Eternal Yesterday – Final Episode
“Como eu supero essa tristeza?”
Sinto que é
uma responsabilidade tão grande vir
falar sobre o último episódio de “Eternal
Yesterday”, e sobre a série como um todo. Esse é um dos melhores BLs que eu
já assisti, tratando com uma beleza melancólica e quase poética de assuntos
como o amor, a perda e o luto. Eu não esperava um final diferente… talvez
tivesse sido “legal” ter tido uma solução milagrosa que desse a Koichi e
Micchan um final feliz, mas, se esse fosse o caso, o impacto da trama de “Eternal Yesterday” estaria perdido: só
se pode falar de perda e luto quando de fato existe uma perda. É uma dor
pungente com a qual Micchan terá que lidar agora, e que provavelmente vai
acompanhá-lo para o resto da vida, mas com a qual eventualmente ele terá que
aprender a conviver e seguir em frente.
O episódio
começa no último momento de Micchan e
Koichi juntos, quando eles retornam para casa do hospital onde a irmãzinha
de Koichi acabou de nascer, e estão determinados a fazer amor um com o outro pela primeira e única vez. É uma cena
muito bonita que mistura facetas complementares de um sentimento muito maior
que é o amor, e me partiu o coração ver o Micchan de costas para Koichi,
evitando olhar para ele porque não consegue lidar com o fato de que provavelmente vai perdê-lo em breve, e
ver o Koichi tentar fingir que está tudo bem antes de sucumbir ao sofrimento de
toda aquela situação, porque ele ama Micchan com todo o seu coração, ele se
sente feliz ao seu lado, e parece injusto demais
que eles tenham que se separar daquela maneira.
A dor de
Koichi saindo em lágrimas quando ele abraça Micchan foi palpável, e a série
surpreende ao conseguir conduzir daquele momento de dor dilacerante (embora a
sinceridade daqueles sentimentos expressos em palavras e lágrimas tenha,
provavelmente, estreitado a relação e a intimidade entre eles) ao romance
necessário para que a primeira noite deles seja significativa e seja mágica. Há
muita força em toda a condução da cena, que funciona tanto como o momento em
que eles selam esse amor, como o momento em que eles se despedem porque, depois daquela noite, Koichi não poderá
permanecer nesse plano – chegou a hora de ele seguir em frente, como infelizmente ele sempre soube que chegaria.
E, naquela noite, eles se beijam e “se tornam um”.
Na manhã
seguinte, ganhamos uma cena emocionante e surpreendente de Micchan com o pai,
que comenta sobre Koichi ter passado a noite e, quando Micchan diz que “ele já
foi embora”, o pai pergunta se “a família dele ainda pode vê-lo”. Ele entende
tudo o que está acontecendo com o filho porque viveu a mesma coisa quando a mãe de Micchan faleceu: ela também
“continuou por aqui” por um tempo, como um corpo com vida, até que precisasse
ir embora… e foi nesse “tempo extra” que ela ganhou que Micchan a viu na porta
do seu quarto, sorrindo afetuosamente para ele pela primeira vez. Então, Micchan se abre o suficiente com o pai
para perguntar “como superar essa tristeza” (a frase mais triste do episódio),
mas tudo o que o pai diz é que ele não
pode se forçar a isso…
Então,
Micchan chora. Deixa que o sofrimento
tome conta dele, é necessário.
É a primeira fase do luto… e ele
precisará enfrentá-lo.
O episódio
ainda nos leva cinco anos para o futuro,
em uma sequência lindíssima protagonizada por Micchan, na qual ele relembra
Koichi e nos explica que o seu corpo foi encontrado no local do acidente e ninguém além dele se lembra da época em que
ele “viveu como um morto”. Micchan está “seguindo em frente”: estudando
medicina, conversando ocasionalmente com a família de Koichi, acampando sozinho
no lugar onde os sentimentos deles se concretizaram e eles se beijaram pela
primeira vez… ele ainda está triste pela morte de Koichi, e essa é a beleza
melancólica da história de “Eternal
Yesterday”: a verdade é que Micchan perdeu a pessoa que ele mais amava na
vida, e ele nunca vai deixar de se sentir
triste, mas ele precisa viver com
essa tristeza.
É assim que
acontece quando perdemos alguém que amamos: as memórias ficam lá, o sentimento
permanece intacto, a tristeza provavelmente nunca nos abandona, mas é algo com
o que aprendemos a conviver, porque não
existe outra opção… é algo muito complexo, e “Eternal Yesterday” trouxe essa proposta de maneira humana e
cuidadosa, construindo uma trama bela, melancólica e verdadeira. A narração
final de Micchan, naquela cena linda sentado em frente ao mar, com a
música-tema da série tocando, fala sobre como “ele ainda não encontrou alguém
que ele amasse tanto quanto ama Koichi” (o que não quer dizer que ele nunca
encontrará), e que “vai amá-lo até o último dia de sua vida” – porque essa é a
promessa que fizera a ele.
Ainda temos
uma última surpresa breve nos minutos finais de “Eternal Yesterday”, que é um retorno ao momento em que Micchan e
Koichi viram um ao outro pela primeira
vez, mas dessa vez do ponto de vista
de Koichi… é emocionante voltar a ouvir sua voz, tomando conta da narração
dessa vez, e revisitar alguns momentos-chave do casal enquanto Koichi fala
sobre o amor e as memórias, e se despede de Micchan com um beijo, partindo antes que ele acordasse, depois da
última noite juntos. Em aproximadamente 5 minutos, estamos com Koichi desde
o primeiro momento em que ele viu Micchan e imediatamente
se apaixonou, até o último momento em que esteve fisicamente com ele, antes
de partir desse mundo de maneira definitiva.
Belíssimo
BL. Recomendadíssimo.
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