Amigas e Rivais – A gravidez de Andrea
Estava
reassistindo “Amigas e Rivais”
recentemente e comentei com minha mãe e meu namorado que o maior medo de uma
mulher grávida no México deve ser descobrir que está grávida de gêmeos – afinal de contas, a julgar pelas
telenovelas, se você tiver gêmeos, um
deles certamente será roubado, doado ou qualquer coisa assim… as histórias
de gêmeos são premissas interessantes para novelas como “A Usurpadora”, “Cúmplices de
um Resgate” e, que eu assisti mais recentemente, “¿Quién es Quién?” E “Amigas
e Rivais” também ganha a sua parte com dois gêmeos que Nayeli reúne por
acaso… um deles, Moncho, é o seu padrinho que ela ama muito; o outro, Manuel, é
um homem extremamente rico que ela encontra por acaso quando está saindo do
trabalho, e o confunde com Moncho, causando
uma pequena confusão às portas de uma longa limusine.
Sempre digo
que Nayeli É UM ENCANTO. Ela tem um sorriso contagiante e uma inocência quase
infantil que a assemelha a personagens como a Maria do Bairro, e todos sabem que eu sou APAIXONADO pelas Marias
da Thalía. Eu sinto isso no seu modo de falar, ou no seu jeito meio deslumbrado
de olhar para a casa dos De la O em Acapulco, mas aquela sequência com Manuel e
a limusine é realmente UM MARCO na história de Nayeli! Ela vê Manuel, o cara podre de rico, e imediatamente pensa que
é Moncho, embora não entenda como ele conseguiu dinheiro para alugar aquela
limusine, tampouco entenda aquela “brincadeira” toda, enquanto Manuel assiste a
tudo com certa perplexidade – eventualmente, quando ela percebe que Manuel está
dizendo a verdade, ela o leva para conhecer o “cara sobre quem ela está
falando”, que supostamente é igualzinho a ele…
É uma
história que se resolve rapidamente, e eu fico feliz por Manuel ser uma pessoa
de bom coração. Manuel e Moncho se dão conta de que, para serem tão parecidos,
eles precisam ser irmãos, e resolvem investigar o próprio passado – não demora
para que Manuel descubra que foi adotado, como se fosse uma mini-novela se resolvendo
dentro de “Amigas e Rivais”, mas a
trama ainda se complica um pouco mais… os dois comparam suas vidas, alegrias e
sofrimentos, desejam estar no lugar do outro – Manuel diz que ele tem “uma vida
vazia”, que as pessoas só se aproximam dele por
interesse, enquanto Moncho tem o amor de pessoas como a Nayeli. Quando um
diz que “queria ser o outro”, Nayeli acaba perguntando porque “eles não trocam
de lugar então”, e eles, quase como dois adolescentes irresponsáveis, resolvem tentar mesmo.
Entendo
Silvana e Mariana fazerem isso!
MAS DOIS
MARMANJOS COMO MANUEL E MONCHO?!
A história,
que era para ser leve, no entanto, acaba ficando um pouco mais complicada porque Manuel é o pai de Germán, o homem
que estuprou Andrea há algum tempo, e de quem agora ela está grávida. Quando
Germán aborda Andrea novamente em uma boate, ela fala da gravidez e,
desesperado, ele vai falar com Manuel. Na segunda vez em que vai conversar com
o “pai”, Manuel e Moncho já fizeram a
troca… dessa vez, Germán diz a Moncho que pensou sobre o assunto e vai assumir o filho, o que me parece
totalmente doentio, e já me dá uma angústia tremenda pensar em Andrea tão
próxima de um cara que lhe fez tanto mal! Jimena a está aconselhando a abortar,
porque “é um crime uma garota de 17 anos dar à luz a um filho de um
estuprador”, mas embora Andrea realmente fale
sobre isso (inclusive a Germán), ela não
tem certeza.
“Amigas e Rivais” realmente não tem medo
de colocar o dedo na ferida, não é? Eu sou a favor da vida, mas não julgo
Andrea na decisão de fazer um aborto, e defendo o seu direito de decidir. Sinceramente,
eu não acho que Andrea devesse ter contado a Germán sobre a gravidez, mas
também compreendo o que ela sentiu: ela
queria jogar na cara dele o que tinha feito com ela. Mas agora tudo fica
muito mais complicado, porque Germán está se dizendo “arrependido” e pedindo
perdão pelo que fez, e as pessoas estão
ficando do lado dele – mas é perverso demais pensar em ter um cara que te
estuprou assumir um filho seu, não? O trauma ainda é evidente nos olhos de
Andrea, no pavor que ela sente ao vê-lo se aproximar, em tudo. E o México é um
país ainda mais conservador do que o Brasil, e então eles tratam o assunto como
“crime” e como “pecado” e, por isso, Moncho pergunta a Andrea quanto dinheiro ela quer para não abortar
e, sinceramente?
Eu realmente me decepcionei com ele naquele
momento.
O tema do
aborto é ATUAL e merece ser discutido. Eu não vou me aprofundar no assunto
agora, mas a legalização do aborto
(legal em países como Canadá, França, Holanda) não é equivalente ao seu
incentivo – as pessoas de mente mais fechada tendem a pensar que, uma vez
legalizado, as pessoas vão “abortar a torto e a direito”, mas não é o caso. As
mulheres não serão incentivadas a
abortar, mas apenas compreendidas em situações de trauma, como a de Andrea, ou
quando representa um risco para a vida da mãe, por exemplo… e, mais do que
isso, essa é uma questão de SAÚDE PÚBLICA, porque mulheres que estão
determinadas a fazer um aborto a farão de
qualquer maneira, legalizado ou não, e então elas se colocam em risco em
clínicas clandestinas e acabam morrendo como Wendla em “O Despertar da Primavera”. Uma
peça que se passa no século XIX, e com a qual o pensamento da nossa sociedade
ainda se parece demais.
Isso é
assustador, não?
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