Os Intrumentos Mortais, Livro Um – Cidade dos Ossos
Eu li o livro bastante depressa, começando num dia
que disse que não ia ler nada – mas fazer o quê se justamente naquele dia de
manhã o livro chega na minha casa? Talvez tenha demorado um pouco para pegar o
ritmo de Cassandra Clare em sua narrativa, mas depois foi puro deleite. O livro
é delicioso, tem uma leitura bastante fácil, repleta de ação e emoção, e uma
história contundente. Confesso que tive medo de a história ser deixada para
segundo plano por um romance ou algo assim (sem lembrar de nenhum outro
livro!), e FELIZMENTE isso não acontece! Cassandra Clare tem suas prioridades
muito bem definidas, e conta uma história bastante interessante e cheia de
conteúdo, no qual o resto é conseqüência.
E fiquei fascinado pelos protagonistas que ela
criou. Clary Fray é uma ótima protagonista, e aos 15 anos não se deixa levar
pelo estereótipo de mocinha em perigo. Bastante ágil e cheia de atitude, ela é
determinada e não fica submissa a ninguém. Dá para admirar. Jace é poderoso,
bonito e encantador – especialmente por seu modo sarcástico e seus comentários
inteligentes. Simon eu acho fofinho ao extremo, e realmente gosto muito do
personagem, sempre sentindo sua falta quando ele não estava. E Alec e Isabelle
podiam ter sido mais desenvolvidos, mas acho que fica para o futuro.
Embora tenha gostado da audácia da história de
Alec!
O livro conta a história de Clary Fray, uma menina
aparentemente comum que presencia um assassinato em uma boate, o Pandemônio. No
entanto, os adolescentes responsáveis por esse assassinato são estranhos –
bonitos e com o corpo coberto de tatuagens e símbolos diferentes; e ela é a
única capaz de vê-los. E o corpo simplesmente desaparece depois que eles
terminam o serviço, bem em frente aos olhos chocados de Clary, que abandona
Simon sem que ele tenha conhecimento de nada disso.
A partir disso, Clary é apresentada ao Mundo das
Sombras, e a Visão começa a funcionar e ela começa a ver o mundo de uma maneira
totalmente diferente do que já viu em toda sua vida. Ou pelo menos é o que
pensa. O grupo de Caçadores de Sombras a “acolhem”, e logo em seguida sua mãe é
sequestrada, acreditando que ela pode ter informações a respeito de onde está o
Cálice Mortal. Tendo que enfrentar demônios em seu próprio apartamento, e
segredos escondidos de você por pessoas que acreditava conhecer muito bem, ela
entra em uma jornada por esse novo Universo até entender exatamente quem é, e
quem são as pessoas à sua volta.
O livro é muito bom porque a autora consegue
reunir uma grande quantidade de criaturas e mitos em uma única história, sem
extrapolar seu universo. Tudo bem justificado e com uma história bem
interessante, ela incorpora demônios, vampiros, lobisomens, feiticeiros,
Caçadores de Sombras e uma infinidade de outros elementos que funcionam bem
juntos, proporcionando uma heterogeneidade satisfatória. E deslumbrante. As
cenas de ação são abundantes, e ela não se importa muito se está sendo cruel ou
explícita, mas a ação é bem justificada pelos elementos da história – e ainda
consegue misturar um quê de romance adolescente, e muita emoção. Além de
revelações surpreendentes, reviravoltas malucas e questionamentos que quase nos
fazem pirar tentando decidir qual história aceitar como verdadeira.
Se há alguma.
Mas mesmo com a abundância de elogios que eu tenho
à história de Cidade dos Ossos, eu
tenho que fazer algumas ressalvas que me deixariam desesperado se eu não
compartilhasse. Não duvido da capacidade de criar uma boa história de Cassandra
Clare, mas ela realmente precisa trabalhar um pouco na junção de sua narrativa.
Muitas vezes as conjunções parecem fracas, meio desgastadas, e sentimos a falta
de algo. As metáforas, infelizmente, são ou muito pobres, ou muito repetitivas…
em alguns momentos eu quis realmente acreditar que foi um problema da tradução
brasileira, mas não podemos culpar isso – foi o que Clare escreveu mesmo, e
trechos como “O maior dos lobos, um
monstro cinza tigrado com dentes como os de um tubarão, deu uma risada como a
de um cachorro” são deprimentes, beirando a vergonha alheia. Mas nada disso
impede a história bem pensada que ela quer passar e passa, muito menos na
construção dos personagens, que acabam sendo bastante humanos e convincentes, e
nos afeiçoamos a eles como pessoas reais.
Admiro a coragem do que ela fez com Alec.
E nesse sentido, mesmo com a abundância em
criaturas do Submundo e com muito sobrenatural bem contado, a autora criou uma
história bastante humana. Seus personagens realmente transbordam humanidade, e
parecem incrivelmente reais, com características bem definidas e tipicamente
nossas – o sarcasmo de Jace, o medo e a coragem mescladas em Clary, junto à sua
determinação, o bom coração de Simon, mesmo partido. E seus diálogos são absurdamente
vívidos, e bem construídos. Duas grandes cenas em especial me fascinaram, e
foram as conversas de Simon, Jace e Clary e as cenas finais de conversa com
Valentim – uma grande variedade de falas que parecem vindas de uma situação
real, que torna tudo muito crível – e aquilo tudo que queríamos escutar os
personagens falando. Imagino-os em minha cabeça, exaltados daquela maneira,
inundados com as emoções do momento. Realmente magnífico, ponto para a narração
de Clare.
Terminei um capítulo e vim correndo escrever sobre
o quanto ela foi uma boa autora na escolha e construção de história para
colocar uma história contundente e repleta de informações, nas quais o romance
seria apenas um dos elementos. Uma das conseqüências. Com dois personagens
absurdamente diferentes e encantadores à sua maneira, ela deixa Clary dividida
entre a segurança com Simon e o novo com Jace. Eu, particularmente, achei lindo
ver o companheirismo já existente entre ela e Simon na conversa belíssima no
quarto. Cenas fortes e profundas, finalizadas com simples frases que resumem
tudo: “Ela disse que você partiria meu coração”. Perfeito.
O livro é abundante em surpresas, e eu não posso
ficar comentando a respeito delas aqui. Mas nada é o que parece ser. Vários dos
elementos você decifra logo nos primeiros capítulos, outros demora um pouco
mais, mas Clare sempre vai ter alguma coisa escondida que ainda não te contou,
e que vai te fazer ficar chocado quando ela o fizer.
Também acho louvável a capacidade de Cassandra
Clare em criar um vilão realmente odiável. Lemos cada trecho referente a
Valentim, especialmente o último capítulo do livro, com angústia no coração,
raiva e nojo no olhar. Aquele vilão desprezível, nojento e dissimulado;
extremamente manipulador. Também acho incrível como ela consegue mexer com
nosso cérebro, brincar com nossas emoções, jogando uma quantidade arrebatadora
de informações que se contradizem, e nos desafiando a assumir uma posição.
Mesmo personagens tão queridos quanto Jace enfrentam momentos de dúvida em
nosso cérebro. E é uma grande montanha russa de emoções, uma grande loucura e
tentativa de assimilar tudo e decidir o que pensar, em quem acreditar…
maravilhoso como ela apresenta essas diferentes possibilidades nos fazendo
questionar mesmo o mais básico da história, e aquelas coisas que passamos o
livro inteiro acreditando.
Um exercício e tanto para a leitura!
É um livro muito interessante. Eu certamente estou
ansioso (e temeroso) para a adaptação cinematográfica, e voltarei para ler os
próximos volumes assim que tiver tempo. Se você ainda não conhece, e é fã de
livros como eu, precisa conhecer. Cassandra Clare é uma boa autora, e cria uma
história fantástica repleta de bons elementos, e sabe como utilizá-los e como
colocar tudo na história sem sobrecarregá-la. Realmente interessante, uma
leitura fácil e gostosa, é algo que todo mundo deveria ler. Se você já leu, o
que achou sobre o livro? Sem spoilers
dos outros, ainda não li! kk Até mais!
Comentários
Postar um comentário