(Not) On Broadway – The Last Five Years – I could be in love with someone like you…


The Last Five Years é um musical Off-Broadway de um ato e inteiramente cantado – as pouquíssimas cenas com falas durante o musical acontecem no meio de canções, mas são realmente pouquíssimas. Isso se deve principalmente ao fato de só termos dois atores em cena, que não contracenam diretamente. Como a história é contada de maneira inusitada, a linha temporal de Cathy e de Jamie só se une em uma única cena, no meio do musical, quando ele a pede em casamento no parque.
Que eu acho que poderia ser uma divisão de atos.
Enfim.
O musical é a história de Jamie e Cathy. Jamie é um jovem escritor que vê sua carreira deslanchando, e começa o musical com Shiksa Goddess, totalmente encantado após o seu primeiro encontro com Cathy. Já Cathy é uma atriz sem sucesso, que começa o musical com Still Hurting, lamentando o fim e a infelicidade de seu casamento. Dessa maneira, sua história é contada em ordem cronológica inversa, indo do fim do casamento ao primeiro encontro, e a dele do primeiro encontro ao fim do casamento… fica belíssimo, acredite em mim! E emocionante.
Eu diria que The Next Ten Minutes é, então, a cena mais surpreendente. Porque como nunca os vemos realmente dividindo uma mesma cena, ele começa cantando para o nada, mas ela subitamente aparece de baixo do palco, e é o único momento em que os dois se olham de verdade, se tocam, se abraçam, se beijam… e parecem felizes ao mesmo tempo. E eles ainda cantam juntos… como é maravilhoso ouvir cada um dos solos desses atores talentosíssimos, é surpreendente vê-los compartilhando essa cena, esse pedido de casamento, essas promessas de que ficarão juntos para sempre.
Para mim, ali poderia ser o fim do primeiro ato, se o espetáculo fosse dividido. Porque até então, vemos um Jamie muito feliz com seu primeiro encontro e com cada passo do relacionamento com Cathy, enquanto sua carreira também está de vento em popa, e ele esbanja felicidade – suas músicas traduzem isso muito bem: Shiksa Goddess, Moving Too Fast e The Schmuel Song. Essa última é particularmente marcante, enquanto eles passam o primeiro Natal juntos, ele conta sobre seu novo livro, e ela o escuta, mas sabemos o quanto essa carreira os afastará mais tarde, por concomitantemente estarmos acompanhando o fim do casamento com Cathy… e a música é linda e catchy!
Cathy vem, nesse momento, em ordem inversa. Começa com Still Hurting, e então a cada cena voltamos um pouquinho no tempo para vermos como o casamento foi sendo destruído, mas como ela mesma parecia estar disposta a salvá-lo, estar tentando fazer alguma coisa. See I’m Smiling é uma das mais fortes canções, me arrepiou todo e ela arrebentou com notas fortes e impressionantes, gritos de desespero, lágrimas… “See, I’m crying”. Ela também teve, nesse momento, I’m a Part of That e A Summer in Ohio.
Em nenhuma dessas cenas os dois chegam a realmente se olharem nos olhos. Ou mesmo olharem um na direção do outro. Ou os atores interpretavam sozinhos ou então o outro estava ali, presente, mas em outro momento de sua vida, com sentimentos totalmente opostos – era quase assustador. E no que poderia ser o segundo ato, as peças vão se encaixando, os papéis se invertem enquanto Jamie caminha ao fim do casamento e Cathy à felicidade do primeiro encontro; para mim é ainda mais horrível vê-la feliz, depois de tudo o que presenciamos, e entender ainda mais a fundo porque o casamento precisou, mesmo, chegar ao fim.
Jamie começa com A Miracle Would Happen, que ainda apresenta notas parecidas ao que víamos no começo do musical, mas ele próprio já parece outra pessoa, e começamos a ver sua decadência, tentado por mulheres e com a bebida na sua frente. Passamos por If I Didn’t Believe in You e Nobody Needs to Know, que para mim são músicas controversas que me dão um sentimento paradoxal de admiração pela cena bem produzida e pela emoção perfeitamente transmitida, mas me deixa revoltado pelos rumos ainda mais grandiosos que a história vai tomando.
Enquanto Cathy caminha diretamente à sua maior felicidade, mas também continua passando por momentos de sofrimento conforme suas audições para ser atriz não dão nada certo em When You Come Home to Me, Climbing Uphill e Audition Sequence. Ver Jamie cantando If I Didn’t Believe in You não ajuda em nada, só nos faz sofrer ainda mais. I Can do Better Than That é uma das minhas músicas favoritas, tão Grease, tão anos 50 com o cachecol e o vestido de bolinhas, o óculos no cabelo, o carro fofo no que deve ser um cinema drive-in… e a esperança dela exposta em palavras, a felicidade genuína.
O sofrimento.
Assim, de maneira genial, a peça se encerra com Goodbye Until Tomorrow / I Could Never Rescue You, em que voltamos basicamente ao início do musical, mas agora com os personagens invertidos. E é doloroso vê-la toda contente, dizendo “tchau até amanhã” enquanto ele simplesmente fica lá dizendo “adeus”. A última música fecha com perfeição toda e qualquer emoção do musical, nos deixa com esse sentimento de melancolia, que por alguma razão eu gosto, e nos deixa com vontade de ver mais… eu gostaria muito que o Brasil fizesse uma boa versão desse musical… seria interessante!
Falarei sobre meus sentimentos confusos a respeito do filme em outra postagem.

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