Alma Gêmea – A morte de Débora

“Ah! Finalmente os refrescos!”

AH, O CARMA! QUE SEQUÊNCIA IRÔNICA DELICIOSA! Débora está muito confiante de que vai conseguir tudo o que quer para Cristina a tornando viúva, e tudo depende de se aproximar de Rafael o suficiente para poder envenená-lo – e que ocasião melhor do que a assinatura de um acordo de separação? Débora nem pede melhoras em um acordo que não beneficia Cristina em nada porque ela está muito segura de que tudo vai se resolver naquele mesmo dia… e ela conta com a ajuda de Ivan, que fica responsável por colocar mais sal no feijão para dar sede, por exemplo, e por tirar Zulmira e Eurico da cozinha enquanto ela entra para colocar o veneno em um dos copos de refresco que ela pretende pedir. Tem muitas chances de o plano dar errado, é claro…

Mas Débora segue confiante!

Quando Débora e Cristina chegam para a assinatura do tal acordo, Rafael é extremamente seco com ambas, deixando bem claro como ele quer se ver livre de Cristina o mais rápido possível, e as duas provocam, chamando Serena de “concubina”, o que é até bom para o plano delas, porque não levanta suspeitas… elas agem como elas mesmas. Débora pede que Cristina enrole o quanto puder antes de assinar o documento e só o faça quando ela disser expressamente que ela pode fazê-lo, enquanto isso ela diz que está com sede e pede que o Eurico “ofereça um refresco”. Ivan consegue tirar Eurico e Zulmira da cozinha no momento adequado, Cristina prolonga a leitura do acordo na sala e Débora vai até a cozinha para colocar o veneno e afastar o copo que deve ser o de Rafael dos demais…

“É esse. O que está mais afastado dos outros. É esse que o Rafael deve beber”

A ironia é a melhor coisa de toda a sequência, e Walcyr Carrasco brinca muito bem com isso. Não só porque Débora acaba morrendo com o próprio veneno que colocara em um copo para o Rafael, mas porque a confusão entre os copos só acontece por causa do quanto a Débora atormentou o Eurico enquanto estava morando ali, sempre chamando a sua atenção e o humilhando para “deixar a bandeja bem arrumada”. Eurico está paranoico com isso mesmo depois de Débora ter ido embora da casa, então quando ele chega à cozinha e vê Débora lá, ele diz que ele mesmo vai levar os refrescos para a sala, e ele arruma os copos os mudando todos de lugar quando percebe que um deles está torto… tudo para mostrar para Débora o que aprendeu com ela.

É ironicamente perfeito!

Débora tem alguns segundos de profundo desespero ao ver que os copos estão perfeitamente alinhados e ela não sabe mais qual deveria ser o de Rafael, mas ela escolhe um e entrega para ele… depois, entrega também um para Cristina e para Serena e fica com o último para si. Preciso dizer que, além da ironia toda, Débora morre por burrice, né? Quer dizer, naquela confusão, com quatro copos iguais, sem saber com certeza qual deles está envenenado, mas sabendo que um deles está? Eu é que não ia beber! Mas Débora bebe o seu copo de refresco e não demora muito para começar a passar mal, o que é delicioso de se assistir, mas também é quase cômico, porque é propositalmente exagerado. Débora morre lentamente, mas, antes, manda Cristina não assinar o acordo.

O grito de Cristina com a morte de Débora é gutural. Batendo em Eduardo e o chamando de incompetente por ter deixado a mãe morrer (?), Cristina manda todo mundo tirar essa expressão de tristeza do rosto porque sempre a odiaram, e pede que a mãe se levanta – e, de fato, Débora o faz… mas é apenas o seu espírito, em uma das cenas mais famosas de “Alma Gêmea”. Confusa, Débora tenta abraçar Cristina, depois tenta bater em Serena e Rafael, e só depois vê o seu próprio corpo inerte no sofá, e então o seu espírito é levado embora… para uma espécie de labirinto escuro cheio de sombras e risadas, até que uma porta se abra sabe-se lá para onde. Mas, como Alexandra eventualmente diz, para um lugar de muito sofrimento que ela não deseja a ninguém.

Que bom.

Quando Eduardo diagnostica a morte de Débora como “um ataque cardíaco fulminante”, Ivan e Cristina entendem ao mesmo tempo o que foi que aconteceu… acho ótimo que Cristina saiba o que houve, mesmo que não vá confessar. Antes de ir embora, deixando o corpo da mãe para trás, Cristina rasga o acordo de separação e diz que não vai assinar: ela quer dinheiro e vai arrancar tudo de Rafael… estar vivendo com “essa selvagem” é o suficiente para que qualquer juiz fique ao seu lado. Rafael, conversando com Eduardo, também entende o que houve: eles ligam a morte de Débora à morte de Guto (!), e percebem que tudo se encaixa, já que Débora foi até a cozinha… e o depoimento de Eurico, sobre a posição dos copos na bandeja, não deixa dúvidas.

Eles também entendem tudo.

Preciso dizer que eu entendo o que o Eduardo e a Serena dizem sobre não denunciar à polícia porque isso pode ser ruim para o Eurico e, de todo modo, Débora já pagou pelo que fez, mas eu não sou a favor de esconder a verdade de Adelaide… me deu angústia vê-la sofrendo pela morte de Débora sem saber o que de fato a matou. Enquanto Adelaide e Agnes sofrem, a cidade fica sabendo do velório que é marcado, e temos reações maravilhosas aqui. Eu gosto de como o Walcyr espreme a comédia dos momentos mais inesperados! Ofélia está toda contente com o velório porque “sempre tem comida boa”, por exemplo; Osvaldo convida Divina para ir com ele, porque “vai ser um passeio”; e Olivia se preocupa com que vestido ela vai usar, porque tem que estar bonita.

Naturalmente, todo esse movimento absurdo da cidade em direção ao velório é importante para a reação de Cristina… dei boas risadas durante o velório, com a Ofélia perguntando dos salgadinhos e a Olivia derrubando um monte de confete sobre o defunto, por exemplo, mas quando Cristina chega, o clima pesa e ela manda todo mundo embora aos gritos, os chamando de hipócritas e de falsos… preciso confessar que eu nunca gostei da Débora e que a Cristina é a vilã da novela e está cheia de atitudes erradas e tudo o mais: MAS, no seu lugar, eu teria agido da mesma maneira. A mãe dela acabou de morrer, todo mundo que está ali a odiava, e agora ficam fazendo cena? Sozinha com a mãe, Cristina pergunta a ela por que ela foi embora e o que ela fará sem ela…

E esse é um momento importante para a personagem!

 

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