Primeiro Capítulo de “O Malefício” (13 de novembro de 2023)

Mistério e suspense!

Chegamos à sexta produção da “Fábrica de Sonhos”, o projeto da Televisa que visa reimaginar telenovelas clássicas que fizeram muito sucesso e são amadas pelo público, em versões “mais curtas” – desde “Os Ricos Também Choram”, no entanto, a ideia de uma narrativa que se aproximasse à linguagem de série foi deixada de lado e, consequentemente, o número de capítulos aumentou. Embora 80 capítulos seja um número muito menor do que “O Malefício” originalmente teve entre 1983 e 1984 (um total de 325 capítulos, e a novela foi exibida no Brasil com o título “Estranho Poder”), está também dentro da média das novelas que a Televisa tem produzido atualmente. Assim, a “Fábrica de Sonhos” meio que se torna, agora, um projeto de remakes.

Sempre achei curioso que “O Malefício” tenha feito tanto sucesso no México na década de 1980, tendo em vista como o país é religioso e, bem… o conceito da novela gira em torno de um pacto com um demônio. Na nova versão de “O Malefício”, o misterioso Enrique de Martino, o homem que fez um pacto com Bael, é interpretado por Fernando Colunga, um rosto conhecido dos noveleiros de plantão; já Beatriz Almazán, uma mulher trabalhadora, excelente mãe e temente a Deus, é interpretada por Marlene Favela. A eles se juntam também Adrián Di Monte e Julio Vallado, interpretando os filhos de Enrique, Jorge e Raúl, respectivamente, bem como Sofía Castro e Kaled Acab, interpretando os filhos de Beatriz, Vicky e Juanito. E esse é um elenco promissor!

O primeiro capítulo de “O Malefício” começa 25 anos no passado, no momento em que um quadro misterioso é descoberto, um aviso é dado com uma risada sinistra e todas as peças são colocadas em movimento… acho que temos, aqui, um primeiro capítulo extremamente competente, mas que mais provoca e instiga do que qualquer coisa, e talvez eu tivesse gostado de um pouco mais de informação. Adoro a atmosfera macabra de suspense, que é bem trabalhada, e adoro os mistérios começando a se acumular conforme são apresentados, mas eu ainda sinto que faltou alguma coisa para que eu possa dizer que foi, de fato, um primeiro capítulo excelente… sinto que precisarei de toda a primeira semana para definir minhas “primeiras impressões”.

No presente, conhecemos Julián Cardona, um jornalista prestes a fazer uma revelação bombástica sobre a família de Enrique de Martino e pessoas ao seu redor – mas é claro que ele não tem a chance. “O Malefício” brinca com o mistério e com o suspense, com uma trilha sonora marcada, e antes que Julián Cardona possa concluir seus planos, ele morre queimado no meio da rua, entregando o que é a cena mais macabra desse primeiro capítulo! E isso é importante para o que veremos a seguir, conforme nos perguntamos qual o papel de Enrique nessa “seita” (de liderança?), e vemos uma tentativa de abafar a morte desse jornalista, cujo relatório diz que foi “de causas naturais”. Sendo que Julián Cardona literalmente PEGOU FOGO enquanto caminhava na rua.

Isso deixa Beatriz furiosa. Ela sabe que não foram “causas naturais”.

Gosto de como Beatriz é apresentada, e de como ela aparenta ser uma personagem moderna – desconheço a versão de 1983, mas sinto que “O Malefício” fez atualizações bem-vindas na personagem. Como Beatriz fica “presa” no trabalho até mais tarde por causa da morte, ela precisa mudar os seus planos com os filhos, o que a deixa muito mal: Vicky, a mais velha, ia ao cinema com as amigas, e agora ela precisará ficar para cuidar de Juanito, o mais novo. Vicky é apresentada como uma boa filha, alguém que faz tudo para ajudar a mãe, vai bem na escola, cuida de Juanito… mas alguém que talvez não tenha a sua própria vida. A própria Beatriz fala sobre como “ela deveria estar fazendo coisas de sua idade”, e Vicky fala sobre como a mãe foi a única que “seguiu com a sua vida” depois da morte do pai.

É algo pesado e complexo a ser explorado futuramente.

Juanito, por sua vez, tem tudo para se tornar um dos personagens mais interessantes de “O Malefício”. Eu não sei exatamente que papel ele desempenhará na trama, mas ele tem um primeiro capítulo promissor que se dedica a apresentá-lo: doce, querido e sorridente, Juanito ama a mãe e a irmã, tem medo de filme de terror e do escuro, e sofre bullying na escola, mas tenta esconder isso… é profundamente angustiante assistir à cena na qual ele é provocado na escola por dois outros garotos que falam sobre a morte do seu pai e o trancam dentro de um armário escuro, e foi triste ouvir os gritos de Juan e os pedidos para que “o tirem de lá”. Quando uma professora o encontra, no entanto, ele finge que não é nada, que “ele está bem” e não deixa que ela faça nada.

Tampouco diz nada à família.

Isso tudo acumulando-se dentro dele vai explodir de alguma maneira mais cedo ou mais tarde.

Os filhos de Enrique, por sua vez, são apresentados em sua relação com o pai e com a morte da mãe, há tantos anos… de um lado, temos Jorge, alguém que parece estar seguindo os passos do pai, com quem se dá razoavelmente bem, e que se fechou para a sua dor e se nega inclusive a falar sobre a mãe, desde a morte; de outro, temos Raúl, muito mais sensível e atento, e ele não se dá bem com o pai desde que a mãe morrera, porque ele sente que o pai não é sincero com eles sobre as circunstâncias de sua morte. Oficialmente, Nora teve “ataques de esquizofrenia” e se matou, mas tudo parece muito estranho para Raúl, que fala algo sobre como “sua mãe era sã e ninguém enlouquece assim do nada”. E isso institui um mistério cheio de possibilidades em “O Malefício”.

Teria Nora sido um sacrifício? Teria ela descoberto o pacto com Bael?

A sequência final do capítulo é eletrizante – e se eu achei o capítulo, como um todo, mais “morno”, esse fim nos deixa ansiosos pelo que vem à frente. Juanito está com a mãe e a irmã no cemitério, para visitar o túmulo do pai, quando ele se afasta delas durante uma oração porque segue um gato, e isso o leva até a cripta onde está o túmulo e o busto de Nora, a esposa de Enrique de Martino, e é justamente o tipo de lugar que ele teme: escuro, sombrio, vazio… e tem uma cobra ali. Adoro a construção do suspense até que Enrique toque o ombro de Juanito, ele grite, a cobra desapareça, e nos perguntamos o que era real e o que não era… e, mais do que isso: o que isso tudo significa? Enrique parece curioso/surpreso com a presença de Juanito, e mais ainda quando ele menciona a cobra…

Juanito deve ter um papel grande em “O Malefício”.

Naquele momento, no entanto, Enrique apenas o acompanha para fora…

E, então, seu caminho cruza o de Beatriz pela primeira vez. É… A NOVELA COMEÇOU!

 

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