“Não me pergunte, a alucinação é sua!”


Hair traz a história de uma tribo de hippies morando em Nova York em 1968, época da Guerra do Vietnã. O musical tem bem o estilo de vida deles apresentado e coisas que eles pregavam (a paz e o amor), lutas que empreenderam (protestos contra a guerra). Tudo regado a músicas brilhantes, atores incríveis e coreografias impecáveis. O musical é um dos melhores que o Brasil viu nos últimos anos, com certeza…
A droga é um assunto que permeia toda a peça (e destaque para Jeanie, que passa toda a peça chapada), mas tem uma grande cena sobre isso no segundo ato – parte desse ato é passada durante a alucinação de Claude, após receber ácido de Berger. Sendo mais forte do que o normal, e estando com toda a pressão de seus sentimentos em conflito com a pressão dos pais e da sociedade, Claude embarca em uma grande alucinação, orquestrada com perfeição.
A cena toda é bastante forte e marcante – toda a cor e felicidade do primeiro ato parecem sumir por um tempo. É brilhante como eles representam uma mente em alucinação. Ela começa com Claude fazendo parte de tudo, com a música Caminhando no Céu, a Guerra do Vietnã e coisas assim (um grande grito de protesto, bastante claro)… Hugo Bonemer interpretando Claude é nada menos do que genial. Se ele já é brilhante em todas suas cenas, suas confusões, seu grito de “EU QUERO ACORDAR!”, ele ganha ainda mais destaque enquanto está tendo convulsões e o restante dos acontecimentos se passam atrás dele… o ator se mostrou incrível, e com um preparo impecável – a cena não é nada fácil, além de ser bem-feita, precisa emocionar, e Hugo com sua coreografia perfeita à frente e os demais atores ao fundo conseguem te emocionar de verdade…

Na fila pra morrer
Eu devo me inscrever
A guerra já chamou
E o barco me esperou
E eu aqui
Num oceano de estrelas

Todas as músicas dessa cena toda são marcantes, e parecem realmente vindas de uma alucinação. Ao ouvi-las, eu me sinto no lugar de Claude, parece que estou sendo transportado realmente para dentro de sua mente – e isso é um motivo de aplausos às pessoas responsáveis pela adaptação! A cena é ainda mais emocionante no Brasil que em sua versão original na Broadway… opinião minha. Além de Caminhando no Céu, temos 3-5-0-0 (uma ótima música de protesto à guerra), Que Obra de Arte o Homem É (sobre a qual já comento) e O Fogo dos Sonhos (para finalizar a cena).

Presos em Niggertown
Essa guerra é suja, sim
Três cinco zero zero
É pra matar, e depois enfim
Vai voltar pra casa o pelotão

Os pais de Claude (interpretados por Bruna Guerin e Conrado Helt) voltam a ter grande participação nessa cena, e estão ótimos, como sempre. É emocionante vê-los em todos os momentos, desde à “conversa” com a roupa de soldado até a brilhante música que eles cantam – Que Obra de Arte o Homem É. Uma das melhores músicas do espetáculo, e eles transmitem a emoção do momento de maneira perfeita. Ao mesmo tempo em que é bonita, também é triste, e você sente um pesar no peito.

Que obra de arte o homem é
Nobre em seu princípio
Que vastos horizontes tem
Em forma e gesto, que perfeito e único ser

Como toda grande cena precisa de uma finalização à altura, O Fogo dos Sonhos vem para fechar essa parte, mas o destaque (mais uma vez) vai para Hugo Bonemer interpretando Claude, transmitindo as decisões e pensamentos do personagem – e seus sonhos para o futuro, que nunca chegaram. É a partir desse momento que os atores já começam a nos arrancar lágrimas – para mim, especialmente na fala “Eu sei o que eu quero ser. Invisível. […] Posso fazer qualquer coisa. Posso até operar milagres. Isso é a única coisa que eu quero fazer na terra”.

Mas vão roubar
O fogo dos sonhos
Ando no céu e sei o gosto da paz
Aqui onde estou todo mundo escapou
De olho aberto, de braços abertos

A cena é grandiosa, forte e emocionante demais. Incrível o leque de emoções que essa peça consegue passar para as pessoas. Você sairá do teatro emocionado, e admirado, com toda a certeza. Quem ainda não assistiu e tiver a oportunidade de assistir, a peça ficará em cartaz até o fim do mês; até o dia 22, no Teatro Frei Caneca em São Paulo, e depois até o dia 29 no Auditório do Ibirapuera. Dia 21, sábado, estarei no teatro para as duas sessões! Para Hair não é exagero... até mais!
Clique em “ler a matéria na íntegra” para ver um cronograma completo da seção do blog: Hair, o Musical (da qual essa é a décima postagem).

11 de Abril – “Não me pergunte, a alucinação é sua!”
25 de Abril – Finalização da seção Hair, o Musical

Comentários

  1. Me emocionei só de ler....essa é a parte mais tocante do espetáculo!!!!! De uma perfeição, incrível!!!!!!!! Nessa hora os olhos lacrimejaram.

    ótimos atores, na verdade, não conhecia nenhum e fiquei surpresa!!! Todos...excelente!

    beijãozão*

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    Respostas
    1. Com certeza excelentes... o nível de atuação deles é altíssimo, muito talento, de todos eles... e essa cena é marcante, uma das mais lindas do espetáculo, muito bem feita! (:

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