Guardiões da Galáxia Vol. 3 (Guardians of the Galaxy Vol. 3, 2023)

“The story has been yours all along. You just didn’t know it”

Seis anos depois do último volume de “Guardiões da Galáxia” (!), James Gunn entrega uma conclusão incrível e emotiva para essa formação da equipe, que deve seguir aparecendo nos cinemas com algumas modificações, conforme o Universo Cinematográfico da Marvel segue explorando novos caminhos em suas novas fases, mas é, de certa maneira, o encerramento de uma narrativa e dessa primeira trilogia. Como nos demais filmes da franquia, contamos com um visual que é tanto bonito quanto curioso, e uma trilha sonora incrível, que ainda se aventura e explora novas décadas. Além disso, o filme tem uma alma bonita, com muito carisma, diversão, risadas sinceras e um equilíbrio interessante com o drama e a emoção, conforme exploramos o passado de um dos personagens mais queridos da equipe.

“Guardiões da Galáxia” conquistou o seu público através de seus filmes “solo” e de suas participações em outros filmes do UCM, e em grande parte o sucesso se deve ao carisma de uma equipe diversa, bobalhona e aparentemente disfuncional, mas formada por membros que se importam verdadeiramente uns com os outros. No “Vol. 3”, isso fica evidente através da aparição da “outra” Gamora, que não tem o passado que a sua antecessora compartilhara com Peter Quill e os demais, mas aprende, durante o filme, como as coisas funcionam ali. A força de “Guardiões da Galáxia”, enquanto filme, está justamente na relação entre esses personagens: Peter Quill, Mantis, Drax, Nebulosa, Groot, Rocket e, é claro, a nova Gamora, trazida de volta em “Ultimato”.

E é essa dinâmica tão bacana do grupo que proporciona uma carga dramática extra ao filme quando a vida de Rocket está correndo perigo, e os Guardiões precisam atravessar a galáxia em busca de uma maneira de salvar a sua vida… afinal de contas, eles não podem fazer nada invasivo demais sem que o detonador dentro dele, da época em que ele foi usado como cobaia em um laboratório, exploda e o mate – e isso coloca os Guardiões em situações bizarras e divertidas, enquanto precisam invadir um complexo que é uma espécie de construção orgânica, uma concepção que gera certa estranheza e um quê de “MIB: Homens de Preto”, mas que funciona muito bem dentro do conceito de “Guardiões da Galáxia”, e os personagens se saem muito bem lá dentro.

Durante uma boa parte do filme, então, Rocket está desacordado e entre a vida e a morte – o que não quer dizer que ele não tenha uma participação significativa. Rocket é tanto o fio condutor da narrativa quanto o protagonista legítimo do filme. Enquanto os seus amigos correm para salvar a sua vida (e são perseguidos), acompanhamos flashbacks que nos levam à história de Rocket, e como ele foi transformado de um “simples” guaxinim da Terra em um experimento bem-sucedido de um homem que quer brincar de Deus: o Alto Evolucionário. A construção dessa narrativa é muito boa, mostrando os atos e motivações pretensiosas do vilão, valorizando a inteligência e criatividade de Rocket, e construindo uma bonita relação dele com seus amigos nas celas vizinhas…

Por isso é tão doloroso assistir ao momento em que todos morrem e ele fica sozinho.

O que “Guardiões da Galáxia Vol. 3” representa para Rocket, como personagem, é extraordinário. É uma construção perfeita e um aprofundamento necessário para o possível novo líder do grupo, e ele protagoniza 95% das melhores cenas do filme, seja cantarolando “Creep” no início do filme, de maneira dramática, seja chorando na morte de Lylla, um dos momentos mais angustiantes do filme, ou seja colocando tudo para quebrar quando os amigos conseguiram salvar a sua vida, mas eles ainda precisam lidar com o Alto Evolucionário e salvar as próximas cobaias que estão presas dentro de sua nave, conforme ele deixa a Contra-Terra e a destrói por completo, como mais um dos seus experimentos que “não deram certo” na sua tentativa de ser Deus.

Sobre a Contra-Terra: é uma das minhas sequências favoritas no filme. Gosto muito de como os moradores da Contra-Terra, que são resultados dos experimentos do Alto Evolucionário com uma ajuda do Rocket (Rocket é a única “criação” do vilão que realmente deu certo, a única que pensa por si só e, mais do que isso, consegue pensar coisas novas, além do que “já foi pensado antes”… por isso ele quer pegá-lo novamente de qualquer jeito, e isso rende as perseguições que dificultam o trabalho dos Guardiões da Galáxia durante o filme), são personagens feitos com maquiagem e efeitos práticos, de uma maneira que me lembra um pouco produções antigas de “Star Trek”, com um quê, também, de “Star Wars” e “Doctor Who”. Então, eu meio que me senti em casa.

O último ato do filme equilibra bem a ação e a emoção. A grande batalha contra o Alto Evolucionário conforme eles escapam da Contra-Terra moribunda acontece na nave, de onde Rocket e os Guardiões querem resgatar todas as cobaias que estão presas, o que é algo que os Guardiões da Galáxia resolveriam fazer de qualquer maneira, mas tem uma motivação pessoal para o Rocket. Fiquei muito emocionado com o Rocket vendo os filhotinhos de guaxinins presos em uma gaiola (e descobrindo que, no fim das contas, ele é mesmo um guaxinim), e fazendo de tudo para salvar os animais, como não pôde salvar Lylla, Floor e Teeths, da outra vez. E ainda temos o Rocket se reafirmando quando um Guardião quando ele tem a possibilidade, mas escolhe não matar o Alto Evolucionário.

Que filme bonito e bem-feito!

“Guardiões da Galáxia Vol. 3” também brinca com uma espécie de epílogo, conforme alguns rostos conhecidos que fizeram parte dessa jornada até agora se despedem (Peter Quill resolve voltar para a Terra, que deixou quando tinha 8 anos, e tentar reencontrar o avô, por exemplo) e outros se juntam à equipe (como Adam Warlock, interpretado por Will Poulter, um Soberano que inicia o filme como uma espécie de “vilão”, mas que acaba salvando a vida de Peter Quill no fim das contas). Achei particularmente emocionante a celebração e as danças ao som de “Dog Days Are Over”, de Florence and the Machine, conforme “Guardiões da Galáxia” chega às músicas dos anos 2000. Uma excelente despedida para toda uma fase, e uma introdução para o futuro.

 

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Comentários

  1. Você ainda pretende escrever sobre o primeiro filme do Homem Aranha do Sam Raimi? Você tem resenhas de todos os filmes, menos dele.

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    1. Por enquanto, o mais próximo que eu tenho de uma review do primeiro Homem-Aranha é esse texto aqui, porque eu comparo o filme do Andrew Garfield com o primeiro do Tobey Maguire, de 2002: https://www.paradatemporal.com/2012/07/tobey-maguire-x-andrew-garfield.html

      Não estava na lista para assistir tão cedo, mas posso tentar revê-lo para escrever um texto sozinho.

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    2. O problema é que se eu fizer isso, vou querer reescrever sobre o 2 e o 3 também, porque tenho certeza de que se eu for olhar aqueles textos agora, não vou gostar deles mais... são muito antigos haha

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