The Last of Us 1x03 – Long, Long Time

“I was never afraid before you showed up”

SIMPLESMENTE UMA OBRA DE ARTE. “Long, Long Time”, o terceiro episódio de “The Last of Us”, é uma história bonita e emocionante, lindamente conduzida em paralelo à história central, mas conectada a ela, tanto em termos de roteiro quanto em termos de emoção. Gosto muito de como “The Last of Us” tem sequências de ação e suspense angustiantes e incríveis, como aquela do museu no episódio anterior, mas como embora essa seja uma grande e importante parte da série, o roteiro não se esquece que, acima de tudo, está se contando uma história sobre esses personagens… mais do que “um apocalipse zumbi” ou algo assim, é sobre como as pessoas reagem, sobrevivem e forjam relações durante “um apocalipse zumbi”. Isso confere tanta verdade à série!

Comentei, nas minhas reviews dos dois primeiros episódios, que estava gostando bastante dos rápidos flashbacks que iniciavam os episódios, fossem retornando muitos anos no passado para falar sobre a possibilidade de uma doença gerada por fungos contra a qual a humanidade não conseguiria lutar, ou para mostrar o momento em que a doença explodiu e o mundo sucumbiu. Enquanto Joel e Ellie, ainda marcados pela recente morte de Tess, caminham em direção a “um velho amigo”, Joel explica um pouco da teoria mais aceita a respeito de como tudo isso começou, e como aquela noite de sexta-feira, 26 de setembro de 2003, mudou a vida de todos para sempre, enquanto eles passam pelos restos mortais de pessoas que foram enganadas com a promessa de um lugar seguro e mortas.

Ali, a série faz uma transição perfeita e nos leva para um flashback lindíssimo, cobrindo vários anos e a vida de Bill e Frank. Eu acredito que histórias distópicas como “The Last of Us” se beneficiam DEMAIS em contar histórias quase “paralelas”, que mostram diferentes vivências e pontos de vistas da catástrofe em questão, porque isso torna tudo mais grandioso e mais crível – afinal de contas, foi um evento apocalíptico que dizimou grande parte da população e mudou completamente a maneira de viver daqueles que por sorte sobreviveram, e certamente a experiência não foi a mesma para todos… apesar do sofrimento final e da possível paranoia com a qual teve que conviver, eu acho que Bill conseguiu encontrar uma maneira de levar uma vida bem boa, dentro das condições.

Ele manteve-se em segurança, encontrou o amor. Foi feliz.

A história de Bill começa no dia 30 de setembro de 2003, pouco depois do surto da doença. Escondendo-se em um bunker e conseguindo escapar de uma “evacuação obrigatória” (que acabaria em sua morte), Bill manteve-se sozinho em uma cidade que ele transformou em seu refúgio. Isolando-se do mundo, da doença, dos infectados e, também, de qualquer outra pessoa, Bill construiu uma “sociedade” bastante funcional e autossustentável, com direito a um bom sistema de segurança que mantém afastado qualquer infectado que tente se aproximar, e na qual Bill viveu sozinho durante quatro anos… até que, em 2007, ele recebesse uma visita inesperada de um homem que “estava tentando chegar a Boston” e cai em uma de suas armadilhas.

Foi muito bem-construída a primeira interação de Bill e Frank. Depois de três anos sozinho (e, aparentemente, já achar que “o mundo era uma bosta” mesmo antes disso), Bill tem dificuldade em confiar em qualquer pessoa, e com razão – mas ao menos ele consegue testar Frank e ter a certeza de que ele não está infectado, o que já é uma grande coisa. Bill está disposto a tirar Frank da armadilha e deixar que ele siga viagem, mas o homem está cansado e com fome, e convence Bill a dar-lhe um pouco de comida… e, na verdade, eu não acho que Frank tenha em algum momento querido mesmo sair. Amo toda a construção da cena do jantar, a cena do piano depois do jantar, e o jogo de Frank para conseguir ouvir o que ele no fundo já sabia: que Bill era gay. E, então, eles se beijam.

Não conheço nada a respeito de “The Last of Us” e meu primeiro contato com a história está sendo a partir da série, então confesso que fiquei surpreso e extremamente contente ao ganhar representatividade LGBTQIA+ na série – e quem não gostou, não estou nem aí. Consigo apenas avaliar “Long, Long Time” como um episódio de série de “The Last of Us” e, em termos de direção, atuação e roteiro, ELE É PERFEITO! Há muita verdade e muita intensidade na construção do romance de Bill e Frank, que têm a sorte de se encontrarem no que parece a pior das condições possíveis, e construírem juntos uma vidinha simples, mas feliz, que eles podem compartilhar diariamente. É uma construção de personagem fantástica, humana e emocionante.

Três anos depois, em 2010, Bill e Frank estão em um relacionamento sólido – provavelmente mais sólido que qualquer outro relacionamento de três anos, tendo em vista que eles vivem sozinhos em uma cidade só deles, sempre com a companhia apenas um do outro. E o fato de eles discordarem e discutirem torna tudo ainda mais real… eles não vão viver em um mar de rosas eterno, o que não quer dizer que eles não se amam profundamente, mesmo quando discordam. Bill quer manter-se recluso, porque gosta da vida e da segurança que têm ali, mas Frank quer “receber amigos em casa”, por isso fala sobre alguém com quem tem conversado pelo rádio: e é assim que Joel e Tess são convidados para uma refeição com a arma de Bill apontada para eles.

Sempre desconfiadíssimo. E eu o entendo tanto!

A parceria com Joel e Tess funciona bem, e ajuda Bill e Frank a estenderem a estadia deles em sua “cidade particular”, porque eles podem fazer acordos que garantam remédios, materiais novos para reforçar a segurança da cerca e a eficácia das armadilhas, e sementes – uma das cenas mais lindas do episódio é aquela na qual Frank mostra o pé de morango que ele plantou e que está dando frutos, e ele e Bill comem um morango pela primeira vez em sabe-se lá quantos anos… pelo menos uns 10. Em 2013, o que Joel avisou que eventualmente aconteceria acontece, e saqueadores tentam invadir o refúgio de Bill e Frank, e o momento em que Bill é baleado e Frank o leva para dentro de casa é tristíssimo… parecia cedo na linha temporal, mas eu achei que o perderia.

Felizmente, não é o caso. Ainda. Bill e Frank tiveram mais 10 anos juntos. Quando os reencontramos, em 2023, Frank está muito doente, e aqui temos as cenas mais fortes e melancólicas do episódio, especialmente quando Frank decide que aquele vai ser o seu último dia, e pede que Bill lhe dê “mais um último dia bom”. Em clima triste de despedida sempre regado a amor, os dois tomam café juntos, saem para “comprar” roupas na boutique, “se casam” e, durante o jantar, Frank toma uma taça de vinho cheia de seus remédios esmagados… mas Bill também o faz, depois de dizer a Frank que não é “o suicídio dramático no final da peça”, porque ele sabe que está no fim de sua vida também, e Frank era quem ainda lhe dava propósito. E, sinceramente, eu o entendi perfeitamente.

É um final TRISTÍSSIMO, mas verdadeiro, romântico e belo, no fim das contas. Depois de viverem uma vida juntos durante aproximadamente 16 anos, Frank e Bill se despedem dela juntos, quando chega a hora. Não consumidos pela doença, não atacados por infectados, não de coração partido porque ficaram sozinhos… mas porque escolheram que era o momento. É pouco depois disso que Joel e Ellie chegam na cidade e na casa de Bill e Frank, e é tão estranho ver aquela casa vazia, sabendo que os corpos dos dois estão no andar de cima, em um quarto com a porta fechada e a janela aberta. E a leitura da carta que Bill deixou para Joel, sabendo que provavelmente seria ele a encontrá-la, é de partir o coração, porque toca na ferida da morte recente de Tess.

O episódio é BELÍSSIMO, do início ao fim. A construção da história de Bill e Frank é excelente, e confere contexto e realidade a um personagem que, sem esse episódio, poderia ser apenas um “mecanismo do roteiro” para que Joel conseguisse um carro para ir em busca do irmão… mas não, “The Last of Us” tornou isso real, palpável, humano, da melhor maneira possível. Gostei muito, também, de como a relação de Joel e Ellie está se construindo lentamente, e de como ambos parecem um pouco mais leves ao fim do episódio, começando a se sentir mais à vontade um com o outro, e isso é feito de maneira orgânica e com tempo, como deve ser: é necessário que acreditemos nos personagens e nos importemos com eles para que qualquer boa história seja contada!

 

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