“But I’m really only trying to get through… for just another day”


Resolvi comentar sobre Just Another Day porque é uma das melhores maneiras de iniciar esse Mês Temático tão especial. A música é bem contagiante e apresenta ainda apenas quatro de nossos seis personagens, mas as dicas da história são sutis. É belíssimo assistir novamente depois de já saber onde tudo vai acabar – porque é contraditório como eles começam com uma família “normal” e um clima tão divertido. É ótimo ver o clima mudando gradativamente… perfeito!
Uma das grandes músicas de Next to Normal. Esse musical tem um estilo contemporâneo tanto em história quanto em música, e isso é um choque. Um revolucionário musical que ajudou a mudar a história recente da Broadway – com mais ou menos 40 músicas, o musical é quase inteiramente cantada, com transições e diálogos entre cenas também musicado, e fica belíssimo. Todas elas parecem se encaixar perfeitamente, e por vezes não notamos o fim de uma e o começo de outra – o musical é uma grande rede bem construída, e cada música passa perfeitamente a sensação desejada. Next to Normal me preenche, toda vez que assisto.
Eu amo a apresentação dos personagens e as interações entre eles – assisti mais uma vez para fazer anotações de partes inteligentíssimas que fazem referência ao futuro da peça, ou que definem muito bem quem cada um é. O começo já é de Diana e Gabe, e nota-se a intimidade mãe-e-filho e a preocupação; mas ainda é divertido com aquela história toda das “maneiras como você pode ter morrido” – mas, de maneira inteligente, isso é uma referência ao rumo que a peça toma, em que não sabemos como foi que Gabe morreu, tantos anos atrás. E ele também se esconde do pai perguntando “Por que é que ele me odeia tanto?”. Perfeito!
Diana e Dan a princípio parecem um casal muito feliz, com no máximo os problemas comuns a todos. Mas Dan faz questão de ressaltar que nunca entende o que ela quer dizer, e quando ele canta When it’s up to you to hold your house together inicialmente pensamos que seja algo simples colocado na música, mas é exatamente a função que ele assume, e depois entendemos o porquê. Dificílima missão de fazer com que aquela casa continue unida, tentando superar todos os problemas que eles enfrentam, ainda não evidenciado nesse primeiro momento.
Já Natalie e Gabe são apresentados mais ou menos juntos, mas sem nenhuma interação direta. No entanto ninguém ainda repara nisso, apenas vemos os dois irmãos seguindo suas vidas, cantando juntos o refrão pela primeira vez (“But I’m really only trying to get through… for just another day…”), com os típicos problemas adolescentes. Acho que a parte de Natalie realmente a define muito bem, quando a vemos pela primeira vez ela é totalmente excêntrica e um pequeno gênio, com todas aquelas coisas – notável que não bate muito bem da cabeça. Amo sua parte falando sobre a família: And if other fam’lies live the way we do… If they love each other or if they just fake it, and if other daughter feel like I feel too
Mas acho que o personagem de Gabe teve o momento mais surpreendente da música, ao menos a quem já viu ao musical uma vez antes. Porque é muito sutil a maneira como ele interage tão bem com a mãe, mas ninguém mais olha diretamente para ele durante toda a apresentação. E quando ele está lá, falando sobre o pai, cantando com Natalie ou interagindo com Diana, ele de repente solta a melhor frase da música – It’s just another day, feeling like I’ll live forever que realmente define quem é o Gabe, levemente retomado mais tarde em I’m Alive. E sua personalidade meio contorcida, seu lado meio ameaçador é visível em When the world will feel my Power and obey. Perfeito.
Eu amo a parte do It only hurt when I poderíamos ficar horas analisando apenas cada uma das frases ditas pelos personagens, mas não é necessário, apenas colocá-las aqui já parece suficiente. E se você tiver curiosidade, ótimo, você terá um motivo a mais para ver esse musical, já tão cheio de motivos convincentes para tal. It only hurts when I breathe por Diana, It only hurts when I try por Dan, It only hurts when I think por Gabe, It only hurts when I cry por Natalie, It only hurts when I work por Dan, It only hurts when I play por Gabe, It only hurts when I move por Natalie…
E provavelmente quem demoramos mais para conhecer durante Just Another Day seja justamente a própria Diana. Porque divertida e em um bom momento, é ela quem nos apresenta aos demais (“So my son’s a little shit, my husband’s boring, and my daughter, though a genius, is a freak”), mas demoramos para entender realmente quem ela é, complicado de juntar os pedacinhos das outras falas. And I think the house is spinning é o momento em que ficamos sérios, e deixamos de lado as risadas e a diversão para entrar na história e entender que Diana não é uma simples mãe daquela família… vê-la “cozinhando” no chão é o primeiro momento que me fez prender a respiração…
E assim Next to Normal/Quase Normal se inicia, uma daquelas aberturas arrebatadoras da Broadway. A música tão bem construída que te fascina! Interessantíssima para se escutar pela primeira vez, te entusiasma, te cativa e te deixa curioso e animado para continuar vendo. Te encanta ainda mais quando você vê pela segunda, terceira, milésima vez e consegue perceber todas as nuances tão bem colocadas e mascaradas. Next to Normal é um musical fascinante – divertido, forte e comovente. Todos precisariam assistir a isso!


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