[Season Finale] Cidade Invisível 2x05 – Marangatu, a Morada do Sagrado
Natureza.
Apesar de
parecer um pouco corrido, talvez, pelo número reduzido de episódios, a segunda
temporada de “Cidade Invisível” tem
uma mensagem muito clara e honesta sobre a relação da humanidade com a
natureza, e essa batalha constante dos povos originários contra a ganância que
quer avançar a todo custo e não respeita a natureza… a segunda temporada
representou uma mudança na maneira de
contar história e no cenário, jogando a trama para o Pará, o que eu acho que é
mais uma maneira incrível de valorizar
a cultura e a história brasileira – e, assim, pudemos conhecer figuras do
folclore brasileiro que, às vezes, são menos conhecidos pela maioria das
pessoas de outras regiões, como a Matinta Perê, e os gêmeos Norato e Maria
Caninana.
Uma boa
parte desse episódio final é usado para explorar a história de Norato e Maria
Caninana – especialmente a segunda, que conhecemos durante toda a temporada
como “Débora”. Se outros episódios se dedicaram a explorar o Lobisomem, a
Mula-Sem-Cabeça e um pouco da Matinta Perê e do Zaori, aqui ficamos sabendo da
história dos gêmeos que estavam destinados a proteger o Marangatu, e toda a
trajetória de Débora/Maria Caninana ganha um
significado completamente novo quando entendemos quem ela é e,
principalmente, quando ela mesma se lembra de sua história… levada de volta para casa, Maria Caninana começa a se
lembrar de sua família, de seu irmão, de sua missão, de como foi tirada de sua
casa e de sua família, e reassume a sua identidade.
E, ao
reassumi-la, vemos Débora oficialmente se transformar novamente em Maria
Caninana, e entendemos que ela era apenas mais uma entidade vítima da Família
Castro, que está há anos explorando as terras em garimpos ilegais, e chegaram
uma vez, com a ajuda do Zaori, até Marangatu – foi então que Norato e Maria
Caninana foram incumbidos da missão de proteger esse local sagrado e impedir
que mais alguém entrasse nele, e é por isso que ela foi roubada de sua família, para ser usada como uma chave para entrar
novamente lá… esse tempo todo, não era ouro que Maria Caninana estava buscando,
mas uma maneira de voltar para a sua casa e para a sua vida, o que é muito
bacana e acaba tornando essa uma das melhores personagens da temporada.
“Marangatu, a Morada do Sagrado” é a
junção das narrativas complementares que se unem aqui, na proteção do
Marangatu. Entendemos, por exemplo, qual é a importância e a missão de Luna
nessa história toda, que está ligada à Maria Caninana, enquanto Eric precisa
enfrentar as consequências de suas atitudes que colocaram todos em risco –
mesmo que, como ele mesmo diz ao pedir perdão, ele tenha feito tudo o que fez
para proteger a sua família… de todo jeito, no entanto, Eric é julgado por seus
crimes por ter pensado excessivamente
em si mesmo e agido de maneira egoísta desde o começo, e agora ele parece
prestes a explodir com todos os
poderes que absorveu ao longo dessa temporada: de Bento, o Menino-Lobo; de
Lazo, o Zaori; de Maria Caninana…
E, por fim,
da própria Cuca.
Toda a
sequência de Eric enfrentando suas próprias atitudes e ganhando respostas é
bastante esclarecedora, e muito interessante de se acompanhar, porque podemos
vê-lo percorrendo tramas que tem ou não a ver com ele, enquanto ele visita
memórias que permitem que ele entenda qual é a história por trás de tudo o que
está acontecendo… e, de certa maneira, é a Cuca quem o ajuda a ver e entender
isso tudo, quando ela toca o seu peito e “permite” que ele seja levado por
Matinta Perê através dessa jornada. A cena da morte de Inês/Cuca é bastante
triste, até porque essa é uma personagem que nos acompanhou desde o início de “Cidade Invisível” e que, ao lado de
Eric, é um dos grandes símbolos da produção… mas é uma cena emocionante.
Quando Eric
reencontra a filha, no caminho para Marangatu, Luna o acusa de ter matado Inês,
e ele pede desculpas porque não sabia o
que estava fazendo, mas, agora, os dois precisam entrar na água sagrada,
como no sonho de Luna, e permitir que o que quer que esteja para acontecer
aconteça – e é uma sequência e tanto. Aqui, vemos Luna “abrir mão do pai”, que
embora tenha o coração bom, está além de poder ser salvo, e quando as águas o
levam, os poderes que ele absorvera antes são liberados novamente na floresta e
no universo, retornando às entidades de quem ele os havia retirado, o que quer
dizer que tudo está voltando aos eixos.
Antes de despertar e de sair da água ela mesma, Luna tem um momento breve no
qual vê o pai junto à mãe.
Assim, a
trama dessa temporada de “Cidade
Invisível” chega ao fim, com as grandes ameaças contidas por ora, poderes
devolvidos aos seus legítimos donos, e Marangatu, a Morada do Sagrado,
devidamente protegida por Maria Caninana e, de certa maneira, Norato, que continua
por ali, de um jeito ou de outro… também gosto de como “Cidade Invisível” completa a sua parte mais lúdica voltada ao
folclore brasileiro com aquela sequência incrível do tribunal, na qual a
Família Castro é FINALMENTE condenada por seus anos de exploração – é como a
mensagem do roteiro diz: a prisão deles não vai reparar o dano que eles
causaram, tampouco trazer de volta as vidas que foram tiradas, mas é uma
maneira de mostrar que novos Castros não terão chance ali…
E que a justiça ainda pode ser feita.
Não sei qual
é o futuro de “Cidade Invisível” e,
sinceramente, eu acho que não haverá uma renovação, até porque foram mais de
dois anos até o lançamento dessa temporada, com apenas cinco episódios, e
embora haja muita história a ser contada (o novo cenário é interessante, a
mensagem em relação à natureza e a representatividade dos povos originários são
bem-vindas, e o folclore brasileiro é riquíssimo!), eu não sei se a série
continuaria sem seus protagonistas até então: Marco Pigossi e Alessandra Negrini.
De todo modo, o Saci está de volta na última cena do episódio, assim como uma
borboleta que simboliza a Cuca, o que quer dizer que essas “mortes” podem não
ter sido realmente definitivas… o caminho está sempre aberto para um retorno.
E, se
acontecer, estarei aqui!
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