PI (1998)
Genial.
Complexo e perturbador, Pi é um filme sobre um gênio matemático um tanto paranóico que se
vê estudando o ainda hoje grandioso mistério do número PI. Para aqueles que não sabem, o número vai muito [muito mesmo]
além de 3,14, e até hoje o seu final não é conhecido e um padrão não foi
encontrado… inicialmente buscando um padrão na Bolsa de Valores, Max descobre
que está com algo muito maior em mãos, e é interceptado ambos pelos “malditos”
da Wall Street quanto por judeus em busca do padrão no Torá… e que esse número
em sua cabeça está em todo lugar.
Mesmo.
Eu me apaixonei pelo filme. Porque a temática é
tudo o que me agrada, e é uma mistura brilhante em uma composição muito bem
construída. Totalmente filmado em preto e branco, o filme brinca com isso o
tempo todo, em contrastes belíssimos de escuridão total ou estranhas luzes que
nos deixam com um mal-estar tremendo, ecoando com perfeição o problema de enxaqueca
do personagem central. Cenas confusas e difíceis de acompanhar, um final
surpreendente e uma série de padrões assustadores e reais que nos fazem pensar…
não tem como não amar a matemática!
Ok, eu sou um matemático apaixonado, então esse
tipo de coisa sempre me fascina. Mas eu gostei da maneira como isso é colocado
de maneira maníaca no enredo da produção. Max Cohen é um paranóico e fóbico
social, com períodos de alucinação e confusão que o ligam fortemente à
esquizofrenia. A compulsão por sua busca o deixa cada vez mais transtornado e
fechado em seu universo que não vê o sol e não tem relação com pessoas
externas. O personagem silencioso é perfeitamente interpretado por Sean
Gullette, que com pouco diálogo dá voz a ele através de uma narração profunda e
essencial.
Porque realmente nos sentimos próximos ao
personagem e à sua confusão extrema. Dessa maneira, o filme traz temas como o
mistério da Kabbalah e a Espiral Dourada misturado à psicose alucinada de Max,
uma trilha sonora cuidadosa e assustadora, em uma ficção científica que também
é um ótimo suspense psicológico. Acho que a trilha foi importantíssima na
construção dessa atmosfera, que me convenceu – foi um suspense assustador, a
agonia nos acompanhava o tempo todo, o pavor; várias vezes me vi prendendo a
respiração, e isso foi perfeito.
Também, como suspense psicológico, eu coloco as
cenas confusas em que ele vê coisas que não deveriam estar lá. Como o
misterioso cara cantando no trem, ou o outro na estação com a mão sangrando.
Mas nada se compara à trilha de sangue e o misterioso cérebro… que mais tarde
também está em sua pia do banheiro, cheio de formigas. Creepy. O filme, para nos manter no ritmo, coloca uma trilha que
nunca pára, e nos concede as sensações necessárias – como a música alta e os sons
agudos que acompanhavam suas dores de cabeça, que aliados aos gritos
agonizantes e a brilhante interpretação do ator, eram completamente
perturbadoras.
Ou o telefone tocando.
E ainda a recorrência de algumas cenas, como a
história de não olhar para o sol e como ele o fez quando tinha seis anos;
sentado no banco da estação de trem; ou ele colocando os remédios na mão e os
tomando – e note que a quantidade de remédios aumenta a cada vez que a cena é
repetida, o que me fez imaginar um fim totalmente diferente. Mas o fim… pouco
antes, naquela luz branca toda, achei uma cena muito poética e bonita, mas
depois voltou a ter a cara de Max com aquele ataque histérico provocado por sua
doença e tudo o que teve que passar ao longo de todo o filme… as duas últimas cenas
nos chocaram, nos obrigaram a fechar os olhos, fazer caretas e nos entregarmos
a uma profunda sensação de desespero. Transtornante, forte e bem
revolucionário…
Os mistérios da matemática e da natureza são
explorados com maestria. “Restate my assumptions: One,
Mathematics is the language of nature. Two, Everything around us can be
represented and understood through number. Three, If you graph the numbers of
any system, patterns emerge. Therefore, there are patterns everywhere in
nature”. E se você é um estudioso da matemática, ou apenas fascinado por
esses temas, certamente já se deparou com o “retângulo dourado” de Pitágoras,
utilizado nas obras de Leonardo daVinci como modelo de beleza, e a mítica
espiral dourada… presente em todos os lugares da natureza! Chifres de
carneiros, tornados, DNA humano, impressões digitais, Via Láctea…
Pi só
poderia crescer com a paranóia de Max e com as duas instituições interessadas
em chegar a esse número para benefício próprio – a cena com o Rabino é
absurdamente genial! Em vários sentidos… e é um daqueles filmes que você
planeja ver novamente e compartilhar com as pessoas ao seu redor. Certamente me
fez pensar, me emocionou, me perturbou, me eletrizou! E também é um daqueles
filmes que quando os créditos começam você está chocado com o sentimento de
melancolia que tomou conta de você… só eu que gosto de filmes que fazem isso
comigo?
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