Doctor Who (1ª Temporada, 1964) – Arco 007: The Sensorites, Parte 1

Futuro.

Escrito por Peter R. Newman e dirigido por Mervyn Pinfield e Frank Cox, “The Sensorites” é o sétimo arco da primeira temporada de “Doctor Who”, e foi exibido em seis partes entre os dias 20 de junho e 01 de agosto de 1964. Esse arco é muito especial tanto por trazer uma espécie alienígena que, atualmente, associamos aos Oods (personagens queridos de “New Who”) devido a algumas semelhanças, quanto por se passar no futuro e, pela primeira vez, trazer personagens humanos que não são do mesmo tempo de Barbara e Ian ou do passado deles (como foi com os homens das cavernas em “An Unearthly Child”, os personagens de “Marco Polo” ou a civilização asteca no último arco, “The Aztecs”) e, portanto, ganhamos alguma informação sobre o futuro da humanidade.

A sequência de introdução de “Strangers in Space”, a primeira parte da história, é uma das minhas favoritas nessa temporada de “Doctor Who”, porque traz Doctor, Susan, Barbara e Ian conversando sobre como eles mudaram desde que começaram as viagens, há algum tempo. É um diálogo rápido e prazeroso que fala sobre as aventuras que eles viveram, e como eles amadureceram desde então – e quase podemos sentir que Barbara e Ian já não estão tão desesperados para voltar para casa quanto estavam quando isso tudo começou… o clima que se construiu na TARDIS (e fora dela) entre o Doctor e seus companions é muito bom, e talvez seja muito importante para a próxima história, quando eles chegam a uma nave presa a um planeta no futuro.

Começamos essa história com um toque de mistério fascinante: o Doctor e os demais encontram Maitland e Carol Richmond, e acreditam que eles estão mortos, mas logo descobrem que não: eles são seres humanos do Século XXVIII (quando não existe mais Londres há uns 400 anos, segundo eles), e estão misteriosamente presos a um planeta conhecido como Sense Sphere, por uma raça alienígena supostamente hostil e perigosa, mas que, por algum motivo, não os matou… eles os mantêm vivos e os alimentam, sem atacá-los, mas parecem controlar suas mentes de uma maneira que parece assustadora… Maitland e Carol avisam os novos viajantes sobre como eles devem partir agora, antes que fiquem presos também, mas já é tarde demais: a fechadura da TARDIS foi roubada.

Esse é um recurso muito utilizado na primeira temporada de “Doctor Who”: o Doctor preso fora da TARDIS ou longe dela por diferentes motivos… agora, eles precisarão conseguir a fechadura da TARDIS de volta e, no meio do caminho, tentarão ajudar Maitland, Carol e, curiosamente, os próprios Sensorites. Parece cruel essa coisa de “controlar a mente”, e os seres humanos, congelados pelo medo, ficam vulneráveis às sugestões dos Sensorites, que “tomam decisões por eles”, e Barbara e Susan encontram John, alguém que foi praticamente enlouquecido depois de perder o controle sobre sua própria mente, mas, mesmo com todas essas coisas estranhas, talvez os Sensorites não sejam de todo mal, como somos levados a acreditar em um primeiro momento.

No segundo episódio da história, “The Unwilling Warriors”, Susan ajuda a salvar John do controle dos Sensorites, colocando sua própria mente no meio do caminho (eventualmente, isso gera uma briga entre Susan e o Doctor, porque Susan está convencida de que está crescendo e não quer que o avô “a trate como criança”), e eles chegam à conclusão de que John descobrira algo que os Sensorites querem manter em segredo… por isso, eles o silenciaram e prenderam toda a tripulação da nave visitante. E o Doctor desvenda o mistério, descobrindo que Sense Sphere é um planeta rico em molibdênio e, portanto, uma verdadeira mina de ouro. Mas e se, então, os Sensorites só estiverem tentando impedir que os humanos explorem e destruam o seu planeta?

Gosto dessa subversão de expectativa, porque arcos como “The Daleks” e “The Keys of Marinus” nos levaram a desconfiar dessas raças alienígenas, mas o encontro com os Sensorites é diferente, e a própria Barbara comenta como é estranho que eles não ataquem Ian, porque claramente não são agressivos, e Ian até comenta que “eles estavam com tanto medo dele quanto ele deles”. Entendemos, então, que a riqueza do molibdênio já causou aflição e problemas no passado, graças aos humanos, e eles não querem que isso volte a acontecer – e é bem a cara dos humanos explorar e destruir por qualquer coisa, não? Quantas histórias na ficção já foram contadas a partir disso?! A maior bilheteria de todos os tempos, “Avatar”, é justamente sobre isso.

Confesso que eu compreendo os Sensorites e fico com pena deles, porque eles estão com medo- e garantem que não querem fazer mal a nenhum deles, mas tampouco podem confiar em Ian quando ele diz que “só quer conversar”, porque visitantes de outros planetas sempre dizem que “só querem conversar”, mas tudo o que eles querem é destruir… eles passaram por isso. “Hidden Danger”, o terceiro episódio da história, explora mais esse passado entre Sensorites e humanos, e nos conta uma história alarmante que aconteceu há 5 anos, sobre a invasão humana em busca de molibdênio, que acabou com uma explosão na atmosfera do planeta e, eventualmente, uma doença que acometeu Sensorites e, agora, os está matando… e não há nada que eles possam fazer.

Talvez a única esperança seja justamente o Doctor e seus companions

Afinal de contas, eles parecem inteligentes.

Assim, o Doctor e os demais são levados para um encontro com o Primeiro Ancião, para negociarem uma ajuda em troca da fechadura da TARDIS de volta… é interessante a representação dos Sensorites, e a ideia de que, assim como os humanos, eles não são todos bons nem todos ruins – enquanto o Primeiro Ancião lhes dá um voto de confiança e, mais do que isso, espera que eles realmente possam ajudar, o Administrador da Cidade duvida veementemente da bondade de qualquer humano, e está preparado para atacar e matar a qualquer momento… e o teria feito, se não tivesse sido impedido por uma conversa civilizada dos humanos (e gallifreyanos) com o Primeiro Ancião, na qual eles parecem estar mesmo se entendendo.

Gosto muito da conversa em que o Primeiro Ancião conta sobre como John era “como os primeiros humanos”, e como sua mente se iluminou com a descoberta do molibdênio, e eles puderam, então, ver as imagens que estavam sendo conjuradas em sua mente: naves vindo a Sense Sphere para explorar o planeta e levar o minério valioso de volta para a Terra… seria o fim deles e, por isso, eles não tiveram alternativa a não ser prendê-lo – como o Primeiro Ancião diz sabiamente, eles não fariam o mesmo se seres alienígenas chegassem ao seu planeta para roubar? Conforme a conversa progride, no entanto, algo desesperador acontece, e Ian é afetado pela mesma doença que tem matado Sensorites desde a última visita humana… ser companion do Doctor é uma jornada cheia de perigos mesmo.

Fascinante, sim. Mas perigosa.

 

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