Deixa o sol entrar... – Hair


Hair foi o musical mais clássico da Broadway que eu tive o prazer de assistir ao vivo. Conferi na semana passada, sexta-feira, dia 13 de Janeiro, em São Paulo no Teatro Frei Caneca - é, na estréia do musical em território paulista. Foi o momento em que eu mais me senti realmente dentro de uma produção da Broadway, que eu mais vivi essa emoção. Foi algo grandioso, brilhante, vibrante, enérgico, maravilhoso. E emocionante…
Para quem já conhece Hair, sabe que ele tem um tanto quanto polêmica o envolvendo. A peça trata da vida de uma tribo de hippies morando em Nova York em 1968 – momento em que o país passa por conflitos com o Vietnã, e muitos jovens estão sendo recrutados, muitas famílias perdendo os filhos. E ainda que se passe numa área que pode parecer tão específica, a peça é abrangente e atual. E Charles Möeller e Claudio Botelho sempre dão um toque diferente, sua própria visão sobre o espetáculo… e, eu os considerando brilhantes, eles nos apresentam uma peça nada menos do que isso.
A peça é magnífica. O cenário é perfeito, as músicas são incríveis, a energia dos atores é imensa, a atmosfera nos leva para dentro daquele lugar de verdade. E eu nunca vi tanto talento junto. Tenho que dizer que o elenco de Hair no Brasil está sendo integrado por um grupo de se tirar o chapéu: todos ótimos com o público, ótimos dançarinos e cantores. Nos garantem um espetáculo nada menos do que perfeito e envolvente.
Os atores são brilhantes, e eu vou começar dando um grande destaque para Hugo Bonemer, interpretando Claude – se eu posso dizer que sou fã de alguém após conferir um único trabalho, é dele. Um talento arrebatador… ele deu show em todas as suas cenas, cada vez melhor. Não foi apresentado como um protagonista (embora eu já tenha me encantado pelo personagem logo de cara – “Oi [alguns ois da platéia] Valeu”, tímido), mas foi o lead role perfeito… no segundo ato ele foi maravilhoso em sua cena de alucinação, e depois em suas cenas finais. E seus olhos transmitiam perfeitamente o que o personagem sentia… dava para vê-lo com os olhos brilhando de lágrimas. Invisível. Um trabalho incrível.
Outras pessoas que deram show foram Fernando Rocha como Berger – principalmente em suas cenas iniciais, indo até a platéia e gerando uma interação muito divertida e muito bem feita. Kiara Sasso como Jeanie – já gostando dela desde Mamma Mia! é meio difícil de comentar, mas ela arrebentou mais uma vez (e fez eu me lembrar um pouco da Phoebe – “O Claude me ama”). Marcel Octavio como Woof – e sua obsessão por Mick Jagger. E Estrela Blanco como Crissy – ela realmente me conquistou com Frank Mills, porque aquele foi um dos melhores solos da peça (e a platéia vibrou com a apresentação). E todos os demais do elenco deram um show atrás do outro, mas vou comentar apenas alguns.
A peça, como sempre, é dividida em dois atos, mas nela, mais do que nunca, há uma diferença gigantesca entre o primeiro e o segundo. O primeiro ato é leve, descontraído, nos faz rir o tempo todo. A história vai sendo apresentada, vamos conhecendo os personagens, mas temos piada o tempo todo. A interação com a platéia acontece em diversas cenas, e sempre arranca algumas gargalhadas (“Eu conheço a senhora. A senhora é a mãe do outro, não é? Do amigo?”) e é tudo muito bonito. O segundo ato praticamente não tem piada e nos apresenta uma narração bem mais escura, mais sofrida, e emocionante. O segundo ato é o momento de encarar a realidade, os problemas, de ficar com o pesar no peito.
E as cenas do segundo ato são extremamente bem produzidas. Para mim, o destaque fica para quando Berger dá uma droga diferente para Claude e ele começa a convulsionar e ter alucinações. Hugo Bonemer (como em todo o restante do espetáculo) fez suas convulsões com precisão, um ótimo trabalho. Enquanto isso, o restante da tribo encenava as alucinações que ele estava tendo; e tudo foi feito de maneira muito real, e muito comovente – sentíamos como se estivéssemos mesmo dentro da mente de Claude, vendo tudo aquilo acontecer… acho que nenhuma outra produção mostrou um cérebro influenciado pela droga em ação tão bem quanto Hair.
Um fator comum em todo o espetáculo foi a quantidade de vezes em que os atores se misturam com a platéia. Desde a primeira cena, em que parte do elenco já sai do meio dos bancos podemos ver isso; depois temos Berger vindo para o meio da platéia mexendo com várias pessoas, e o elenco em geral indo para o meio do teatro o tempo todo… temos isso nos momentos das manifestações contra a guerra, por exemplo, durante a brilhante performance de Hair, no fim da peça em que todos a encerram no fundo do teatro, e muitas outras cenas. Em quase toda cena ao menos um ator ia para o meio do público, e isso os aproximava ainda mais de quem estava assistindo… fez com que nós nos sentíssemos mais parte do espetáculo, e foi incrível.
Já que eu já comentei a performance de Hair, tenho que dizer: foi o melhor momento da peça. Cada momento foi bom a sua maneira, e com tantas músicas (35 no total) várias delas foram marcantes, mas a cena de Hair foi a mais contagiante. Não tem como explicar a sensação de ver aquilo ao vivo, mas a coreografia, a letra e a energia estavam maravilhosas, e a cena merece o título de melhor música do espetáculo – foi aquela cena que te deixa sorrindo por vários minutos, amused. Sem contar que Margaret Mead fazendo a introdução da cena (com piadas geniais) foi extremamente divertida.
E claro, como finalizar um texto de Hair sem comentar sobre a famosa cena de nudez total no fim do primeiro ato? O primeiro ato finaliza-se ao som de Pra Onde eu Vou?, na voz de Claude, enquanto todo o restante do elenco fica totalmente nu em protesto contra a guerra; para quem não assistiu, pensar em 29 atores nus ao mesmo tempo em um palco pode parecer um tanto chocante, mas a peça nos apresenta isso de maneira natural e bela… a cena se torna emocionante e épica com toda a história que a cerca e a bela música cantada pelo protagonista. Uma das principais marcas de Hair.
Hair foi um espetáculo maravilhoso, com 30 atores extremamente talentosos, músicas e coreografias perfeitas, muito movimento, muita agilidade; nos guiou para os diversos momentos, desde os mais animados (como Hair) até os mais sombrios e tensos (como Três-Cinco-Zero-Zero e Que Obra de Arte o Homem É). Não tem como sair do teatro sem aquela sensação de ter visto algo grandioso; você está emocionado, com lágrimas nos olhos, ou em algum lugar dentro de você tentando sair… é verdadeiramente lindo, e vale muito a pena… sem contar que ainda pudemos subir ao palco ao final do espetáculo (convidados por Claude e ajudados pelo restante do elenco) e não tem emoção maior do que essa… amanhã coloco minha foto no palco de Hair! Até mais! Quem tiver a chance de assistir ao musical ao vivo em São Paulo, eu recomendo!

Comentários

  1. Muito obrigado, Jefferson!!! To muito emocionado e mostrando aos meus colegas o texto carinhoso que você escreveu sobre o nosso trabalho. Um abraço bem apertado e mais uma vez muito obrigado!

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  2. Muito obrigado :D Fiquei muito contente de ler seu comentário, e de saber que vocês estão lendo meu texto (: Consegui ficar mais emocionado ainda hdsaiodhoaisdsa mas vocês são incríveis, um ótimo trabalho... ontem à noite estava vendo seu vídeo no YouTube em que você conta a história do currículo não impresso kkk sou aqui do Paraná também! :D
    Continuem com esse trabalho, que está perfeito! Se possível, eu vou assistir mais uma vez antes do fim! Abraço...

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  3. Oi Jefferson, Muito obrigado pelas palavras, adorei tudo que vc escreveu! Que bom saber que vc saiu emocionado no final e que conseguimos passar pra vc a linda mensagem da nossa peça.
    Valeu, Um grande Abraço.

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  4. Ah, só fiquei triste porque as fotos divulgadas aqui não são as do elenco de São Paulo. hs.

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  5. Obrigado pelo comentário! :D eu fico muito feliz de receber os comentários de vocês... desculpa pelas fotos kkk é que quando eu postei, não estava muito fácil achar fotos do elenco de São Paulo ainda... =/ mas eu estou escrevendo mais sobre vocês, daí eu coloco fotos suas, prometo hdaioshdioada grande abraço!

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