On Broadway – Next to Normal – You’ve always known who I am…
Do you know what it’s like to die alive?
Next to
Normal é um musical simples e grandioso da Broadway, que apresenta um cenário
belíssimo, figurinos comuns, uma equipe de apenas 6 atores, inumeráveis músicas
que se sucedem rapidamente e uma história séria e comovente. Trata da história
de Diana Goodman, uma mulher que luta contra seus problemas psicológicos de
bipolaridade, depressão e traços de esquizofrenia, e os efeitos disso tudo
sobre a sua família. E com tudo isso, o número de assuntos tratados é grande:
suicídio, luto por uma perda grave, drogas e ética na psiquiatria.
[SPOILERS]
Eu admiro a maneira como a peça começa. Já sabendo
quem é Gabe e o que aconteceu com ele, você nota coisas interessantes desde o
princípio. Como todas suas cenas são com Diana, e mesmo quando os 4 membros da
família estão no palco, a única pessoa que interage com ele é a mãe. E sem medo
dos palavrões, sem medo da diversão, a peça começa mais leve, apresentando uma
Diana muito bem, até que a primeira música já tão perfeita, Just Another Day, termine com aquela
terrível cena em que ela começa a preparar os sanduíches no chão.
É digno de aplausos a maneira como a peça começa
conseguindo nos arrancar uma risada. Como assuntos tão sérios se misturam a
outros nem tão sérios assim, ou a irreverência com que a própria doença dela é
tratada. Who’s Crazy e My Psychopharmacologist and I é um
grande exemplo disso. A segunda parte da música é engraçada, mas mesmo assim é
o que nos apresenta Diana como ela é, e ainda é mesclada com a dor e o pesar de
Dan cantando a sua parte. Então é uma mistura muito interessante de alegria e
sofrimento, de esperança e dor, de diversão e lágrimas.
Sabendo que Diana é “bipolar e depressiva com
alucinações”, é de partir o coração ver as esperanças de Dan se partindo com o
bolo de aniversário preparado pela esposa. He’s
Not Here é extremamente triste – “I
didn’t know you had a brother”, “I don’t. He died before I was born” – e
entendemos a razão de ninguém interagir com Gabe além de Diana: ele morreu 16
anos atrás, quando era ainda um bebê, aos 8 meses, e isso desencadeou todos os
problemas da mãe, que continua o vendo. E de certa maneira um mantém o outro
prisioneiro, e quase podemos dizer que ele existe sem ela.
Diana é a personagem que sustenta tudo e em torno
do que tudo gira. I miss my life. Um
dificílimo trabalho, uma vez que ela precisa ser divertida e feliz em alguns
momentos, e sofrida em outros. Alice Ripley faz esse trabalho absurdamente bem.
E Dan, interpretado por J. Robert Spencer, também tem um trabalho difícil e
triste, sempre esperançoso que sua mulher melhore, e nos colocamos no lugar
dele em suas súplicas, em seu sofrimento, em sua dor. E em seu medo, muito bem
representado no segundo ato, com Song of
Forgetting, na qual se recusa a deixá-la se lembrar do filho…
E é triste ver o quanto lhe foi negado o direito
ao luto. Porque o luto é uma das bases do musical, a razão que desencadeou
todos os problemas de Diana, e I Am the
One (Reprise) nos comove absurdamente, e qualquer vídeo que você vê filmado
da platéia é possível escutar as lágrimas. Um grande momento de Dan e Gabe, e
me faz pensar o quanto Dan também sofreu pela morte do filho, mas o quanto teve
que reprimir esses sentimentos para poder cuidar da mulher, e o quanto isso
deve ter lhe feito mal. A música deixa isso muito claro, no momento de maior
emoção em Next to Normal.
E eu demorei para parar e pensar em Natalie, e em
como isso de sua mãe não superar a morte do irmão e continuar o vendo a afeta
também. Na verdade foi em Superboy and
the Invisible Girl, que foi uma música breve mas intensa, e muito bem
escrita. Ótimo momento tanto de Natalie quanto de Gabe. A menina, interpretada
por Jennifer Damiano, vive sob a sombra do irmão, sentindo-se quase rejeitada
pela mãe – e deseja uma vida (quase) normal. Ainda tem a sua relação com Henry
(Adam Chandler-Berat) que é fofinha e divertida, com ótimas músicas – e também
o caso das drogas.
You give up way too easily.
O Dr. Madden (interpretado por Louis Hobson, bem
como o primeiro psiquiatra) é alguém que divide minha opinião. Gosto muito
dele, e suas cenas como rock star são
divertidas, mas me perguntei exatamente o que ele estava fazendo e se era certo
sugerir aquele tratamento de eletro-choque. Foi fascinante ver tanto Gabe com a
mãe quanto Nat com o pai irritados com essa possibilidade – Didn’t I See This Movie? – e as cenas
resultantes disso foram chocantes e horríveis.
“And who are you?” me partiu o coração.
E Gabe, interpretado tão bem por Aaron Tveit. O
personagem é ambíguo e muito intenso. Eu amo cada uma de suas cenas, e como sua
presença é constante, como por vezes se esconde nas sombras, e como sempre
utiliza os postes do cenário. É uma projeção de Diana do que seu filho seria
agora, com 18 anos, e nem um nem outro está pronto para deixar que eles se vão.
Porque não é um corte, uma queimadura ou uma fratura que esteja no cérebro nem
no coração; está na alma. Meio que os dois se mantém prisioneiros, com cenas
chocantes como There’s a World e suas
conseqüências.
As músicas de Gabe são sempre ótimas, e eu amo
assistir às suas apresentações, como o I
am the One, que eu coloquei como música da semana para representar esse
musical – simplesmente perfeita, meus dois momentos favoritos do espetáculo –
tanto a primeira quanto a segunda versão. E I’m
Alive que é tão intenso e mostra muito bem a determinação e a intensidade
do personagem – sem contar que ele dança e canta muito bem, e não tem como não
se encantar. E tem coisa mais emocionante e forte que Aftershocks, na qual Diana tenta desesperadamente se lembrar do
filho, enquanto ele continua falando? “Me
tiraram de sua memória, mas eu ainda estou aí, na sua alma”.
Ele precisa ser sedutor e intenso, já que o seu
desejo é a atenção e a presença da mãe. Mesmo assim, mesmo já sabendo de tudo
isso, é horrível ouvir as palavras que a conduzem para o tratamento de
eletro-choque, o que ela fez… e só penso em Dan nesses momentos.
E Light
é uma grande finalização perfeita para esse musical. Triste, mas sem nunca
perder a esperança. Consegue ser comovente, e é maravilhoso ver a divisão em
cena, com Dan, Natalie e Henry no primeiro nível, Dr. Madden e Diana no segundo
e Gabe sozinho no terceiro. E o grande momento final em que os seis terminam a
música emocionante juntos, no primeiro nível! É um ótimo musical, repleto de
boas músicas e uma divertida e emocionante história. É uma obrigação a todos os
fãs de musicais, como eu! Não percam. Mesmo!
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