Uma crítica ao preconceito, em um parágrafo
Enquanto
conversávamos para nos conhecermos melhor, percebi que já éramos como pessoas que se relacionam há alguns
anos. Nós nos conhecíamos há muito tempo, com bastante intimidade. Pensávamos
da mesma maneira. Eu a compreendia, confiava nela e a amava como uma amiga
querida. Nada daquilo havia mudado nem poderia mudar por algo tão pequeno como
sexo, cor da pele ou orientação sexual.
(Jogador
Número 1, Ernest Cline, pág. 401)
Uma dos mais bonitos parágrafos escritos por
Ernest Cline nesse livro tão bom. Porque Cline escolheu uma só pessoa [NÃO LEIA SE
VOCÊ AINDA NÃO LEU O LIVRO, CONTÉM SPOILERS]
para representar vários alvos de discriminação: a mulher, a gorda, a negra e a
homossexual. Desde muito antes de isso realmente acontecer no livro, Aech vinha
nos dando dicas de que não era o que aparentava ser dentro do OASIS – e isso nos
fazia lembrar de uma “briga” que tinha tido com Parzival lá no começo do livro,
quando este sugeriu que eles se conhecessem pessoalmente.
Aech sempre foi um de meus personagens favoritos,
gostava dele desde o começo. E então, quando realmente aprendemos a amá-lo e
não queremos ficar sem ele, Ernest Cline nos afasta dele por mais de 150
páginas… e ele fez muita falta, e sentíamos certo aperto no coração pelo
tratamento dado a ele por Wade. Mas desde o começo os dois compartilham uma das
relações mais bonitas do livro, de amizade verdadeira, válido o tempo todo.
Como o momento em que Parzival entra no Porão, após ver Sorrento matar todas as
pessoas na pilha de trailers onde morava, e recebe um abraço afetivo do amigo.
E depois de tudo isso, cada vez mais curiosos para
conhecer ele (e todos os outros) pessoalmente, Cline vai colocando o personagem
dizendo coisas como “Pode ser chocante quando você me conhecer pessoalmente” e
“Não sou NADA parecido com meu avatar”. E quando saindo do aeroporto Wade entra
no trailer de Aech (o que explica sua afirmação, muito tempo antes, de que
vivia se mudando), conhecemos sua real identidade: Helen Harris – uma menina
negra, gorda e homossexual. Estranho o autor não ter nos contado antes que Aech
tinha uma namorada!
E a mensagem dali para a frente é bastante bonita.
Porque é claro que é um choque para Wade descobrir que seu melhor amigo dos
últimos muitos anos mentiu totalmente sobre sua aparência na vida real, mas
Ernest Cline valoriza a essência da pessoa, e nos mostra que independentemente
de qualquer coisa física, Helen e Aech são e sempre foram a mesma pessoa,
portanto podemos amá-la da mesma maneira que amávamos Aech, e Wade pode ter
essa mesma relação com ela ainda. E isso tudo acontece de maneira tão natural,
talvez pelo universo virtual já criado por Ernest Cline que nos ensina a não
confiar nas aparências e em como as pessoas parecem no OASIS, porque certamente
aquilo não é a verdade.
E ele nos ensina a aceitar, o que é uma ótima
mensagem!
Agora momento de confissão: eu nunca li “Aech”
como se fosse uma transcrição fonética da letra “H” em inglês… o que faz muito
sentido, afinal nos Estados Unidos existe mesmo esse costume de chamar a pessoa
pela primeira letra do nome ou sobrenome – “Mr. B”, “Mr. Z”, mas não era uma associação
que eu teria feito tão depressa sozinho, precisei mesmo dessa pequena
explicação fornecida por Cline. Mas amei a inteligência e a ligação entre Helen
e Aech… que não existe entre Wade e Parzival (avatar nomeado em homenagem ao
Cavaleiro de Camelot, e “Percival” já estava pego).
Mais uma das bonitas mensagens deixadas pelo
livro, nos leva a pensar. Especialmente aquelas pessoas mais preconceituosas
que ainda vivem nessa sociedade, e que constantemente eu venho criticando no
blog através de minhas reviews de Glee, The New Normal ou qual for a
oportunidade que eu tenha… seja qual for o tipo de preconceito, o livro também
nos ajuda a quebrá-lo, e devemos levar esse tipo de mensagem a sério! Fica a
dica novamente! Até mais…
Comentários
Postar um comentário