The Flash (2023)
“Not every
problem has a solution, Barry”
Eu vou
começar a minha review fazendo uma
afirmação polêmica e que vai incomodar muita gente: tem que ser muito chato para não ter gostado de “The Flash”. Não é,
como tentaram nos convencer antes do lançamento do filme, o “melhor filme de
super-herói de todos os tempos”, mas também não é, como tentaram nos convencer depois do lançamento, o “pior filme de
super-herói já feito”. “The Flash”
tem seus deslizes (as animações em CGI dentro da Força de Aceleração são
difíceis de engolir mesmo), mas é um filme muito competente dentro daquilo em
que se propôs, e além de contar uma história interessante que brinca com as possibilidades dos poderes
do Flash, também soube equilibrar a diversão (eu dei boas risadas durante o
filme) e a emoção.
Infelizmente,
no entanto, “The Flash” sofre do
mesmo problema que outros filmes da DC lançados esse ano, como “Besouro Azul”, sofrem: eles fazem parte
de um universo moribundo agora que o
DCEU vai ser recomeçado sob o comando do James Gunn. E é uma pena pensar que “The Flash” era a oportunidade perfeita que eles tinham para “anunciar essa
mudança” dentro do próprio filme – mais ou menos como fizeram ao “substituir” o
Batman do Ben Affleck pelo Batman do Michael Keaton (e, depois, do George Clooney), que retorna ao papel
depois de tantos anos… afinal de contas, o filme é inspirado (não uma adaptação
direta, mas usa vários elementos) em “Flashpoint”,
um arco de Geoff Johns e Andy Kubert que foi usado para “rebootar” o universo
principal da DC em 2011.
Deixando de
lado todos os “problemas externos” do filme, no entanto, eu vou dizer: O FILME
É DIVERSÃO GARANTIDA! Tem uma trama familiar emocionante, uma excelente
interação entre duas versões do Barry Allen, bom uso da viagem no tempo e dos
paradoxos que podem ser causados, além de boas sacadas vindas de “uma linha do
tempo alternativa”. Além disso, o filme tem carisma e um espírito muito legal –
ele foi claramente pensado como uma comédia e como um presente aos fãs graças
às referências, e cumpre esses dois objetivos muito bem. Também tem, apesar dos
problemas com efeitos especiais que ocasionalmente chamam a atenção, um visual
muito bonito… eu que nem sou fã do Batman fiquei encantado toda vez que o Batman abria a sua capa.
Sério!
O filme
começa dentro do universo já estabelecido – aquele no qual a mãe do Barry está
morta, o pai está prestes a enfrentar um novo julgamento no dia seguinte, e Ben
Affleck é o Batman… e Barry é convocado por Alfred para lidar com um problema
em Gotham City, porque o Batman já está ocupado
em outra missão. Toda a sequência do salvamento dos bebês é absurda e
talvez questionável (?), mas a brincadeira com o absurdo me pegou de jeito e me
divertiu… e todos os bebês foram salvos, não foram?! Como o filme de
super-herói que é, “The Flash” não
tarda a nos entregar essa primeira grande sequência de ação, com um trio
formado pelo Flash, pelo Batman e pela Mulher-Maravilha… mas é apenas uma
introdução até que a história do filme comece de verdade…
Quando Barry percebe que pode voltar no
tempo.
Ter poderes
como o do Flash é mesmo tentador.
Racionalmente, ele pode saber tudo sobre a Teoria do Caos e, consequentemente,
sobre o Efeito Borboleta, e pode entender que mexer com o tempo pode trazer
consequências inimagináveis, mas isso é o suficiente? Você não salvaria a vida da sua mãe, se tivesse a oportunidade?
Acho que essa é uma das grandes vitórias do filme: se o filme te convence a se
colocar no lugar de Barry Allen, você não questiona de verdade as suas ações,
porque ter em mãos a chance de salvar a vida da mãe e do pai e não fazê-lo
pareceria errado… não? Ainda que Bruce tenha razão e todas essas cicatrizes
tenham sido essenciais para nos tornarmos quem somos hoje, Barry não
conseguiria viver sabendo que pode salvar a mãe e nem tentar…
Então, ele
tenta.
E ele
estraga tudo.
Como o
próprio Barry diz, as vidas de três pessoas foram estragadas por uma lata de tomate, e é essa a
pequena alteração que ele faz, colocando a lata que a mãe esquecera em seu
carrinho no supermercado, e então ele se prepara para voltar para casa… por
algum motivo, no entanto, ele é tirado da Força de Aceleração antes da hora, e vai parar em outro
ponto da linha do tempo, quando ele devia ter apenas 18 anos… um lugar onde existe outro Barry Allen de 18
anos, tendo vivido uma vida completamente diferente da dele e,
consequentemente, sendo uma pessoa também completamente diferente. Afinal
de contas, ele não teve a perda dos pais para moldá-lo como o Barry que
conhecemos, e isso criou um Barry muito menos responsável e muito mais imaturo
e bobão.
E a
interação deles é sensacional!
Sei lá, eu
gosto muito de viagens no tempo e gosto muito de explorar os efeitos delas. A
ideia de dois Barry Allens tão absurdamente diferentes por causa de uma
diferença no passado faz todo o sentido e é incrível de acompanhar isso! Mas, é
claro, isso pode envolvê-los no clássico paradoxo
do avô, e Barry tenta conter um pouco disso ao descobrir que ele está justamente no dia em que ganhou os seus
poderes – e embora aquele Barry, o Barry de 18 anos, não tenha planos de
estar no laboratório naquela noite (porque tem um encontro com Iris West), o
Barry precisa levá-lo para lá para garantir que ele ganhe os seus poderes… não
que isso resolva lá muita coisa, porque o Barry Original acaba perdendo seus próprios poderes no meio
de todo esse processo.
Antes de
encontrar uma maneira de voltar para casa, no entanto, Barry-Original descobre
que Zod está começando o seu ataque e, ao que tudo indica, não existe um
Superman naquele universo… então, ele precisa encontrar a Liga da Justiça, ou
qualquer membro que ele possa contatar, e o único a que ele consegue chegar é o
Bruce Wayne – que não é o seu Bruce Wayne, mas já foi o Batman de todo modo. E
é aqui que Barry entende que a sua “brincadeira na Força de Aceleração” acabou
mexendo não só com os eventos do dia da morte da sua mãe em diante, mas também com toda a realidade para trás daquele dia
também… é por isso que Barry está, agora, em um universo no qual “De Volta Para o Futuro” foi
protagonizado por Eric Stoltz, o que é uma piada SENSACIONAL, já que Eric chegou a ser escalado como Marty McFly.
Mas é triste
pensar em um universo no qual Michael J. Fox não foi o Marty.
(Com todo o
respeito ao Eric Stoltz… mas É O MICHAEL J. FOX!)
Com todas as
críticas que eu tenho ao Ezra Miller como pessoa, eu preciso dizer que ele faz
um trabalho excelente como ator, dando vida a duas versões de Barry Allen: uma
madura e machucada pela vida, depois de perder a mãe, e uma bobalhona e
inconsequente, que não sofreu tanto assim… e a interação entre essas duas
versões do Barry é uma das maiores vitórias de “The Flash”, seja para a comédia (o Barry-18 descobrindo e
entendendo os próprios poderes, por exemplo!), para o drama (quando o Barry-18
escuta o Barry-Original contar a Bruce o motivo de ter viajado no tempo, para
começo de conversa) ou mesmo para a ação (os dois trabalhando juntos na sequência final de ação do filme).
Curiosamente, eles formam uma dupla interessantíssima!
Ao seu
redor, Barry consegue reunir a sua própria versão da Liga da Justiça, com o
Batman de Michael Keaton e Kara Zor-El, a Supergirl, que eles resgatam de uma
prisão governamental… além, é claro, de dois Flashes, já que ele “recupera”
seus poderes de maneira extrema em
uma sequência muito boa. E, então, eles botam
pra quebrar contra Zod, em um clímax de efeitos duvidosos, mas com um
espírito muito bom… destaque para o Barry-18 fazendo o seu próprio uniforme a
partir de um uniforme antigo do Batman, que ele cola com fita, pinta de
vermelho, coloca o raio sobre os símbolos do Batman e corta as protuberâncias
da cabeça do capacete. Ainda assim, mesmo com quatro pessoas poderosas
trabalhando juntas, eles não podem vencer Zod…
Não importa o que aconteça, Batman e
Supergirl morrem, Zod vence e a Terra é destruída.
Não importa quantas
vezes eles tentem.
E quanto mais eles tentam, mais o tecido da
realidade se fragmenta…
A conclusão
do filme é profundamente sentimental, e eu fiquei bastante emotivo enquanto assistia, conforme o Barry Allen Original
entendia o que ele precisava fazer: ele
precisava desfazer a alteração que fez no passado… ele precisava deixar que a
mãe morresse, porque a alternativa era deixar que todo o planeta morresse.
Convencer o outro Barry disso é praticamente impossível, assim como eu acredito
que foi praticamente impossível
convencer a si mesmo de que esse era o único jeito… ver o Barry retornando
àquele supermercado, assistindo enquanto outra versão de si mesmo colocava uma
lata de tomate no carrinho e ia embora, e conversando com a mãe uma última vez, dizendo que a amava e
aceitando o abraço que ela oferece.
Aquilo é
forte e triste demais. Enquanto assistia, a única coisa em que eu conseguia
pensar era: é melhor não ter os poderes
do Flash. Ter o poder de interferir naquele momento, de salvar a vida da
própria mãe e saber que não pode fazer
isso porque isso “tem” que acontecer… como viver com isso? Mas o Barry terá
que viver… ele já passou uma vida inteira vivendo com essa realidade, e foi bom
conhecer um pouquinho mais da mãe e matar a saudade, pelo menos por aquele
curto tempo. Aparentemente sem ter
aprendido o suficiente, no entanto, Barry ainda faz uma pequena alteração
que vai fazer o pai levantar a cabeça
e comprovar o seu álibi, sendo finalmente liberado no novo julgamento que
estava por acontecer… e isso é o suficiente para trazer algumas mudanças.
Como o
Batman do George Clooney oficialmente substituindo Ben Affleck.
De todo
modo, é um filme sem futuro, com a reformulação do DCEU. Se olhamos para ele
como um filme isolado, no entanto, eu repito o que disse inicialmente: É UM
FILME MUITO GOSTOSINHO! Consegue contar bem sua história, faz bom uso da viagem
no tempo, e é muito divertido e emocionante! Acho que a maior parte das críticas
vem ou por motivos técnicos, ou
porque às vezes criamos uma expectativa dentro da nossa cabeça que acaba
sabotando nossas próprias experiências. Minha dica: por que não assistir a “The Flash” despretensiosamente e de
coração aberto, como o bom filme cômico de super-herói que é?! Tenho certeza de
que o filme renderá boas risadas e uma experiência bacana. Às vezes, é
necessário que estejamos abertos à diversão!
Para reviews de outros FILMES, clique aqui.
Teve um pequeno erro na resenha: O Batman que substituiu o Ben Affleck em definitivo no final do filme foi o George Clooney. Pois o Michael Keaton interpretou ele na maior parte do filme.
ResponderExcluirObrigado, vou consertar!
Excluir