97th Academy Awards – Oscar 2025

Ainda Estou Aqui!

Foi uma noite de vitórias e de derrotas que nos deixa com um gostinho agridoce na boca. É verdade que queríamos mais… é óbvio que queríamos a Fernanda Torres TOTALMENTE PREMIADA se sentindo o Pikachu (poxa, eu queria o Walter Salles ganhando Melhor Diretor, mesmo sabendo que ele nem tinha sido indicado!), e que o prêmio de Melhor Atriz indo para a protagonista de “Anora” nos deixou cabisbaixos e com a sensação de que fomos roubados, com um pouquinho de dejá vù de 1999, mas eu gostaria de elencar três coisas: 1) o fato de Fernanda Torres ter sido indicada e estar ali já é uma vitória; 2) a maneira como o Brasil se uniu e torceu por esse prêmio é uma vitória maior ainda, porque história foi feita nesses meses; e 3) ganhamos Melhor Filme Internacional.

Tenho coisas importantes a falar sobre isso, mas vou por partes.

Gostaria de iniciar falando que a abertura da cerimônia do Oscar 2025 foi lindíssima, como eu esperava que fosse. Eu sou apaixonado por “Wicked” há muitos e muitos anos, e ter Ariana Grande e Cynthia Erivo abrindo essa noite cantando ao vivo e provando que musical se faz sem uso de IA foi lindo. Ariana canta “Somewhere Over the Rainbow”, música clássica de “O Mágico de Oz”, de 1939, vestida dos sapatinhos de Dorothy. Cynthia, por sua vez, canta “Home”, uma música incrível que sempre me emociona. E, juntas, elas cantam um trecho de “Defying Gravity”, em uma performance linda, emocionante e entregue que me deixou arrepiado! É lindo ver esse reconhecimento do cinema musical e Cynthia Erivo está incrível dando o grito de guerra de Elphaba.

Falando em “Wicked”, eu fiquei muito feliz com as suas vitórias nessa noite… foram vitórias merecidíssimas de quesitos técnicos, e eu imagino que outras vitórias importantes virão no ano que vem, por “Wicked: For Good”, que tem uma carga dramática muito maior do que o primeiro filme. O musical ganhou primeiro o prêmio de Melhor Figurino, com direito ao Bowen Yang sendo uma piada bacana que valoriza o figurino do filme (!), e o discurso de Paul Tazewell, o primeiro homem negro a ganhar o prêmio de Melhor Figurino, foi profundamente emocionante. Chorei com o discurso, os aplausos de Cynthia, os gritos… depois, “Wicked” ainda leva o igualmente merecido prêmio de Produção de Arte, e é só pensar em quanto foi CONSTRUÍDO ao invés de se usar CGI.

Merecido demais!!!

Além das duas vitórias de “Wicked”, algumas técnicas merecidas também a “Duna: Parte II”, dois prêmios para “Emilia Pérez” (o de atriz coadjuvante eu aceito, mas premiar Canção Original a um filme que utiliza IA nas canções é um absurdo indizível!) e “Anora” ganhando vários dos prêmios mais importantes da noite, eu gostaria de ressaltar a vitória de “Flow” como Melhor Animação. O que foi feito nesse filme é incrível, e o ter sendo reconhecido nessa premiação é algo gigantesco – a Letônia deve estar em festa até agora! “Flow” é um filme lindíssimo, feito em um software livre e que consegue, sem falas, transmitir tanta verdade tanto no comportamento daqueles animais quanto em tudo o que eles representam ou podem representar além do óbvio.

É genial!

Mas falemos de “Ainda Estou Aqui” e, como eu comentei no início do texto, eu quero comentar a grandiosidade da vitória na categoria de Melhor Filme Internacional e focar nisso. Lamento e seguirei lamentando o fato de Fernanda Torres ter perdido (e, surpreendentemente, não para Demi Moore, como tantos temiam, o que é até irônico), mas também celebro e seguirei celebrando a vitória de “Ainda Estou Aqui”, que tem uma mensagem muito óbvia: ALGUMAS HISTÓRIAS DO PASSADO NÃO PODEM NUNCA SER ESQUECIDAS. Histórias como a de Eunice Paiva precisam ser contadas porque elas não podem se repetir, e a vitória de um filme como “Ainda Estou Aqui” em um momento político como esse vai muito além de uma premiação cinematográfica…

A premiação de “Ainda Estou Aqui” nos lembra que a arte de fazer cinema não se refere apenas e exclusivamente ao lazer… que a arte de fazer cinema também está relacionada a incomodar, a cutucar, a tocar em feridas. Depois de anos com uma presidência que prestava homenagem a torturadores e que tentou um golpe de estado, ter um filme como “Ainda Estou Aqui” sendo colocado sob os holofotes e sendo reconhecido é uma vitória de resistência! É o reconhecimento de que ainda estamos aqui, que nos lembramos e que não vamos permitir que se repita. Um filme importantíssimo que lança um olhar sobre a Ditadura Militar no Brasil, que fala sobre o sequestro e o assassinato de tantas pessoas com ideias divergentes, que nos convida a lembrar e resistir.

Vocês entendem a GRANDIOSIDADE de ter um país torcendo por esse filme e por essa história?

“Ainda Estou Aqui” se torna o primeiro filme brasileiro a vencer na categoria de Melhor Filme Internacional, e é uma vitória ao nosso país. O momento desse anúncio ficará gravado para sempre na memória de quem estava ali, acompanhando a cerimônia, aguardando esse momento, sendo corroído pela ansiedade… foi uma sensação tão boa de coração disparado no momento em que “Ainda Estou Aqui” foi anunciado como vencedor, um momento que compartilhamos com tantos outros brasileiros que estavam vivendo aquilo ao nosso lado. Foi emocionante, foi recompensador, foi lindo, e celebramos em casa, nas ruas, em blocos de carnaval, na transmissão… e Walter Salles entrega um discurso lindo dedicado a Eunice Paiva e às duas Fernandas incríveis com quem trabalhou.

Lindo, absolutamente lindo. Ainda estamos aqui.

Fernanda Torres fez história. Com uma carreira belíssima, um carisma praticamente inigualável e um Golden Globe nas mãos, Fernanda Torres ganhou as redes e se tornou assunto na boca dos brasileiros… e de tantas outras pessoas de outros países que ficaram simplesmente ENCANTADOS com ela nesses meses de campanha para o Oscar. Sempre fui um grande fã de Fernanda Torres (poxa, eu cresci amando “Os Normais”!), e poder presenciar a maneira como ela se tornou ainda mais amada pelo povo brasileiro graças a “Ainda Estou Aqui” é recompensador demais. Ela não estava errada quando disse que já era uma vitoriosa… ela é, todos nós somos. Que seja um passo importante para a valorização da arte e dos artistas brasileiros!

 

Confira a lista completa de vencedores do Oscar 2025:

 

Lista completa de Ganhadores do Oscar 2025

 

Melhor Ator Coadjuvante – Kieran Culkin (A Verdadeira Dor)

Melhor Animação – Flow

Melhor Curta-Metragem de Animação – In the Shadow of Cypress

Melhor Figurino – Wicked

Melhor Roteiro Original – Anora

Melhor Roteiro Adaptado – Conclave

Melhor Maquiagem e Penteados – A Substância

Melhor Edição – Anora

Melhor Atriz Coadjuvante – Zoe Saldaña (Emilia Pérez)

Melhor Design de Produção – Wicked

Melhor Canção Original – El Mal (Emilia Pérez)

Melhor Documentário Curta-Metragem – A Única Mulher na Orquestra

Melhor Documentário – No Other Land

Melhor Som – Duna: Parte II

Melhores Efeitos Visuais – Duna: Parte II

Melhor Curta-Metragem – I’m Not a Robot

Melhor Fotografia – O Brutalista

Melhor Filme Internacional – AINDA ESTOU AQUI

Melhor Trilha Sonora – O Brutalista

Melhor Ator – Adrien Brody (O Brutalista)

Melhor Direção – Sean Baker (Anora)

Melhor Atriz – Mikey Madison (Anora)

Melhor Filme – Anora

 

 

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