Gravidade


É maravilhoso.
Um grandioso drama/suspense de ficção científica que nos comove – um filme denso, de aspecto bastante filosófico (até me lembrou um pouco A Árvore da Vida, apenas na parte técnica e organização, claro – o clima que me passou era parecido), que nos leva à reflexão. Me deu uma sensação sublime de preenchimento que há muito não sentia em um filme. Com poucos diálogos e personagens, a trilha sonora conversa conosco, falando muito mais que qualquer texto.
O drama de uma missão malsucedida de conserto do telescópio Hubble enquanto os únicos dois sobreviventes após a chuva de destroços da destruição de um satélite lutam para sobreviver no espaço e voltar para casa. O filme todo se baseia no conceito bem explicado da primeira cena – da falta de gravidade, o silêncio e a bela vista. A diferença é que no começo temos inveja deles, depois passamos todo o restante da projeção apreensivos como nunca, roendo unhas, torcendo e se assustando (vide o retorno à nave destruída!). Efeitos incríveis e um visual belíssimo, mesmo a Terra parece mudar para se enquadrar no suspense crescente.
Eu fiquei comovido e apaixonado pela trilha sonora do filme. Acho que com esse tom filosófico que foi a intenção de Alfonso Cuarón, e com a escassez de personagens e diálogos, a trilha sonora é um personagem por si só, bem como um texto grandioso. Então logo de cara notamos isso em como a nota cresce com o título, impactando com o silêncio que se segue. E o silêncio perdura por muito tempo enquanto os tripulantes estão do lado de fora, e demoramos para realmente escutá-los pela primeira vez…
Com vários outros momentos muito parecidos a esse, é dessa maneira que a trilha sonora nos conduz por uma série de emoções. Há um close no Planeta Terra, inclusive, imensamente perturbador enquanto nada mais se escuta ou se vê. Há uma trilha impecável para o drama, para o suspense, para a angústia e para os nossos pequenos sustos. É ela quem nos conduz por todo o sentimento de apreensão e de nervosismo que nos acompanha durante toda a projeção. E eu achei fascinante a inteligência em cortar o som no vácuo (como com a reentrada de Matt no filme) ou diminuí-lo embaixo da água no final… genial.
Os atores transmitem a emoção e a agonia de maneira brilhante – Sandra Bullock sustenta grande parte do filme em um trabalho diferente dos quais estamos acostumados a vê-la, e ela se sai muito bem, nos convencendo de seu sofrimento e medo, e fazendo com que também nos sintamos sem oxigênio, por exemplo. Já George Clooney fez um ótimo trabalho sendo o Matt, e eu adorava os seus comentários. Amei a cena em que ele a deixa no EEI, mas também amei a sua reentrada surpreendente no filme, e a saída mais surpreendente ainda. Que cena é aquela!
Gravidade é repleto de ótimos momentos, e acompanhando pouca gente, ele apresenta uma linearidade singular. A missão do lado de fora, sem gravidade; os destroços os atacando; o momento à deriva, o desespero; o retorno e os corpos assustadores; a caminhada até a EEI e a falta de ar; o momento da despedida e as promessas; a calma x o fogo; o momento em que ela não pode sair e o segundo “ataque” dos destroços, a falta de gasolina, a belíssima cena na qual ela escolhe a morte e conversa com um cara chinês (a parte dos cachorros seria engraçada se não fosse tão assustadoramente deprimente), a visita do Matt, o último plano, o terceiro ataque, o pouso, a última agonia da água…
E o belíssimo final. Um final não tão surpreendente, mas muito bonito e intrigante, filosofia pura exatamente como parece que Alfonso Cuarón queria que fosse. Afinal não precisávamos mais do que aquilo, a simplicidade daquele fim e daquela cena garantem a beleza extraordinária do momento. Um filme muito bonito, muito inteligente, e incrivelmente bem construído. Muito diferente do que qualquer coisa que eu esperava, eu recomendo a todos!

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