplo, e agora
faz sentido. Vemos os ferimentos em Borderland “refletirem” os ferimentos reais
resultados do impacto…
Por fim,
acho que tudo parece ter sido explicado. Acredito que as pessoas estavam
chegando em “Borderland” em momentos diferentes porque elas perdiam a
consciência depois do desastre em momentos diferentes… quem chegou até ali e
morreu durante os jogos provavelmente foram pessoas que não morreram no
impacto, mas morreram logo depois. Por fim, quem conseguiu sobreviver e
escolheu retornar ao fim do jogo são aquelas pessoas que lutaram para
sobreviver e que despertaram, de volta no mundo real; aquelas que escolheram
continuar em Borderland são aquelas pessoas que vão continuar em coma depois do
impacto, até que morram um dia. Eu adorei ver as peças se encaixando de uma
maneira tão redondinha no fim!
“Alice in Borderland” acabou sendo uma
grande surpresa. Eu amo a série desde a sua estreia: amava a questão toda de
estratégia e de jogos, mas essa conclusão trouxe à história um toque a mais de emoção pela qual talvez eu não
esperasse: é uma grande obra filosófica, no fim das contas, cheia de detalhes
que podemos apreciar e que enriquecem a sua trama… um dia retornarei a ela, e
acredito que a experiência será outra
agora que sei aonde a história vai chegar, e deve ser uma jornada incrível
também! Por fim, achei bonito ver que, embora não se lembrem bem do que
aconteceu, algum resquício ficou de toda a experiência em Borderland, e é
bonito ver Arisu e Usagi se reencontrando
no mundo real. Sobre o Coringa no final, eu acho que não é nada, apenas uma
provocação, caso um dia queiram continuar…
Mas, embora
ame a série, acho que ela se fechou muito bem nesse episódio.
É uma bela
conclusão, e devemos parar por aqui.
Para mais
postagens de Alice in Borderland, clique
aqui.
Comentários
Postar um comentário