Avenida Q

[Texto 01 de 03]

Sensacional.

O musical me cativou de maneira surpreendente. Visto que eu já fui assistir esperando muita coisa, é ótimo que ele ainda tenha me surpreendido! A história (os temas e as piadas), as músicas e os atores brilhantes… tudo colaborou para uma experiência única e grandiosa de Avenida Q. Agora eu entendo o porquê de ter ganhado o Tony Award de Melhor Musical, também entendo porque está há tantos anos em cartaz na Broadway… e já decidi que vou querer ver a versão original em janeiro em Nova York.

Avenida Q é a história dos moradores dessa rua, em Nova York. Após terminar a faculdade e sem saber ainda o que fazer na vida (qual é o meu rumo?), o jovem Princeton se muda para a Avenida Q, a única que seu dinheiro consegue pagar – com muitos sonhos e pouquíssimo dinheiro, Princeton acaba conhecendo uma série de vizinhos interessantes, cada um com sua peculiaridade e história cativante: Brian, Japaneuza, Nick, Rod, Trekkie, Kate e o zelador Gary.

A peça difícil de encenar conta com interação entre humanos e bonecos, exigindo um preparo incrível dos atores, que nos encantam por conta disso. É impressionante ver, por exemplo, Roberto Donadelli interpretando Princeton e Rod, ambos tão diferentes e interpretados de maneira brilhante… também é surpreendente ver Marilice Cosenza interpretar Kate Monstro e Lucy de Vassa, sendo ambas tão absurdamente distintas, e ela é convincente em qualquer papel… quando uma tem que contracenar com a outra, então? INCRÍVEL!

E se você tirou conclusões precipitadas sobre “interação de humanos e bonecos”, pode esquecê-las. Como diz no programa, o musical é indicado e até aconselhado apenas a maiores de 14 anos, pela infinidade de assuntos polêmicos que traz: como a descoberta do amor e do sexo (as piadas de sexo são abundantes, e temos até algumas cenas bem explícitas que não são mais leves por serem com bonecos), a internet sendo usada para pornografia, a homossexualidade, o desemprego, a frustração… é uma história bastante adulta, se você me perguntar. E tudo só faz sentido para nós, com um pouco mais de idade, que nos divertimos e nos deliciamos com cada momento.

É tudo muito lindo. Quando ouvimos o tema já estamos começando a sorrir, e a primeira música é tão curta que chega a ser triste. Mas é ótimo ver todos os atores aparecendo, cantando sobre a Avenida Q… é assim que em cerca de um minuto de música, a plateia já está explodindo em aplausos. Eu sei, porque eu era um deles. Você se diverte do começo ao fim, se emociona sim, e se identifica. Os personagens são todos cativantes, e eu ainda estou admirado com o trabalho desses atores. Incríveis, incríveis, incríveis.

Fui à última apresentação de Roberto Donadelli, no domingo 18 de Agosto. Foi absurdamente triste. Como ele tinha passado já três anos com Avenida Q, estava exposto em sua expressão a tristeza de estar deixando isso para trás, assim que ele entrou para a curtain call. Foi o momento em que eu comecei a chorar. Me emocionei bastante, bem como todas as pessoas no teatro, com sua despedida – o ator, além de talentosíssimo, é um amor de pessoa, foi fofo escutá-lo dizer aquelas palavras todas, quase sem conseguir conter a emoção. E ver o carinho verdadeiro do restante do elenco para com ele… Roberto: ÓTIMO TRABALHO! Parabéns, sempre nos lembraremos de você como um Princeton / Rod perfeito!

O cenário é todo fofo e bem produzido… a Avenida Q é meio estática, apenas com aquelas portas que abrem e tudo o mais, mas o grande encanto está nos bonecos. Belissimamente vestidos de cinza, os atores manuseiam puppets com uma maestria incrível e admirável – é convincente o suficiente para que o personagem fique grudado em nossa cabeça. No entanto, também trabalham muito com a própria expressão facial e corporal, formando um par inseparável com o seu boneco. Então nos lembramos tanto do ator quanto do boneco ao pensar no personagem.

Chega a ser estranho ver outro ator usar o boneco, como outra pessoa segurando Princeton quando Donadelli está interpretando Rod, mas isso só prova o quão preparada toda a equipe está! E mesmo nesses momentos a voz continua sendo do ator que o interpreta, então é fascinante ver momentos em que Marilice, por exemplo, está com Kate, mas conversando com Lucy de Vassa – e nesses momentos eles se escondem atrás dos bonecos para que as bocas se mexendo não fique evidente no falar de duas personagens ao mesmo tempo… preocupação que não existe no restante do musical, porque, como disse, o trabalho facial e corporal do ator também é bem grande.

E as músicas… é tudo tão fascinante. As músicas ficarão na sua cabeça para sempre. Embora escutar pela primeira vez “Que merda que eu tô” (ou a variação “Que merda cotô”) tenha sido um choque, já que eu estava acostumado com “It sucks to be me”, logo me acostumei, me apaixonei, e escutar isso em qualquer momento era uma delícia… saímos do teatro cantarolando essa canção, bem como “Tudo há de passar”. O que me pareceu irônico, sendo a despedida de Roberto Donadelli e tudo o mais… acho que adquiriu uma profundidade toda nova que não existia antes…

Infelizmente esta é a última semana do musical em São Paulo, mas vamos esperar por mais notícias, afinal sempre acho que Avenida Q pode estar de volta – estreou originalmente em 2009 aqui no Brasil, e desde então tem sido um grande sucesso. Personagens e histórias incríveis, interpretados por atores maravilhosos e músicas que grudam em nossa cabeça… o musical é marcante e recomendado a todos! Não perca essa oportunidade, pois é diversão garantida! Na próxima postagem, falarei desse elenco tão perfeito!

Curta nossa Página no Facebook: Parada Temporal