CAZUZA – Pro dia nascer feliz, o Musical
No final eu precisava de um abraço da minha mãe.
PERFEITO. O musical é brilhante, envolvente,
divertido e emocionante. Grandioso em vários e vários sentidos, Cazuza é um emocionante retrato da vida
desse grande artista brasileiro, com sua ascensão e com todo o sofrimento de
sua doença culminando em sua morte – as músicas são usadas de maneiras
lindíssimas, e nos emocionamos do começo ao fim; no final eu estava soluçando
(sim, é verdade) e mal aplaudir eu conseguia. Ainda estou encantado, fascinado.
O musical é bem uma biografia mesmo, e é narrado
como uma – então os personagens que serviram de base a Aloisio de Abreu ao
escrever seu texto fazem a parte da narração durante o musical; isso já fica
muito claro na primeira cena, em que Lucinha se apresenta como a mãe de Cazuza,
conta sobre sua morte e sobre como é não conseguir dizer adeus a ele; fica
belíssima a maneira como os acontecimentos se mesclam com a narração dos
personagens, e como isso faz com que todo o musical tenha um clima bastante
melancólico e pesado.
Assim o tempo passa depressa – não o nosso como
espectador (embora esse também, e não queremos que o musical acabe de maneira
alguma), mas o tempo fictício. Uma mesma música pode contar com a amizade, a
briga e a reconciliação de personagens sendo que isso durou 6 meses na vida
real. E tudo fica representado de uma maneira muito bonita e completa. Os
personagens são espetaculares, os atores estão de parabéns, e conseguem
construir essa história de maneira muito bonita.
Há uma clara divisão entre primeiro e segundo ato.
O primeiro muito mais “leve” e descontraído, estamos repletos de piadas e a
ascensão do Barão Vermelho, Cazuza
como cantor solo e a descoberta de sua doença, o que faz com que esse já seja
permeado por momentos de pura tristeza e emoção. No entanto, no segundo ato é
que isso se aprofunda de verdade, e nós nos comovemos a cada cena, a cada
passo, a cada fala – e por sinal, elogiaremos novamente esse texto, tão bem
escrito. Os diálogos são realistas e perfeitos!
Foi só no segundo ato que eu realmente me
apaixonei pelo Cazuza representado no musical. Num primeiro ato muito
irreverente e debochado, é no segundo ato que ele transmite todos seus medos, que
ele expõe sua vulnerabilidade, e que deixa claro o que quer deixar como legado.
O segundo ato, com menos músicas, é muito mais denso e concentrado, tornando
cada cena única e inesquecível. É o exemplo de Malandragem, que chega realmente nos comovendo como nunca. Mas
também me apaixonei pela interpretação de Emílio Dantas, capaz de mostrar o
sofrimento e o pesar e ainda ser irreverente, sarcástico e debochado –
incrível.
O musical segue uma linearidade, no entanto,
especialmente no primeiro ato, são difíceis as conexões entre uma cena e outra,
como o próprio Aloiso de Abreu explica no começo do Programa – uma série de
acontecimentos diferentes contados pelas pessoas, o possibilitando escrever em
tópicos, narrando eventos isolados da vida de Cazuza. Mas a base, oh a base de
tudo, é a poesia. Eu senti isso claramente no segundo ato, especialmente também
quando ele canta Malandragem, mas é
tão bonita essa relação dele com a música, essa capacidade dele de dizer coisas
grandiosas com palavras bonitas e bem escolhidas. Um poeta, um artista, um
talento.
Aloisio de Abreu nos explica no Programa que
conversou tanto com Lucinha Araújo, Roberto Frejat e Serginho Maciel para
compor sua obra, mas como tinha que selecionar, escolheu momentos de “virada”
na vida do poeta, como os espetáculos de teatro na juventude, a descoberta da
música, o Barão Vermelho e a poesia, a separação da banda, a descoberta da
doença, a carreira solo, os amigos fiéis, a morte. “Cazuza sabia ser muito doce e encantador, mas também era debochado e
irreverente. Mesmo nos momentos mais barra pesada, dava um jeito de aliviar a
onda – dele e de quem estivesse perto”.
E é assim que Emílio Dantas o interpreta, de
maneira brilhante e genuína, incorporando o Cazuza e sendo exatamente aquele de
quem nos lembramos, mas também conseguindo expor sua fraqueza, seus temores,
sendo fofo e querido, sendo debochado e violento. Com relações belíssimas com
muitas pessoas (amigos, namorados e familiares), eu me emocionei de verdade com
gritos, com abraços e com lágrimas. O musical é isso: emoção pura, à flor da
pele, do começo ao fim. Vá ao teatro preparado para tudo isso, mas certamente
vá!
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