Hoje é dia de Maria, Segunda Jornada – Episódio 4: A Guerra

“A guerra deixou tudo como o diabo gosta”

Esse é, certamente, um dos episódios mais sombrios de “Hoje é dia de Maria”. Depois de o grande amigo de Maria, o Dom Chico Chicote, ser condenado à execução no Mar do Esquecimento, o “Gigante da Guerra” despertou, trazendo dor, morte e destruição para a cidade em que Maria está perdida… “A Guerra” é um episódio muito mais triste que o normal, mas com uma força impressionante por trazer esse olhar de Maria a respeito de todo o sofrimento causado por uma guerra interminável e sem sentido, da qual ela não sabe se pode escapar. Parece cada vez mais distante a possibilidade de retornar para o seu sítio e para a sua família, e Maria continua vagando sem saber para onde está indo, no momento apenas tentando manter-se em segurança.

Assim que a guerra começa, o caminho de Maria se separa do de Dom Chico Chicote e de Alonsa/Rosicler, e ela acaba se escondendo na loja do Dr. Copélius, junto com a sua primeira amiga na cidade grande, a Dona Boneca. Aqui, temos uma das cenas mais bonitas do episódio, na qual Maria ensina aos demais que um pouquinho de esperança sempre faz bem. Mesmo no meio de tanto caos e destruição, é necessário manter-se forte. Maria consegue escapar das rondas violentas que invadem casas e estabelecimentos se passando por uma boneca, assim como a amiga, e ela transmite tanta coisa em sua voz suave e sofrida, quando é colocada para cantar para um dos soldados que talvez, por um segundo, comece a questionar o que está fazendo.

Mas a guerra segue.

Toda a representação da guerra em “Hoje é dia de Maria” é acompanhada de cenas rápidas e desconcertantes que nos causam inquietação e um pouco de pavor. Também é angustiante ver a maneira como os grandiosos cenários da minissérie foram destruídos e/ou cobertos de pó e entulhos, como se nada mais pudesse sair dali. Depois de escapar de uma ronda, Maria não fica na loja do Dr. Copélius, e retorna às suas roupas tradicionais para andar pelas ruas, em busca de uma saída que seja, e ela encontra, em seu caminho, as pessoas que estão evacuando a cidade porque tudo ali vai ser destruído, mais cedo ou mais tarde, e as pessoas que já não têm mais chance de fazer isso, porque suas vidas já foram brutal e injustamente ceifadas pelos horrores da guerra.

E sentimos isso com mais clareza através da dolorosa morte de Alonsa/Rosicler, o grande amor de Dom Chico Chicote. Depois de a sua amada ser uma das vítimas levadas pela guerra, a vida de Chico Chicote perdeu completamente o sentido, e nem mesmo a sua função de protetor de Maria ele consegue continuar desempenhando. Arrasado e sem rumo, o cavaleiro vaga desesperançado da vida, e tem um último encontro doloroso com Maria, na qual eles se despedem e Maria percebe que nada do que fizer vai resolver a dor que Dom Chico Chicote está sentindo. É uma cena triste, tanto porque vemos Chico Chicote, outrora tão cheio de vida e poesia, completamente desolado e sem propósito, quanto porque as lágrimas de Maria nos atingem.

Então, percebemos qual será o fim de Dom Chico Chicote e que ele está prestes a se entregar ao Mar do Esquecimento. E “Hoje é dia de Maria” personifica o sofrimento de Chico Chicote e a sua vontade de deixar esse mundo em uma das formas de Asmodeu (assim como Asmodeu apareceu para o Pai de Maria na primeira jornada, quando ele estava pensando em se jogar de um precipício), com uma curiosidade peculiar: é a primeira vez que vemos Asmodeu em uma forma feminina. Curiosamente também interpretada por Letícia Sabatella, “Asmodeia” é provocante, cruel e sádica, e faz de tudo para garantir que Dom Chico Chicote se largue no Mar do Esquecimento, que é o que ele faz. A jornada de Maria chegou ao seu ponto mais triste e mais cruel.

E, agora, é hora de encerrá-la… no quinto episódio, é hora de Maria voltar para casa.

 

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