Segundo Portão – A Chave de Jade
EU NÃO LERIA ESSE TEXTO SE EU AINDA NÃO TIVESSE LIDO O LIVRO,
CONTÉM SPOILERS. ESTOU AVISANDO! KK
HAHA! É muito óbvio, então se Jogador Número 1 é sobre o Concurso de Halliday e encontrar o easter egg dentro do OASIS através de
vários enigmas, três chaves e três portões, cada parte do livro falará sobre
uma parte da competição, não é isso? Cada um com uma chave e um portão? NÃO!
Ernest Cline deve ter se divertido muito escrevendo isso, porque ele nos faz
acreditar em algo, nos convence daquilo, e então nos mostra algo diferente. A
segunda parte não é apenas sobre a segunda chave e o segundo portão… também não
é essa a única diferença para a parte um!
Como eu disse quando comentei sobre o Primeiro
Portão, a primeira parte mostra mais o lado positivo, e constantemente queremos
estar lá, e a Parte 2 já começa totalmente diferente. Lembro-me de ter lido o
começo da Parte 2 de madrugada e terminado ao longo do dia. No meio eu dormi,
evidentemente, então quando acordei, fiquei realmente na dúvida se tinha lido
ou sonhado com os três primeiros capítulos da segunda parte do livro. Afinal
eles são absurdamente diferentes dos primeiros capítulos, e quase parecem
tirados de outro lugar.
Wade não é mais o mesmo, não age da mesma maneira,
nem tem mais os mesmos objetivos. Seu avatar, Parzival, reflete isso
claramente, e a proximidade com Art3mis em vez de ser fofinha acaba parecendo
mais uma obsessão e acaba sendo estranho. Então ler nos deixava sempre com um
receio de que alguma daria errado pela quantidade de confiança que ele estava
depositando naquela personagem. E também temos um Wade/Parzival rico, super
poderoso, podendo fazer quase qualquer coisa que não podia antes, e capaz de ir
a quase qualquer lugar que não podia antes.
E o poder e a fama meio que mudam sua cabeça,
mesmo que tenhamos pensado que não mudaria a princípio. Quando o tempo começa a
passar e ele vai vivendo uma “vida boa”, com quem acredita ser a melhor pessoa
para ele (sem nem conhecê-la pessoalmente) e nenhuma nova dica sobre o Concurso
consegue ser desvendada, ele se folga e parece deixar isso como segundo plano.
E então o livro toma caminhos assombrosos quando outras pessoas conseguem achar
a segunda chave antes dele. E ainda antes disso, temos um coração partido por
uma Art3mis que fez o que foi o melhor para Parzival, mesmo que ele não pudesse
ver isso no momento.
Então a Parte 2 realmente nos comove de certa
maneira, e dá uma sensação ruim em quase sua totalidade. Um crescente
sentimento de solidão e isolamento, Wade perde seus amigos e tudo o que tinha,
mesmo que pouco, enquanto o dinheiro (e o alto nível de seu avatar) de Parzival
não parece ajudar em nada. O livro então assume tons melancólicos, sofridos e
tristes. Temos que aprender a dar adeus a alguns personagens (que não chegaram
a ser tão queridos por falta de desenvolvimento, mas que poderiam sê-lo) e um
lado negativo começa a tomar conta do livro. Estar no lugar de Parzival não
parece mais tão interessante, ser ele também não… e mesmo sua aparência física,
mesmo em minha mente, assume características totalmente novas que refletem seu
estado de espírito.
Devastado. Mas musculoso.
Então estamos em capítulos mais deprimentes, o
videogame é quase transformado no vilão que isola as pessoas ao invés de
conectá-las, e até o número de referências parece diminuir. Não se esgota, mas
diminui, até porque o livro não tem mais aquele tom alegre para poder fazer
isso. Também é nesse trecho que a linguagem se apresenta ainda mais forte, com
alguns “palavrões” recorrentes e algumas declarações como “Sou virgem”, e a
tentativa de escapada no sexo virtual, o robô e tudo isso que parece não dar
certo. Um tom cyberpunk, digno dos melhores futuros devastados pela tecnologia.
Foi uma parte mais triste, e eu fiquei bem pra
baixo lendo essas partes, mas foi estritamente necessário ao livro, e isso
acrescentou muito a ele. Porque vemos a capacidade de Ernest Cline de dar uma
guinada radical em sua narrativa, mudando de uma hora para outro de um ponto a
outro totalmente novo. A negligência dele o leva a ser superado no Placar, e
isso somado a todo o resto vai cada vez o deprimindo mais e o afastando mais do
mundo em si – a única coisa boa que sai dessa segunda parte do livro é Max. E
sinto muita falta de Aech nessa parte toda da narrativa.
No entanto, também devo dizer que é uma das partes
mais deliciosas do livro pelas soluções finais. Quando Wade volta a ser o
Parzival que conhecemos, tudo se transforma em uma grande busca, em uma corrida
contra o tempo, e ficamos apreensivos lendo, e é o momento em que não podemos
largar o livro para nada. Sentimos a
angústia de Wade, nos frustramos com ele e viramos páginas freneticamente.
Lemos e corremos com ele, dispostos a ajudar, e tentando resolver o mistério do
segundo portão. Que é um de meus favoritos, diga-se de passagem. Fiquei de
queixo caído, coração saltando e elétrico quando a ligação do papel que
envolvia a chave é feita com o unicórnio de origami de Blade Runner.
Foi na página 313 quando o filme finalmente foi
citado. E eu quase explodi, aguardando ansiosamente por aquele momento. Uma
discussão toda tão boa que eu queria copiar tudo aquilo no blog, mas me
contentei com as anotações… e o “Desembeste fazendo o teste” é finalmente
solucionado pelo teste Voight-Kampff, que podemos ver duas vezes no filme sendo
usado para descobrir se a pessoa era um Replicante ou não. Achei tudo muito
inteligente, e mais uma vez aplaudo o trabalho de Ernest Cline, que mostra um
vasto conhecimento sobre tudo isso para poder incorporar elementos tão icônicos
e originais de maneira centrada e cabível à história… e ainda homenageando
descrevendo o prédio e a máquina!
Ótima construção de narrativa por Ernest Cline,
vocês devem imaginar essa montanha russa de sentimentos e como isso é bom para
o roteiro como um todo. Mal posso esperar para ver isso em um filme, a
apreensão pode ser ainda maior do que foi lendo o livro. Ou não. Até mais!
P.S.: Fiquei
chocado ao descobrir que Daito e Shoto não eram irmãos!
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