Pantera Negra: Wakanda Para Sempre (Black Panther: Wakanda Forever, 2022)
“Wakanda forever!”
“Pantera Negra: Wakanda Para Sempre”
era um grande desafio para os Estúdios Marvel. Embora eu acredite que a briga
por Vibranium e a primeira aparição do Império Talokan e, consequentemente, de
Namor já estivesse programada para dar sequência ao Universo Cinematográfico
Marvel, o roteiro precisou passar por adaptações consideráveis com a morte de
Chadwick Boseman, que interpretava o Rei T’Challa/Pantera Negra, com uma
passagem inesperada do manto e título do personagem a outra pessoa, de uma
maneira que fosse significativa e fizesse sentido. No fim, acredito que “Wakanda Para Sempre” conseguiu o que
queria, entregando um bom filme, reestabelecendo algumas coisas, e ainda sendo
uma linda homenagem a Chadwick.
As primeiras
cenas do filme trazem Shuri tentando fazer de tudo para salvar a vida do Rei T’Challa, seu irmão, mas sem sucesso: o Pantera Negra está mesmo morto. Isso
nos conduz a uma sequência emocionante que transcende o filme em si e, em
parte, deixa de ser apenas fictício para ser uma homenagem real a Chadwick
Boseman, que funciona muito bem e, consequentemente, se torna muito
emocionante. É uma cerimônia bonita, simbólica e uma despedida com lágrimas nos
olhos de personagens que perderam o seu Rei, e de atores que perderam um
companheiro de trabalho e um amigo. E o filme consegue transformar a morte do
Rei T’Challa no pontapé inicial da trama, bem como na motivação principal de
sua nova protagonista.
Com a morte
do Rei T’Challa – e do lendário protetor Pantera Negra –, Ramonda reassume o
trono de Wakanda em um momento complicado, quando outras nações julgam Wakanda
como enfraquecida e tentam se
aproveitar dessa suposta “fraqueza” para conseguir Vibranium e, felizmente, eu
adoro como Ramonda deixa claro que Wakanda permanece forte… e eles não vão
compartilhar seu Vibranium, o metal mais poderoso da Terra (o que os Estados
Unidos fariam se a posse do Vibranium fosse deles? É aterroziante). E quando
tentam roubá-lo à força, as Dora Milaje (depois de ter assistido “A Mulher Rei”, nunca mais olharei para
elas sem pensar nas Agojie) mostram com todo seu poder que Wakanda não está
enfraquecida como eles pensam.
Então, os
Estados Unidos, desesperados para militarizar
Vibranium, decide tentar encontrar o metal em outro lugar – o que não parece
preocupar Wakanda, já que eles têm a certeza de que não existe Vibranium em nenhum outro lugar… mas eles estão errados.
A busca por Vibranium acaba dando resultado e incomodando um reino subaquático
do qual Wakanda nem tinha conhecimento… mas Ramonda e Shuri ficam sabendo sobre
Talokan quando o líder do reino, Namor, aparece de maneira ameaçadora fazendo
uma exigência: que eles entreguem a ele a
cientista americana que construiu o detector de Vibranium. Caso se recusem
a ajudar, eles vão atacar Wakanda, porque Namor considera Wakanda responsável pela busca de Vibranium: eles que revelaram esse segredo ao mundo.
E, ao que
tudo indica, Wakanda pode ter mesmo problemas com Talokan, caso eles decidam
declarar guerra contra Wakanda… não que Wakanda não seja extremamente poderosa,
mas Namor realmente parece ter
entrado no país sem dificuldade, apesar de toda a segurança supostamente
“impenetrável” – Namor não é alguém a ser simplesmente ignorado. Então, Okoye é enviada para os Estados Unidos em busca da
cientista responsável pela tecnologia que busca Vibranium, e Shuri a acompanha
e, para a surpresa de ambas, elas se deparam com uma estudante… é apenas uma adolescente razoavelmente inocente
que quis demonstrar quanto era inteligente, e Wakanda não pode simplesmente
entregá-la para o Reino de Talokan sem mais nem menos.
Ela precisa ser protegida.
Gosto muito
de como “Wakanda Para Sempre”
constrói seus personagens e as relações entre eles. Quando o primeiro “Pantera Negra” saiu, em 2018, ele foi
um filme importantíssimo em questões de representatividade, por trazer o
primeiro protagonista negro em filme solo do Universo Cinematográfico Marvel e,
agora, “Wakanda Para Sempre” também
é um filme protagonizado por mulheres. É um grupo forte e interessante de se
acompanhar (e talvez Shuri seja a menos
interessante de todos elas): amo Ramonda, amo Okoye, e acho que Riri foi uma
excelente adição ao elenco, porque ela é inteligente, mas alheia à
grandiosidade e ao avanço tecnológico de Wakanda, então ela funciona tanto como
avatar do espectador, quanto como uma espécie de alívio cômico sutil, que
funciona bem.
Passei
grande parte do filme ansioso para
conhecer Talokan – e confesso que foi com um pouco de decepção que cheguei a essa parte. Talvez porque acabamos de
assistir a “Avatar: O Caminho da Água”,
com seus visuais impecáveis, mas eu tenho certa resistência com as sequências
excessivamente escuras (embora eu
saiba que o fundo do oceano é assim!), e foi essa a sensação o tempo todo
enquanto estávamos em Talokan… ainda assim, eles ganham uma história de origem
interessante que remonta a K'uk'ulkan e funciona, em termos de roteiro, como um
antecedente importante: eles são um povo que sofreu por causa da colonização e,
portanto, sabem o que pode acontecer se continuarem tentando extrair Vibranium
de Talokan e de Wakanda.
Gosto do
gancho feito com a realidade (os flashbacks
são interessantes), e acho que isso constrói para Namor uma personalidade mais realista – ele é, em partes, o “vilão”
do filme… ou não. Parte de mim o vê mais como um anti-herói, porque os verdadeiros vilões são (como sempre são!) os
colonizadores, os exploradores em busca de um metal precioso. A motivação de
Namor contra Wakanda é pertinente
(certa ou não, pertinente), porque ele acha que a revelação de T’Challa colocou
seus povos em perigo, e a sua ira contra
os exploradores é devidamente motivada… o que o coloca em combate com Wakanda é
o fato de que eles não veem as coisas da
mesma maneira – eles não têm o mesmo plano de ação para como vão “resolver esse
problema”.
E é isso que
faz com que Namor tenha atitudes que o aproximam da vilania… quando ele começa
a atacar Wakanda, por exemplo. É desesperador (e um pouco irônico) pensar que
ele está causando uma destruição que temeu que os Estados Unidos fossem causar
em seu reino, e a primeira invasão a Wakanda traz uma das cenas mais
angustiantes e injustas: a morte da
Rainha Ramonda. Já perdemos T’Challa… perder a Rainha Ramonda é um golpe
duro demais, mas é necessário para o roteiro e para o desenvolvimento de
personagem de Shuri, que finalmente é obrigada
a deixar de lado a sua vontade quase irracional de “queimar o mundo” e
canalizar a sua raiva e a sua frustração. Ela não é mais uma criança, e agora
Wakanda precisa dela como líder.
Talvez, como
protetora.
Como a nova
Pantera Negra.
Assim, o
último ato do filme é uma jornada de Shuri assumindo o manto da Pantera Negra –
e decidindo que tipo de Pantera Negra ela quer ser. Quando consegue sintetizar
a erva que permite o acesso ao Plano Ancestral, Shuri se surpreende ao não ver
o irmão, mas Killmonger. De um jeito ou de outro, sua viagem ao outro plano lhe
confere os poderes necessários para que ela se torne a nova protetora de
Wakanda, e ela também é confrontada com uma escolha: se ela quer ser nobre como
T’Challa era ou se ela quer vingança. Naquele
momento, e quando Shuri coloca o uniforme de Pantera Negra pela primeira vez
(visualmente incrível, por sinal), ela quer vingança… ela quer declarar
guerra contra Talokan e mais do que isso: ela
quer a morte de Namor.
Afinal de
contas, ele é o responsável pela morte de sua mãe.
Infelizmente,
parece que ainda falta em Shuri algo para que ela tenha a força da Pantera
Negra, uma falta que eu espero que seja suprida até que ela protagonize um novo
filme, para que possa sustentar o peso que o nome do personagem carrega. Em
termos de roteiro, no entanto, com a morte de Chadwick/T’Challa, Shuri era a
personagem ideal a assumir o manto, e ela ganha um arco interessante na reta
final do filme, motivada pela raiva, pelo luto e pelo desejo de vingança, ela
tem a vida de Namor nas suas mãos, mas acaba voltando atrás e escolhendo
deixá-lo vivo, propondo uma espécie de aliança entre Wakanda e Talokan, em uma
atitude nobre como a que T’Challa teria em seu lugar. E, ali, fica claro que
ela pode carregar esse título e honrar a memória do irmão.
Curioso para
ver Shuri como Pantera Negra em outros filmes da Marvel.
Para reviews de outros FILMES, clique aqui.
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