Fourth Doctor – The Roots of Evil (Philip Reeve)
Com uma belíssima mensagem de esperança e vida
nova no fim, o conto bastante guiado pela natureza (acho que isso foi por
colocar Leela como companion, e
utilizar bastante a natureza e as árvores parece cabível) apresenta o quarto
Doctor de uma maneira questionável. Talvez por ter sido o melhor Doctor da
série clássica, talvez por ter sido o ator a passar mais tempo no papel, talvez
porque realmente esperamos bastante disso e Reeve teve uma missão complicada…
mas embora as jujubas estivessem presentes, talvez não tenhamos visto realmente
o Doctor de Baker.
O conto foi bastante diplomático, refletindo a
personalidade de Tom Baker de não partir inicialmente para a ação, mas buscar
as conversas com seus inimigos, e sempre oferecer uma jelly baby – “He reached into his pocket and pulled out a crumpled
paper bag. ‘Would you like a jelly baby?’ he asked, holding it out to the boy”
– isso precisava estar ali em algum lugar para ser efetivamente o Quarto
Doctor, mas o que me deixou em dúvida foi que o senti distante durante toda a
história. Sim, ele era o Doctor mais estranho e excêntrico da série clássica,
com a “mentalidade alienígena” e tudo o mais, mas o senti apagado, não tão
cativante quanto o ator…
O que eu quero dizer é que, sendo o melhor dos
Doctors clássicos (e talvez o melhor de todos os Doctors), eu esperava mais. E
a história foi bastante estática, com apenas um cenário durante todo o
percurso, mas antes que pareça que eu estou falando mal do conto, eu digo:
AMEI. Amei por um motivo: o foco da narração não esteve no Doctor ou nos
elementos clássicos da série, mas sim na viagem no tempo por si só. E encarar
as maravilhas da viagem no tempo é uma coisa e tanto! Reeve conseguiu ser
convincente e cativante ao nos mostrar esse tipo de história, misturando os
tempos de maneira interessante e criativa, e mostrando o quão louco é isso tudo
de viajar no tempo.
MATT SMITH! \o/
O quarto Doctor, interpretado por Tom Baker de
1974 a 1981 é o “Doctor definitivo” da maioria dos whovians. Bem distinto de suas encarnações anteriores, esse Doctor
era mais bem humorado e engraçado – e é aquele amante de jujubas que muito
raramente era visto sem seu cachecol. Com um dos figurinos mais clássicos de Doctor Who, esse Doctor é campeão de cosplays, e ainda é, provavelmente, o
figurino que primeiro nos vem à mente quando pensamos no personagem – embora,
no conto, ele apresente um repúdio às gravatas borboletas que os fãs mais
modernos não ficarão contentes!
No conto, o Doctor, além do clássico cachecol (que
inclusive é usado em uma cena para salvar um personagem, Ven, de cair na câmera
de digestão da Heligan – longa história, já explico) também aparece com o seu
curioso chapéu. Sua companion
explorada na história de Philip Reeve é Leela, uma selvagem retirada da
floresta pelo Doctor e tomada para suas aventuras… é ela também quem fornece a
premissa para todo o conto, uma vez que anseia por ver árvores novamente, mesmo
que ao fim do conto já esteja com a mentalidade bem alterada, e ver árvores já
não lhe parece tão convidativo assim.
Porque a história de The Roots of Evil se passa inteiramente dentro de uma árvore. No
prólogo somos apresentados a ela de maneira curiosa com “It is sleeping, as it has slept for centuries, dreaming its long, slow,
bitter dreams of vengeance…” e então o tempo passa para que Ven encontre a
misteriosa “Caixa Azul” das lendas do local, que dizem que o Doctor retornaria,
e que quando isso acontecesse, ele deveria ser executado da maneira mais brutal
possível, como uma maneira de vingança por tudo de horrível que ele representou
para aquela civilização, mais de 900 anos antes.
Ha.
Eu devo dizer que amei a Heligan Structure. As
árvores são bem explicadas e definidas por Reeve, e é assombroso imaginar isso
flutuando na atmosfera de um planeta, tão grande e viva capaz de suportar uma
inteira civilização morando dentro dela e pelos seus galhos e folhas. Eu queria
muito ver isso em filme, embora o local onde a TARDIS tenha ficado presa me
proporcione uma terrível sensação claustrofóbica, e o perigo das raízes da
própria árvore atacando seus moradores e invasores seja um prato perfeito para
qualquer tipo de suspense. Uma
estação espacial de madeira…
“Yet here it stood, solid,
impossible and terrifying: the Blue Box”. Foi minha primeira dúvida ao ler o
conto. Porque “assustadora” era o último dos adjetivos que eu usaria para
descrever a TARDIS. Mas quando
nomes como Ven são apelidos para “Vengeance-Will-Be-Ours-When-The-Doctor-Dies-A-Thousand-Agonizing-Deaths”
e Aggie para “Agony-Without-End-Shall-Be-The-Doctor’s-Punishment”,
o que se pode esperar? Sempre fantástico ler a indiferença do Doctor, e
uma das coisas que mais me fizeram rir foi seu comentário: “You know, Leela, just between ourselves, I’m
starting to feel that I’m not entirely welcome here”, isso sim tem tudo a
ver com ele!
Curiosamente, o conto me levou para uma filosofia
distinta a respeito das interpretações que as diferentes culturas dão a um
mesmo acontecimento. Com o Doctor que não se lembrava o motivo de tanto ódio
para com ele (“Golrandonvar? No, it
doesn’t ring a bell.”), ficamos o tempo todo tentando entender o que
aconteceu tantos anos antes, quando eles acusam o Doctor de tê-los traído e
assim tirado-os do lugar onde habitavam. Parecia bastante óbvio que se o Doctor
tinha ajudado quem estava contra eles, tudo foi na tentativa de ajudar e fazer
o que ele julgava que era o certo, e talvez o pessoal que agora vivia na
Heligan Structure não fossem inocentes em nenhum momento.
“I don’t think you and your fellow
colonists on Golrandonvar were innocent victims of the Thara rebellion at all. I
think you were vicious tyrants.”
E é exatamente o que vemos acontecendo na vida
real, não é? Vemos que as interpretações de qualquer tipo de acontecimento
varia de acordo com as necessidades e preferências de quem está contando a
história – impedidos de completar sua missão, eles escolheram odiar o Doctor
durante todos esses séculos, buscando uma vingança por algo que nunca foi
errado. Também é bom ver como o Doctor está tão certo que, mesmo que vá usar
uma gravata-borboleta, o que lhe parece absurdo, ele jamais condenaria alguém
que fosse inocente.
Onde o Valeyard
entra nisso tudo?
Gostei muito de como a palavra “exterminate” é citada e como o Doctor
reage.
EX-TER-MI-NA-TE.
Philip Reeve, autor de "The Roots of Evil" |
Mas falando em gravatas-borboleta… vocês devem se
lembrar que eu meio que busco indícios de referências ao Décimo Primeiro Doctor
nos contos, mas aqui era inegável. ‘The Doctor told our ancestors
“Bow ties are cool”,’ said Ven. Philip Reeve deve ser um grande
admirador de Matt Smith, e quis colocar um pouquinho de seu Doctor em seu conto
também, utilizando-se da mais famosa e deliciosa frase do nosso atual
queridíssimo Doctor… afinal é sempre tão bom ouvir isso, não é? E também será
uma saudade tão imensa quando ele não estiver mais no papel.
Mas dessa maneira, chegamos até a realmente ver o
Matt Smith nesse conto, no plano maluco criado por Reeve para exemplificar as
maravilhas da viagem no tempo. É ela quem justifica todo e qualquer
acontecimento, de maneira bem simples na realidade, mas nos deleitando com uma
versão curiosa da história. Essa brincadeira com o continuum de espaço-tempo parece muito com Doctor Who. E ele
até citou paradoxos! Ponto. ‘Though we
will meet again, nine hundred years in the past. Your past; my future. That’s
the trouble with time travel, you never know whether you’re coming or going…
Foi um ótimo conto. Certamente não foi o melhor
dos quatro contos até aqui, mas a valorização dada à viagem no tempo foi
importante, e realmente necessário. Dois Doctor belamente homenageados de uma
só vez (o que deixou o Jefferson bastante contente!), Philip Reeve fez um bom
trabalho ao tentar representar Tom Baker, o mais icônico e perfeito dos Doctors
antigos… duvido que um dia alguém o superará. Sete anos inteiros como o
personagem, sendo amado e aclamado no mundo todo? Mas talvez Peter Capaldi seja
o próximo a fazer isso, vai saber?
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