As Crônicas dos Kane, Livro Três – A Sombra da Serpente
Esta é a transcrição de um
arquivo de áudio. Carter e Sadie Kane já me mandaram outras duas gravações, que
eu transcrevi nos livros A Pirâmide Vermelha e O Trono de Fogo. Sinto-me
honrado com a confiança dos Kane, mas preciso avisar que este terceiro relato é
o mais perturbador até agora. O áudio chegou à minha casa em uma caixa
chamuscada e esburacada com marcas de garras e dentes que o zoólogo municipal
não conseguiu identificar. Não fossem os hieróglifos protetores do lado de
fora, duvido que a caixa tivesse sobrevivido à jornada. Continue lendo e você
vai entender o porquê.
E, infelizmente, a saga das Crônicas dos Kane chega ao final com A Sombra da Serpente, e mesmo repleto de pontas soltas para uma
possível sequência (vocês sabem que isso seria bem a cara de Rick Riordan),
acho que a trilogia foi bem finalizada, em um livro repleto de história e
humor, com a escrita característica do autor, sempre muito envolvente. O livro
se sai muito melhor do que seu antecessor, e esse clima de finalização deixa de
lado o espírito de enrolação que me pareceu rondar o segundo livro inteiro. Com
uma finalização digna e previsível, posso dizer que aprovei!
Rick Riordan mantém sua narração alternando entre
Sadie e Carter, e faz questão de colocar comentários hilários que supostamente
seriam dos dois durante a gravação do áudio – seria hilária ouvir uma gravação
dessas de verdade. E isso garante o ritmo envolvente e intenso do livro. A
leitura é bem simples, repleta de referências ao mundo atual e sacadas
realmente inteligentes, então ler A
Sombra da Serpente é diversão certa e leitura rápida! Como Carter e Sadie
passaram uma parte do livro separados, quando mudava o foco de narração,
mudávamos também a história, e acho que isso foi muito bem bolado, impedindo
que o livro se tornasse maçante.
E ainda que os dois tivessem, por muito tempo,
histórias distintas, elas eram complexamente conectadas, e portanto uma
dependia da outra, e partes eram vistas sob dois pontos diferentes, sempre
muito interessantes. Como o Mar do Caos enfrentado por Carter, e a aparição de
Sadie no meio do problema todo. Foi interessante ver Sadie com seus problemas
pessoais entrar no portal, e vemos como a personagem foi para lá, mas também vemos
de outro ponto totalmente diferente que desconhecia toda a outra história,
Sadie chegando para salvar o dia. Interessantíssimo.
E com essa conexão bem elaborada, é impossível
distinguir uma história da outra e escolher entre eles. Juro que não lembro como
foi meu comentário nos livros anteriores, mas lembro-me de ter puxado sardinha
para um ou outro personagem, mas não consigo me lembrar para qual foi em cada
um dos livros. De qualquer maneira, dessa vez, com duas histórias tão boas,
fica difícil. Então não julgo histórias nem nada disso, mas a personagem e a
maneira de narração, e parece que me senti muito mais conectado à Sadie Kane
durante todo o livro. Por um motivo ou por outro, para mim A Sombra da Serpente tem a cara dela.
No livro, após Apófis estar se tornando cada vez
mais poderoso e Rá ter sido despertado no segundo livro (o que não foi lá tão
útil naquele momento), o Caos começa lentamente a tomar conta do mundo,
enquanto o Dia do Juízo Final se aproxima. Em tentativas desesperadas de restaurar
o Maat, Sadie e Carter se tornam adeptos da idéia de aprisionar a sombra de
Apófis em um amuleto (nunca imaginei nada assim para o título, achei que fosse
muito mais metafórico do que concreto) e execrá-la. Digo “tentativa
desesperada” porque isso possivelmente exauria toda a reserva de energia dos
Kane, sendo que Desjardins morreu numa situação parecida.
Para isso, os deuses se tornam muito mais
presentes e participativos. Carter e Sadie precisam pedir ao pai que liberte
Setne, um fantasma nada confiável, e acabamos por conhecer até mesmo a Terra
dos Demônios, o Mar do Caos e coisas afins. Mas o caminho dos deuses começa a
ser procurado por diferentes e diferentes magos ao longo do livro, e dois deles
são os mais importantes: Zia sendo Olho de Rá, e Walt sendo Olho de Anúbis. HA,
quem não esperava por isso?
Achei um tanto previsível. Ok, não tenho idéia de
como o livro teria terminado se não fosse dessa maneira, mas ainda assim acho
que o livro pecou um pouco pelo previsibilidade, ou talvez pelo mistério exagerado
em cima de coisas que notamos depressa demais. Como que Walt e Anúbis se
fundiriam em uma pessoa só. Foi tanto mistério para tentar falar isso para
Sadie, apenas para depois ela presenciar e ficar horrorizada que achei um tanto
desnecessário. De qualquer maneira, ainda admiro o conceito de Walt no mundo
mortal e Anúbis no Duat, e essa “dupla personalidade” do personagem, que não
mais é nem um nem outro. E juro que fico tentando imaginar como Sadie olha para
ele, e me parece muito interessante.
Nada de relacionamentos simples. O drama de Carter
e de Sadie é bem parecido, mas Sadie se saiu muito melhor no seu. Afinal era um
menino bonito e um deus lindo, ambos que gostavam dela, e ela gostava dos dois,
e eles se fundem em um só corpo. Podia haver uma solução mais perfeita? Já
Carter tem que agüentar uma namorada que quando se funde a um deus se funda a
um velho deus do sol, Rá. Bem, fiquei com um pouco de pena dele, mas ainda foi
ótimo ver os quatro tentando ser “adolescentes típicos” no final da narração…
Falando um pouco sobre o Egito e sua mitologia,
devo dizer que a admiro bastante, e admiro o trabalho de Rick Riordan de se
propor a contar isso de maneira tão leve e tão acessível. Porque eu não tinha
muito conhecimento, e aos poucos os livros nos ensinam coisas de maneira
divertida. E é uma mitologia singular, com uma variedade muito grande de
deuses, tipos absurdos de poderes, toda a história da Casa da Vida, os Nomos, o
Sacerdote Leitor-Chefe, o conceito de Caos e Maat. Tudo é muito diferente, muito
único, complexo e interessante ao mesmo tempo. E Riordan nos narra de uma
maneira a nos convencer de que tudo é real, e por momentos você realmente se
questiona.
E se tem uma coisa que me deixou muito contente
nesse livro, entra nessa definição de Caos e Maat. Uma vez que Apófis é
execrado, os deuses também se retiram para o fundo do Duat e se afastam do
mundo mortal, afinal, para haver o equilíbrio (coisa bastante reforçada nos
livros anteriores) se as forças do Caos se retiram, o Maat também precisa se retirar.
Achei isso genial! Não posso colocar em palavras meu sentimento ao ler essas
palavras nos capítulos finais…
Amei o livro. Devo dizer isso. No geral foi uma
história muito divertida, não senti nenhum tipo de vazio em momento nenhum, e a
trilogia foi finalizada de maneira eficaz, com muita aventura, magia e humor. E
a típica narrativa de Riordan que sabe ser irreverente nos momentos menos
esperados, narrando coisas absurdas, comentários “idiotas” e fazendo
associações e comentários risíveis em meio a cenas de grande importância, como
maior exemplo a parte do Mar do Caos. Simplesmente genial, só ele para
conseguir fazer isso e ainda conseguir contar uma história convincente!
E o livro se finaliza de maneira bastante
inteligente com uma conversa de Sadie e a mãe. Achei aquilo muito clever, afinal a mãe deixou todos os
mistérios em aberto para o caso de Rick Riordan quiser voltar para esse
universo. Falando sobre magos inimigos, sobre deuses de outros lugares… e mais
ou menos a mesma confusão que acontece com Sadie também se passa na nossa
cabeça, e desejamos ardentemente que Rick Riordan possa continuar essa narração
tão interessante. Ansioso agora pelo terceiro volume de Os Heróis do Olimpo, fico no aguardo por novas obras de nosso
querido Rick Riordan… até mais!
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