Meu Amigo Lutcha (Chupa, 2023)
Chupa-cabra.
Sabe como “Meu Monstro de Estimação” trouxe o
Monstro do Lago Ness como protagonista de uma aventura digna da Sessão da
Tarde? “Meu Amigo Lutcha”, o novo
filme de fantasia da Netflix, tem uma proposta similar adaptando a temida lenda
do chupa-cabra (daí o título “Chupa”, no original, que é como as
crianças passam a chamar a criaturinha que descobrem na fazenda do avô). Embora
leve e divertido, não é um grande filme memorável, talvez porque o roteiro
tenha tentado incluir temas como o luto, a doença mental e a sensação de não
pertencimento de uma criança filha de imigrantes mexicanos nos Estados Unidos,
mas nenhum tema foi realmente aprofundado pelo filme, que acaba parecendo
bastante superficial nessas
temáticas.
Minha
crítica não tem a ver com a presença ou não de discussões sérias como essa.
Está tudo bem um filme escolher ser simples e trazer uma aventura
despretensiosa sem querer que o público o termine questionando a própria vida
ou qualquer coisa assim. Acontece que, a partir do momento em que esses temas
são levantados (a introdução do filme é toda sobre o fato de Alex ter vergonha de suas origens), cria-se uma
expectativa que não é necessariamente atendida. Ou talvez não em primeiro plano, porque existe alguma
conexão entre a história de Alex, que perdera o pai recentemente e, agora,
reencontra a família no México, e Lutcha, a criaturinha fofa que também se
separou da família e precisa reencontrá-la. Então,
o filme funciona.
Alex é um
garoto de 13 anos que sofre bullying
na escola por ser “diferente”, e tenta se afastar do que “o torna mexicano”,
como a música, a comida e a língua, porque acredita que isso talvez o tornaria
mais parecido com os colegas com quem frequenta a escola – mas quando ele vai
passar uns dias com o avô no México durante as férias, ele se conecta com suas
origens. Gosto da relação de Alex com o avô, Chava, que está sofrendo com
algumas perdas de memória que tornam cada vez mais perigoso que ele more
sozinho na fazenda, e com os primos: o pequeno e agitado Memo, que adora luta
livre e não fala inglês, e a inteligente Luna, que é uma ponte entre as duas
realidades/identidades de Alex, de alguma maneira. Eles formam um trio bem carismático.
O charme
principal do filme, no entanto, é o “Chupa” – não é o melhor CGI do mundo,
tampouco o pior, e conseguimos nos afeiçoar à criaturinha fofa de asas azuis e
poderes de cura, que desmistifica a imagem assustadora que a cultura popular criou
para o chupa-cabra… quem viveu os anos 1990 se lembra do “pavor” que se
espalhou em várias matérias na televisão (como é retratado, também, no filme)
sobre a ideia de um “monstro” que estava atacando cabras, e eu gosto muito de
como o filme usou isso para ambientar sua história nessa época. Não fica claro em que ano se passa o filme, mas sabemos
que estamos em algum lugar dos anos 1990, graças às televisões, aos penteados,
ao jogo de Alex e, é claro, às camisetas dos personagens, estampadas com
elementos clássicos da época.
Como uma
criança dos anos 1990, eu sinto que eu
teria todo o guarda-roupa desses personagens, que trazem personagens como
as Tartarugas Ninja, o Pac-Man… e destaque, também, para o pôster do primeiro “Jurassic Park” no quarto. Alex é o
primeiro dos primos a encontrar a criaturinha, e embora Memo e Luna também se
envolvam na aventura para protegê-lo, é com Alex que Chupa/Lutcha tem as
melhores cenas, como quando Alex se aproxima dele colocando para tocar uma
caixinha de música que faz com que ele se lembre do pai e, naquele momento,
eles compartilham uma dor similar, pois os dois foram separados de sua família,
de alguma maneira. Assim, Chupa passa a confiar em Alex – o que é
importantíssimo para a reta final do filme.
Para
proteger Chupa e, quem sabe, devolvê-lo para a sua família, Alex, Memo e Luna
recebem a ajuda do avô, Chava, que foi quem encontrou a criaturinha, para
começo de conversa, e precisam enfrentar pessoas gananciosas que estão atrás de
explorar a criatura mitológica com supostos poderes de cura – e é divertido
como Alex consegue trazer o avô para a
narrativa mesmo quando ele não parece se lembrar bem de quem é ou de como
tem que proteger Chupa, e Chava retorna bravamente aos seus tempos de glória
como lutador de luta livre, o Relâmpago Azul… bem, ele tinha prometido mostrar
àquele cara o seu golpe registrado se ele continuasse incomodando, não tinha?
Confesso que fiquei mesmo esperando pelo momento em que ele faria isso.
Tenho alguns
problemas com o terceiro ato do filme. Acho que existem alguns exageros,
algumas situações forçadas para enrolar, e os personagens me parecem um pouco
engessados e sem iniciativa em algum momento. De todo modo, vou focar no que eu
gostei: a parte mais sentimental que envolve famílias e relações. Primeiro,
Chupa retorna para salvar Alex de uma queda fatal, assim como Alex esteve
tentando salvá-lo o filme todo, e isso o coloca em perigo; depois, a mãe de
Chupa retorna com mais dois “chupa-cabras”, para resgatar o filho, e é uma
grande cena com a participação de Chava. No fim, Alex “reencontrou” a família,
assim como Chupa, que finalmente está em segurança, e embora os caminhos se
separem, eles serão bons amigos para toda
a vida…
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