Uma Família Feliz (2024)

Perversamente surpreendente.

Protagonizado por Grazi Massafera e Reynaldo Gianecchini, “Uma Família Feliz” é um filme de suspense com roteiro de Raphael Montes, responsável também pelo livro homônimo, e direção de José Eduardo Belmonte – E QUE FILMAÇO! Como deve ser todo bom suspense, “Uma Família Feliz” nos deixa intrigados, tensos e confusos o tempo todo… o roteiro, a direção e as atuações caminham lado a lado para nos entregar uma obra que nos deixa apreensivos, nos induz a tirar conclusões que nem sempre estão corretas, e nos surpreende com um plot twist interessante e, quiçá, macabro em seus últimos minutos. Gosto muito quando filmes de suspense conseguem explorar espaços contidos para se debruçar sobre a psique de seus personagens e as relações entre eles.

“Uma Família Feliz” é a história de Eva Carvalho – uma mulher que aparentemente tinha “a família perfeita”, e essa “felicidade” toda é questionada quando nos aprofundamos na história da família e percebemos o que está além da superfície e das aparências… Eva é a madrasta de Sara e Ângela, as gêmeas de 10 anos que são filhas do primeiro casamento de Vicente e que perderam a mãe em um acidente (?) de barco, e entender a relação das garotas com Eva é um dos mistérios do filme; além disso, Eva acabou de dar à luz a um garoto, Lucas, e ela tem que lidar com a pressão constante do marido que acredita que ele é o único que “trabalha de verdade”, enquanto ela “só brinca de bonecas”, porque o trabalho dela é justamente produzir bonecas…

Talvez o mais legal do filme, para mim, é a ideia de podermos imaginar diferentes conclusões e diferentes caminhos… eu, ao menos, tenho o hábito de ficar “tentando adivinhar” o que vem pela frente, e uma das minhas teorias, que durou pouquíssimos minutos porque eu logo percebi que não tinha como ser isso, era de que o Lucas nascera morto e Eva estava cuidando de um dos seus bonecos como se fosse seu filho, e por isso ele não pegava o peito – não foi algo em que eu acreditei por mais de, sei lá, 5 minutos, mas eu GOSTO disso! Gosto de ficar pensando em possibilidades, e depois ir me surpreendendo conforme as teorias vão sendo derrubadas por novas, até chegarmos a uma conclusão que pode ou não ser o que tínhamos imaginado anteriormente.

A trama do filme se desenvolve conforme coisas estranhas começam a acontecer. Lucas aparece machucado, por exemplo, e há algo que parece querer nos fazer acreditar que foi Eva quem o machucou. Depois, as gêmeas também aparecem severamente machucadas, e quando Eva e Vicente vão até a escola para saber se isso pode ter acontecido ali, uma das garotas acusa Eva de ter feito aquilo, e a outra confirma… a vida de Eva se transforma em um inferno depois disso. Ela está desesperada para obrigar as garotas a dizer a verdade, e ela quase perde o controle por pura exasperação aqui, e até mesmo Vicente começa a se perguntar se pode realmente ter sido ela – para piorar, as fotos dos machucados acabam no grupo do condomínio e Eva é prontamente julgada e linchada.

Então, Eva é “retirada” da vida de Vicente, das garotas e de seu próprio filho… e se em algum momento pensamos que talvez fosse mesmo Eva quem estivesse fazendo aquilo, paramos de pensar ao percebermos que isso seria óbvio demais. Uma boa parte do filme, também, nos induz a acreditar que o grande vilão é o Vicente, e que ele está encontrando uma maneira de tirar Eva de suas vidas. Ele tem alguns comportamentos que parecem suspeitos, já que o roteiro faz isso propositalmente, mas Eva não consegue nenhuma prova concreta de que Vicente abuse sexual ou fisicamente das garotas, nem com as câmeras que instala na casa nem no notebook que ela consegue acessar. E, eventualmente, percebemos que, assim como Eva, Vicente também não é o culpado…

A grande virada do filme vem nas últimas cenas, e vamos dizer: QUE CLÍMAX FASCINANTE! Eu não vou dizer que eu sempre soube que era a Ângela por trás de tudo, porque o filme é bem conduzido para que desconfiemos primeiro de Eva e depois de Vicente a ponto de estarmos prontos para condená-lo, mas minha mãe e meu namorado, que viram o filme comigo, podem confirmar que o meu comentário na primeiríssima cena de Ângela foi algo como: “Essa menina não presta”. Por isso, quando a cena vai se desenhando rumo a essa conclusão, eu senti as peças se encaixando com perfeição… é perverso, mas é inteligente e bem apresentado! A cena de Eva assistindo às gravações das câmeras que instalara, com Ângela esvaziando as cápsulas da irmã e jogando Lucas no chão, é fortíssima…

Mais forte ainda é a cena em que Eva coloca Ângela em frente ao computador para assistir ao vídeo ela mesma e a expressão da garota demonstra um prazer sem culpa alguma – como uma pequena psicopata. Ângela é dissimulada, fria e inteligente: ela calcula tudo para matar Sara e Lucas e para jogar a culpa sobre Eva e, assim, tirar os três de seu caminho… e é exatamente o que ela consegue. É chocante a cena depois de Ângela ter matado Sara (!), na qual ela se regozija falando sobre como ninguém vai acreditar em Eva, ou a frieza com que ela fala sobre como “o notebook caiu”, e Eva sabe que não pode escapar dessa garota… então, tudo o que ela faz é pedir que Vicente cuide do Luquinhas, e coloca Ângela dentro do carro com ela e dirige de frente para um caminhão…

A perversidade irônica da cena pós-créditos nem dá para mensurar.

Causa uma angústia tremenda aquela última cena… mas é de uma genialidade ímpar!

Um grande suspense, um grande filme!

 

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