Elementos (Elemental, 2023)

Romance na Pixar!

Os Estúdios Pixar são os responsáveis por algumas das melhores animações já feitas, e colecionam produções criativas, inteligentes e memoráveis, como “Viva: A Vida é uma Festa”, “Divertida Mente” e “Toy Story 3”. O grande sucesso do estúdio, no entanto, e a grande sequência de imensos sucessos que conquistaram crítica e público também vieram como um “peso”, com a audiência jogando a expectativa cada vez mais alto, de uma maneira até injusta e autossabotadora, que anda impedindo algumas pessoas de apreciarem a beleza e a diversão de produções mais recentes como “Red: Crescer é uma Fera”, “Lightyear” e, agora, “Elementos”. O que quero dizer com isso? “Elementos” é um filme MUITO LEGAL e as pessoas precisam aprender a se divertir novamente!

“Elementos” sofreu de uma sabotagem ferrenha na época do seu lançamento, resultando em uma bilheteria pouco expressiva e comentários vagos de pessoas que nem tinham se dado ao trabalho de assistir ao filme… a chegada ao streaming, no entanto, pode estar começando a mudar esse cenário porque as pessoas estão se dando a chance de assistir a “Elementos” e perceber COMO ELE É UM BOM FILME! Talvez não figure entre os meus favoritos da Pixar, é verdade, mas o filme é divertido e carismático, tem excelentes personagens e um visual muito bonito… o filme brinca com a comédia e com a emoção, como característico da Pixar, e é uma verdadeira comédia romântica gostosinha, com direito, também, a um pano de fundo sobre a realidade de imigrantes.

A família de Faísca Luz, a protagonista de “Elementos”, chegou à Cidade Elemento há muito tempo, depois de uma tempestade ter destruído o seu país… agora, eles vivem marginalizados em um bairro só de fogo na periferia de uma grande cidade que abriga todos os outros elementos (a água, o ar e a terra), mas que, como Faísca comenta, “não foi pensada para recebê-los”. Faísca cresceu sabendo que um dia herdaria a loja da família, que é “o sonho do pai” e se recusa a sair de Firetown – apenas algo muito grandioso poderia tirá-la dali. E é então que a sua vida vira de ponta-cabeça quando ela explode de raiva, estoura alguns canos e um “garoto de água” que trabalha para a prefeitura acaba sendo sugado e indo parar bem ali, no porão da Loja do Fogo.

O filme tem uma abordagem bem lúdica e bem acessível de toda a questão da imigração e como isso se traduz na realidade das famílias imigrantes (e no preconceito que os outros têm com eles e na maneira defensiva como eles se fecham em uma comunidade só deles, protetora de sua cultura), e a jornada de Faísca a leva a conhecer um mundo que, de certa maneira, ela sempre temeu… ou que ela nunca quis explorar porque estava presa na expectativa da família, que a criou para “tomar conta da loja um dia”, mas isso é realmente o que ela quer fazer, afinal de contas? E se o fato de ela não estar conseguindo “se conectar com os clientes” e de estar “esquentando a cabeça” o tempo todo tem a ver com a realidade de que ela não quer cuidar da loja?

Gota d’Água é, surpreendentemente, o rapaz que a faz questionar tudo até então… e é simplesmente adorável a maneira como nasce e se desenvolve o romance deles! Afinal de contas, Faísca fica muito brava com Gota na primeira vez que o vê, porque ele é um funcionário responsável que precisa registrar multas por conta de algumas irregularidades da Loja do Fogo, e quando Faísca fala sobre como “aquele é o sonho do pai” e como “ela não pode ser a responsável pelo fechamento da loja”, já é tarde demais para o Gota retirar as multas, porque ele já as enviou ao seu superior… mas tudo bem, ele está disposto a ajudar Faísca, porque talvez se ela contar a sua história para outras pessoas, como a Névoa, eles vão entender e voltar atrás na decisão de fechar a loja…

Preciso dizer: O GOTA É UMA FOFURA! Ele é meio crianção, na verdade, mas isso se deve principalmente ao fato de ele ser extremamente sensível e chorar com facilidade – o que faz todo sentido, já que ele é todo feito de água… e ele tem um coração tão bom e um carisma tão grande que ele nos conquista rapidamente. Vemos Faísca e Gota inesperadamente se divertindo durante um jogo e salvando juntos a Cidade do Fogo do rompimento de uma represa, e já é o suficiente para o Gota, todo timidozinho, convidar Faísca para fazer alguma coisa no dia seguinte, às três da tarde… e, bem, por que não?! E Faísca e Gota têm o encontro mais lindinho possível! Toda a sequência do encontro deles é uma montagem digna das melhores comédias românticas já feitas…

E eu fiquei todo bobinho!

“Elementos” brinca com esse romance e o entrelaça com a trama da loja, da aposentadoria do pai e o futuro de Faísca, construindo uma história interessante, emocionante e bem amarrada, recheada de momentos muito bacanas, como a) a conversa de Faísca e Gota na praia, quando ela fala sobre toda a pressão que sente; b) a visita de Faísca à casa da família de Gota, que talvez mostre a Faísca a possibilidade de fazer algo em que ela é realmente boa e de que goste; c) o Gota encontrando uma maneira de acender o incenso para que a mãe de Faísca possa “ler a fumaça” e descobrir se o amor deles é verdadeiro; e d) o momento em que Gota aparece na reinauguração da loja para dizer a Faísca que a ama, da maneira mais fofa possível… um “grande gesto”.

Sabe… toda comédia romântica tem um.

Eu gosto muito de como “Elementos” é um equilíbrio muito fantástico! Além de o romance de Gota e Faísca ser muito bonito de se assistir (é lindo ver a construção, o medo de se tocarem e a determinação em tentar, até que o toque das mãos “altere a química um do outro”, em uma das cenas mais lindinhas do filme!), Gota também faz toda a diferença na vida de Faísca, a ajudando a perceber algo que ela já sabia: o fato de que ela quer algo mais para a sua vida… ela até diz ao Gota que “não pode deixar tudo por causa dele”, mas a verdade é que ela não estaria deixando tudo por causa dele, mas por causa dela mesma: porque ela nunca quis cuidar da loja do pai e a possibilidade de trabalhar em uma fábrica de vidros realmente é muito tentadora… ela tem talento…

E ela gosta disso.

O grande clímax do filme acontece quando a barreira improvisada por Gota e Faísca, que está protegendo a Cidade do Fogo, se rompe – e ambos correm para lá. Apesar de aparentemente ter decepcionado o pai por ter se apaixonado por um garoto de água e ter sido a responsável pelo estrago na loja, Faísca só pensa na segurança deles e em proteger o legado que o pai tanto ama (a loja e a chama azul); Gota, por sua vez, estava indo embora depois de ter o seu coração partido, mas saber que Faísca pode estar em perigo o faz ir para lá imediatamente, e ele tem facilidade para lidar com uma inundação. Os dois terminam juntos protegendo a Chama Azul que o pai de Faísca trouxera do País do Fogo, mas, presos juntos no forno, o calor faz com que Gota d’Água evapore…

Ainda que no fundo eu saiba que não é provável que o Gota tenha morrido, o pesar de Faísca é sincero e tocante, e toda a sequência é profundamente emocionante – a maneira como Faísca devolve a Chama Azul ao pai, a maneira como o pai explica que o seu sonho nunca foi a loja, mas a sua filha, e como Faísca confessa que realmente amava o Gota… curiosamente, toda a emoção da cena faz com que Gota, de algum lugar, comece a chorar. Quer dizer, não é lá tão surpreendente, porque o Gota chora com uma facilidade que é hilária (sério, eu dei boas risadas com a maneira como ele começava a chorar do nada, mas acho fofo que ele seja tão emotivo), mas ouvir a sua voz chorando é um alívio imenso… e o detalhe da Faísca dizendo para ele tudo o que ele dissera para ela no jogo na casa dela…

Tão lindo!

E faz perfeito sentido, dentro daquele universo, se você me perguntar: o Gota evaporou por causa do calor dentro do forno e tudo o mais, mas ele só estava em outro estado, ainda presente naquelas pedras, de alguma maneira – mais ou menos como da vez em que ele era criança e passou algumas horas preso dentro de uma esponja. E ele se condensar novamente através das próprias lágrimas é algo que tem tudo a ver com o personagem, e rende um momento bonitinho e divertido depois de um dos momentos mais emocionantes do filme… e a oportunidade perfeita para o primeiro beijo de Faísca e Gota. E, então, tudo se resolve: o pai se aposenta e contrata pessoas para cuidar da loja, Gota vai fazer um estágio fora, Faísca o acompanha, e temos aquela cena linda de Faísca e o pai…

A maior reverência possível. E a benção do pai.

Para mim, a Pixar fez UM EXCELENTE TRABALHO mais uma vez. Ainda que não inteiramente inventivo ou inovador, “Elementos” entrega aquilo que eu sempre espero das produções do estúdio: um filme com alma. “Elementos” é um filme profundamente humano e sensível, com uma mensagem lindíssima e o coração no lugar certo, e é isso o que importa. Faísca é uma protagonista forte, com uma jornada interessante; Gota é um personagem carismático e apaixonante; e, juntos, eles formam uma dupla deliciosa de se acompanhar. Volto a elogiar a força do filme em seu visual e no equilíbrio entre a diversão, o romance e a emoção, e reforço que é uma experiência recompensadora. Dê uma chance ao filme! Talvez você se apaixone, como eu me apaixonei!

 

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Comentários

  1. É um filme muito bonito, tanto a animação quanto a trama são bem produzidos.
    Uma pena que o pessoal que é super nostálgico não consegue dar uma chance para a Pixar atual que até tem filmes bons(tirando Lightyear que foi um fracasso de bilheteria e critica).

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    1. Lightyear foi mais criticado que outros, mas não chegou a ser um fracasso de crítica não. Eu, particularmente, gosto BASTANTE de Lightyear, acho ótimo.

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    2. Ele é muito diferente do que o pessoal estava habituado a ver na Pixar, porque é basicamente uma ficção científica, e é muito bom dentro do gênero de ficção científica. Tem um roteiro e tanto e uma animação linda. Além disso, acho que o grande problema com "Lightyear" foi o problema de divulgação/expectativa, porque se atrelou demais a "Toy Story" quando, apesar da imagem do Buzz, não tem nada a ver com "Toy Story" (e não é para ter, nem em tom, nem em gênero nem em trama). Eu acho um filme bem bom.

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    3. Ah sim, eu particularmente ainda não assisti Lightyear mas todas as criticas que eu vejo sobre esse filme(pelo menos nas redes sociais) são bastante negativas ):

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    4. Ah, você não viu ainda? Eu amei. Mas depende muito de sua expectativa (é completamente diferente de "Toy Story", propositalmente) e da sua relação com o gênero (se você gostar de ficção científica, dificilmente não vai gostar... é uma ficção científica de qualidade!).

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