Severance (Ruptura) 2x06 – Attila

“I don’t want her memory. I want my own”

Eu gosto da complexidade que “Ruptura” consegue atingir, e eu gosto de como são tantas coisas a serem observadas e avaliadas. Ainda que essa segunda temporada não nos traga exatamente as respostas que esperávamos de todo o mistério por trás da Lumon, por exemplo, percebemos como uma trama maior está sendo construída e, enquanto isso, a série trabalha com maestria com o suspense, nunca deixando de lado o seu tom filosófico e questionador, que eu considero o cerne de “Ruptura”. Muito interessante toda aquela conversa que surge na casa do Burt Externo, por exemplo, e como a religião foi usada para incentivar a ruptura… é algo em que talvez nunca tenhamos parado para pensar até esse momento.

Mark S. segue muito mais desmotivado do que ele costumava ser, depois de todos os últimos acontecimentos, mas ele tira algo de sua mente no momento em que escolhe contar para Helly o que acontecera no acampamento… o que acontecera entre ele e Helena. É extremamente doloroso, e ambos se sentem enganados e usados por Helena Eagan, e a maneira como Helly lentamente digere essa informação é silenciosa e potente. E, então, ela toma uma decisão: ela vai tomar as rédeas de sua vida, ela vai enfrentar Helena, ela vai “fazer as suas próprias memórias”, e é assim que ela diz a Mark que ela quer sua própria memória de algo assim com ele, porque Helena pôde viver isso com ele e ela não… e é então que eles encontram um lugar na Lumon para fazer sexo.

É estranho, mas também é fofo… e verdadeiro.

O problema é que Mark está oscilando cada vez mais entre Mark S., o Interno, e Mark Scout, o Externo, por causa do processo de Reintegração. O nariz começa a sangrar enquanto ele está no Andar da Ruptura, e os flashes parecem mais frequentes, de maneira a Mark estar cada vez mais confuso, cada vez mais “perdido”. E quando ele resolve “deixar a Reintegração para trás”, mesmo com uma memória cruzada recente, o que pode ser um bom sinal, ele recebe uma visita das mais estranhas possíveis na lanchonete em que está: Helena Eagan. Toda aquela cena me causa uma angústia sem tamanho! Não entendemos qual o jogo de Helena, qual a intenção, e é desconfortável como ela fala sobre a esposa de Mark, propositalmente errando o seu nome…

Então, Mark percebe que ele precisa voltar.

Enquanto isso, Irving se prepara para um jantar na casa de Burt e do marido, Fields. E aquilo não poderia ser mais estranho ou mais suspeito. Infelizmente, toda a doçura do Burt Interno não precisa necessariamente ser um reflexo do Burt Externo (vide Helly/Helena), e a sequência toda me parece deixar bem claro que não se pode confiar no Burt Externo, o que é uma reviravolta interessante… e triste. Irving está razoavelmente interessado em toda aquela dinâmica (embora também haja muito sobre ele que desconhecemos), mas a situação toda é bizarra, e a atuação de Christopher Walken é tão fenomenal que nós percebemos no seu olhar o brilho mais perverso do que o do Burt Interno. E aquela história dos “20 anos de ruptura” são uma dica importante.

QUEM é Burt, afinal de contas?

Gosto de como a sequência desse jantar explora muitas possibilidades. A presença de Fields torna tudo muito mais humano e desesperador, a meu ver – a maneira como ele fala sobre a possibilidade de os Internos de Burt e de Irving terem transado no Andar da Ruptura, por exemplo, e como é doloroso, mas há, talvez, alguma verdade em como ele diz que defende que os Internos merecem viver e conhecer o amor ou algo assim… e é daí que vem toda aquela discussão que pode ter convencido Burt a fazer a ruptura: o Interno é um ser separado, com sua própria alma, que pode ser “julgado” independentemente de seu Externo? A religião como forma de manipulação é trazida à tona nesse diálogo genial, e realmente ficamos nos fazendo essa pergunta…

Pode?

Eles de fato são pessoas diferentes, não são?

Falando sobre “serem pessoas diferentes”, uma outra trama está sendo trazida à tona com Dylan G. e os “privilégios” que ele ganhou na Lumon: as visitas da esposa do seu Externo. Se no outro episódio isso ficou implícito, esse episódio escancara a maneira como a relação entre a esposa e o Externo, do lado de fora, não anda bem… mas ela se dá bem com o Interno, como se visse nele “uma nova pessoa” ou, ainda, uma “nova possibilidade de ser feliz” – embora o Interno só viva algumas horas por dia, e sempre preso dentro do Andar da Ruptura da Lumon. Para Dylan G., as coisas estão incríveis; o Dylan Externo não sabe bem o que está acontecendo; e a esposa escolhe mentir sobre nem ter ido à Lumon naquele dia, porque ela quer guardar aquilo para ela…

Para ela e para o Dylan Interno.

Por fim, retorno a Mark para falar sobre o próximo passo do processo de Reintegração – algo perigoso e arriscado, mas que Mark considera necessário, especialmente depois da conversa estranha com Helena Eagan. O processo é extremamente gráfico, parece doloroso, e nós não sabemos quais efeitos trarão para os Marks… se eles são mesmo duas pessoas diferentes, o que acontece quando as memórias se fundem? Os flashes entre Interno e Externo ficam mais fortes do que nunca, em uma desorientação gigantesca, e Adam Scott BRILHA novamente na atuação, sabendo diferenciar tão bem seus dois personagens… é interessante quando ouvimos uma única frase no tom de voz exato do Interno sendo dita pelo Externo na garagem com Asal, por exemplo.

Eu amo esse jogo todo. Eu amo essa série!

 

Para mais textos de “Severance (Ruptura)”, clique aqui.

 

Comentários