Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo (2024)

“Não há mal que vença o amor”

Fiquei muito triste em saber que esse foi o começo da “Turma da Mônica Jovem” no cinema. A turminha criada por Mauricio de Sousa veio de uma leva de boas adaptações em live-action, que se iniciaram em 2019 com “Turma da Mônica: Laços”, mas dessa vez sem a base da Graphic MSP dos Irmãos Cafaggi para o roteiro e sem a direção cuidadosa de Daniel Rezende, “Reflexos do Medo” acabou sendo um filme que deixa muito a desejar – o que é uma pena, tendo em vista que a vertente Jovem das publicações é um material com uma boa base de fãs e muito conteúdo promissor. Não acho que vá ser o “fim” da Turma Jovem no cinema, porque o filme tem o selo “Turma da Mônica”, mas é um filme que não funciona como propaganda para qualquer sequência futura…

Diferente de como foi com “Lições”, que estávamos confiantes para ver em 2021 porque “Laços” tinha sido tão bom (uma pena que “Lembranças” não tenha chegado a ser adaptado também). Antes de mais nada, eu quero dizer que a mudança do elenco em si não me parece um problema, portanto não concordo com todos os ataques gratuitos que esse elenco sofreu a partir do momento do seu anúncio, quando ainda pouco se sabia sobre o filme: é natural que uma marca tão grande quanto a “Turma da Mônica” não queira ter sua imagem atrelada a um grupo de atores específico – mudar o elenco pode ter pegado todo mundo de surpresa, porque é certo que amávamos o primeiro elenco live-action, mas é a melhor escolha comercial, pensando no futuro.

Mas será necessário se pensar em uma melhor direção, condução do elenco e roteiro. Com a ideia de explorar um lado mais sobrenatural, que é muito presente na “Turma da Mônica Jovem”, “Reflexos do Medo” acaba se esquecendo de algo muito básico, que é criar a identificação com aqueles personagens… o filme, infelizmente, perde a sua humanidade em um roteiro raso e sem vida que, ironicamente, parece muito mais infantilizado do que o roteiro dos filmes da turminha criança – é mágico como “Laços” e “Lições” conseguiu atrair crianças, jovens e adultos por diferentes motivos, em toda sua complexidade, enquanto “Reflexos do Medo” me parece o tipo de filme que só vai funcionar de verdade para um público bem mais novo… infelizmente.

Com o roteiro engessado, personagens caricaturados e muitas atuações canastronas, “Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo” não empolga ou emociona, e a condução não tem fluidez… muita coisa parece estar solta no meio das cenas para funcionar de referência a quem lê as publicações da TMJ há mais tempo. Sobre o elenco: Sophia Valverde infelizmente não imprime “Mônica” em nenhum momento de fato; Xande Valois é um Cebola fofo, e me ganhou no “Polcalia!”; Theo Salomão tem um bom lado cômico como Cascão, que deveria ter sido melhor dirigido; Carol Roberto é uma boa Milena, mas o roteiro exagera a deixando parecida demais com o Franjinha; os destaques, para mim, ficam para Bianca Paiva como Magali e para Yuma Ono como DC.

Sem nenhuma complexidade que avançasse uma camada a mais nos personagens (embora a premissa permitisse e, quiçá, pedisse por isso), o filme acaba sendo apenas uma aventura contra o Cabeça de Balde, uma entidade fugida do Caos que está capturando pessoas do Bairro do Limoeiro e sugando suas energias vitais, e que precisa ser detido por Magali, recém iniciada na Ordem dos Cozinheiros, e o restante da Turma… ou ao menos os que conseguirem escapar dele. O filme tinha a oportunidade de se aprofundar em um lado mais humano explorando o que o Cabeça de Balde estava fazendo com que eles “vissem” quando aprisionados, mas tudo é extremamente superficial e, portanto, acaba por não conseguir entregar todo o potencial oferecido.

Toda a questão do Caos e do Cabeça de Balde também envolve o Professor Licurgo, o Museu do Bairro do Limoeiro que está quase sendo comprado pela Família Frufru, e o tio desaparecido do Cascão que deve ser o que eles querem explorar em um possível segundo filme – afinal de contas, o Capitão Feio é um grande personagem da “Turma da Mônica”. No fim, “Reflexos do Medo” é daqueles filmes que resolvem o seu maior problema “com o poder do amor”, e tem um quê de breguice inevitável, mas que é exacerbado pela falta de aprofundamento prévio. De todo modo, fiquei muito feliz por ver a Magali desempenhando um papel tão importante na reta final, conseguindo escapar da obviedade de ter a Mônica resolvendo tudo… embora, de certa maneira, é ela que o faz na “outra dimensão”.

Termino “Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo” com um pouco de pesar, por saber que podíamos ter tido um filme muito melhor para iniciar a jornada da Turma Jovem no cinema: essa é uma das maiores publicações atualmente da Mauricio de Sousa Produções, e tem personagens interessantes e um universo vasto a se explorar! Eu sinceramente torço pelo sucesso da franquia, e torço para que a recepção bastante negativa desse primeiro filme motive os responsáveis a repensar alguns detalhes. Eu sou um leitor assíduo da “Turma da Mônica Jovem” desde 2008 (!), e tenho TODAS as edições da revista em casa (e elas seguem chegando, pois sou assinante), e produções anteriores já nos provaram o potencial dos live-actions da turminha no cinema.

É torcer por um futuro melhor!

 

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