Donnie Darko


28 dias, 6 horas, 42 minutos, 12 segundos.

O filme todo parece uma grande contagem regressiva a partir do dia 02 de Outubro de 1988. Depois de ser retirado de casa por um coelho gigante misterioso, Donnie Darko vê uma turbina de avião que parece ter saído do nada cair onde ficava seu quarto. Salvo pelo Coelho e então com várias tarefas dark a cumprir, Donnie recebe o aviso de que tem apenas mais 28 dias, 6 horas, 42 minutos e 12 segundos para o fim do mundo. E é uma agonia crescente e um suspense perfeito ver essa data se aproximar.
Vocês conseguem assistir Donnie Darko e não acabar o filme com os olhos esbugalhados, pensamentos a mil e um aperto no coração indescritível? Eu nunca me sinto em sã consciência para escrever um texto depois de ver esse filme, e juro que estou fazendo meu melhor. Mas é um dos melhores filmes que eu já vi na minha vida, e infelizmente filmes como esse não são feitos muito frequentemente. Difícil um filme que consegue te cativar, te emocionar, te chocar e principalmente, te fazer pensar como esse. Donnie Darko é tão amplo que é até difícil classificar.
Tentam fazê-lo como suspense. Ou drama. Ou ficção científica. E tem um pouco de cada um desses e muito mais. Um garoto esquizofrênico paranóico em constante terapia e cada vez com mais problemas, dificuldades de se controlar e um amigo imaginário, Frank, que é um homem em fantasia gigante de coelho que faz com que ele faça coisas absurdas. E uma psicopatia crescente visível em cada um de seus sorrisos maléficos que chegam à loucura. Um coelho gigante mais assustador que qualquer outra coisa. E buracos de minhoca (Pontes de Einstein-Rose) explicando uma possibilidade de viagem no tempo.
O filme é inteligentíssimo.
Mistura tudo isso de maneira chocante. Eu particularmente sou fascinado pela parte da esquizofrenia, e o filme trata isso muito bem, com as terapias periódicas (“Frank is gonna kill” é uma das coisas mais inteligentes e mais agonizantes da história), as maravilhosas conversas, as ações do garoto (eu amo aquele sorriso maníaco que ele dá que nos dá medo dele e transforma o personagem totalmente) e a maneira como ele é tratado. O filme não tem detém em nenhum momento, não tem medo da linguagem ou da narrativa, e por muitas vezes acaba por ser chocante. Constantemente forte, sombrio – a trilha sonora carregada colabora para isso, além dos tons escuros nas imagens e os ângulos inusitados de câmera. Tudo colabora para uma narrativa dark e creepy.
Eu provavelmente terei sonhos com Frank… eu já viciei vários amigos em Donnie Darko (e quando eu digo viciei, eu quero dizer realmente viciei, fazendo essas pessoas passarem horas pensando sobre esse filme e discutindo, com os mesmos olhos esbugalhados que eu tenho ao fim da projeção) e todos concordam que Frank é assustador. Talvez ele não seja o estereótipo de “assustador”, mas é desconfortante olhar para ele (sua cena sem máscara é horrível) e acaba sendo e inquietante, bem como todo o filme. Incrível como uma “fantasia estúpida de coelho” consegue ser tão assustadora.
Why are you wearing that stupid man suit?
A interação entre Frank e Donnie é simplesmente fantástica. Cada cena dos dois é espetacular. “Wake up, Donnie” nunca mais me saiu da cabeça, e é uma das frases que eu escuto e me dá calafrios. As conversas no banheiro separados pela parede invisível. A tão clássica cena da faca e do olho machucado. A brilhante conversa que os dois têm no cinema enquanto Gretchen dorme durante todo o tempo. As ações impensadas de Donnie (que certamente parece fora de si enquanto está obedecendo Frank – They made me do it) como inundar a escola, ou incendiar a casa de Jim.
Duas ações que por sinal eu aprovei. Ok, uma delas, a outra só me pareceu uma grande diversão. Mas Donnie Darko é rebelde, inconformado com o sistema, e diz o que pensa. Talvez seja mais por isso que o tratam como um esquizofrênico do que qualquer outra coisa – embora ele apresente traços claros da doença, e o filme deixa você decidir e escolher sua opinião. Mas a maneira como ele diz o que pensa para Jim no auditório é fascinante e como enfrenta a professora, justificando que a vida é muito mais complexa do que medo x amor e que há muito mais coisa no meio que precisa ser levada em consideração.
Com Frank, a contagem regressiva e a esquizofrenia, aos poucos Donnie vai entrando em contato com as teorias de “viagem no tempo”, sugeridas pelo coelho. Com discussões com professores e um livro da Vovó Morte Roberta Sparrow, a ponte de Einstein-Rose é a mais utilizada, e eu amo o conceito de lanças que se projetam a partir de seu peito e guiam ao futuro, e a possibilidade de olhar através disso. Foi a primeira vez que ouvi falar sobre isso. E tudo começa se encaixar em um final surpreendente.
Eu não posso fazer todos os comentários que gostaria sobre o fim do filme, mas não importa, guardo tudo isso para mim – não posso correr o risco de quem ainda não viu ler e descobrir. Mas veja o filme, e se surpreenda de verdade no final. De maneira hábil todas as peças se encaixam, entendemos mais sobre quem é Frank, sobre as Pontes de Einstein-Rose e sobre a turbina que misteriosamente é vista no início do filme. O final ainda é melancólico e deprimente, com uma história pesada e uma trilha sonora sofrida, e mesmo vários minutos depois de terminar o filme, o aperto no coração e o nó na garganta não se desfazem.
Um dos melhores filmes que eu já vi na minha vida, e eu tenho dificuldades para ver outro filme nos dias que se seguem a quando eu vejo Donnie Darko. Essa minha amiga e eu costumamos trocar filmes o tempo todo, no entanto depois de Donnie nenhum outro parece ser bom o suficiente – e você passará semanas e semanas pensando e analisando tudo o que aconteceu e a grandiosidade do filme. Eu vivo recomendando esse filme, porque sinto que ele está ficando esquecido no tempo, e as pessoas precisam conhecer! Por favor, assistam a esse filme, vocês me entenderão finalmente! Até mais…

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