Sixth Doctor – Something Borrowed (Richelle Mead)
A primeira autora mulher nessa série de contos de Doctor Who traz uma história baseada no
“amor” e no casamento… mas ela faz isso de uma maneira interessantíssima e
surpreendente, que demoramos a captar, e entender até onde ela quer chegar –
mas de maneira muito inteligente, ela faz conexões entre os Time Lords e outra raça alienígena, traz
de volta uma personagem importante no Universo Who e ainda conduz uma brilhante
discussão a respeito de “Regeneração”.
Regeneração
foi meio que o tema do conto, finalmente discutido como raramente o é, nos
fazendo refletir e apresentando conexões e discussões bastante interessantes.
Tentamos entender como isso acontece, fazemos nossos próprios questionamentos,
e ficamos bastante contentes por ver uma outra maneira de “mudança corporal”
que se assemelha muito à regeneração dos Time Lordes de um lado, mas é muito
mais controlada e totalmente diferente de outro… como Peri deixa muito claro
também ao fazer sua análise – “They’re
completely different processes. Theirs comes from love. Yours from death”.
Com os eventos que sabemos que nos esperam no
Especial de Natal, acho que é um ótimo momento para discutirmos regeneração em Doctor Who, ainda mais com essas idéias
de Moffat de não ignorar os papéis passados de Peter Capaldi na série… embora
as pessoas tentem usar a regeneração de Romana para defender Moffat, não acho
que isso seja uma boa idéia – eu acredito bem mais na versão defendida em Something Borrowed, de que o processo é
bem mais arbitrário e o Time Lord não
tem muito poder sobre ele. Afinal, ele sempre quis tanto ser ruivo, se ele
pudesse escolher… por que não?
“[…] there’s not much we can do
about it”.
Lendo o conto, me deparei com um receio
gigantesco. Como a maioria já sabe, o Sexto Doctor, interpretado por Colin
Baker de 1984 a 1986, não é o Doctor favorito de muita gente. Na verdade não é
um Doctor que muita gente goste. Foi um Doctor bem renegado, pronto falei.
Acredita-se que foi uma tentativa terrível da BBC de deixar o personagem
diferente, mas o colocaram falando muito difícil, extremamente insensível e com
um ego gigantesco que o fazia se sentir muito melhor do que todos os outros,
mesmo comparado a regenerações passadas que também não eram lá muito humildes…
E o figurino…
Bem, eu confesso que nunca entendi muito bem
aquele figurino. O que era aquilo? O Doctor sempre foi muito excêntrico, e isso
não se nega, mas o Doctor de Colin Baker meio que se superou. Enquanto outros
Doctors ficaram marcados pelo cachecol, o chapéu, o sobretudo (oh, o sobretudo)
ou a gravata-borboleta, o Sexto ficou marcado pela excessiva quantidade de
cores, e coisas que não entendemos… e olha que estávamos vindo de um Doctor que
usava um vegetal! Manteve o colarinho com ponto de interrogação, mas também
usava um casaco multi-colorido e um incompreensível lenço azul de bolinhas
brancas…
Enfim. No conto de Richelle Mead, o Doctor foi
representado com Peri, companion sua
que esteve com ele durante sua regeneração, que também foi companion do Quinto Doctor, o que me parece correto com o conto
tratando a respeito dos temas que trata. Diretamente da série clássica, Something Borrowed também traz de volta
Rani, uma Time Lady não muito amigável que odeio o Doctor profundamente, mas é
extremamente inteligente – dessa vez disposta a usar seus conhecimentos e
experimentos científicos no controle do processo de regeneração.
Foi inteligente então como Richelle Mead
caracterizou o seu Doctor. Em aparência fez questão de ressaltar “[…] his red-and-yellow plaid coat and green
tie” e em personalidade nos deixou bem confuso, especialmente por estarmos
justamente receosos. Mas logo no primeiro capítulo ela coloca uma fala como “Is it? Seems like a very
American concept, really. Exploiting people’s hopes and dreams for profit. I
figured you’d be quite comfortable with that”, evidenciando a natureza um
tanto hostil do Doctor, com seus comentários impensados e que podem magoar…
De todo jeito, em Something Borrowed, conhecemos uma nova versão da cidade de Las
Vegas. Na verdade não estamos em Las Vegas propriamente dita, e sim em uma
reconstrução dessa em um outro planeta habitado pelos Koturians, famosos por
seus casamentos e a importância dada à cerimônia em sua cultura – uma versão
romântica de Las Vegas, onde os casamentos realmente são levados a sério.
Bastante a sério, na verdade, com essa história toda de Phasing.
Eu achei um conceito fascinante. O Doctor e Peri
chegam ao planeta justamente no meio de um ataque do que parece dinossauros
voadores, e com um casamento importante prestes a acontecer – onde Jonos se
casará com uma misteriosa noiva da qual não se sabe muito, e que não veio dali…
e durante o casamento, os Koturians passam por um processo de transformação no
qual se “regeneram”, com uma mudança total de sua aparência, uma espécie de
melhora tanto no corpo quanto na mente, e tudo isso desencadeado pelo amor. E
todos eles só tem uma chance de fazer isso na vida, durante uma fase
específica.
Parece bastante evidente a ligação dessa
transformação com a regeneração dos Time Lords, e o mais interessante é ver o
controle que esses alienígenas têm sobre esse processo. É assim que
investigando chegamos a Rani, realizando uma coleta de espécimes e planejando
se casar, tudo numa expectativa de aprender mais sobre esse processo e tentar
adquirir essa capacidade de controlar suas regenerações, um processo natural
dos Time Lords. Bem, embora tenhamos visto de fora a TARDIS dela, eu adoraria
entrar… ela é tão diferente da do Doctor que eu queria muito ver uma descrição
detalhada…
As fotos devem bastar.
Então a história se desenvolve de maneira bastante
linear e sem grandes surpresas, mas é bem interessante. Gostei bastante de Peri
e amei sua interação com Wari, a menina servente apaixonada por Jonos, bastante
triste com o seu casamento. Foi uma bonita história de amor que presenciamos
apenas o começo, mas essa idéia de deixar o resto no ar para que pensemos é
muito mais interessante… nos instiga a continuarmos pensando no conto,
imaginando um futuro para aqueles dois.
Richelle Mead, autora de "Something Borrowed" |
Foi um conto muito bom, mas acho que Richelle Mead
foi bastante cuidadosa ao escrevê-lo. Com as críticas ao Sexto Doctor (como à
sua violência desnecessária), ela tentou medir os acontecimentos para torná-lo
mais aceitável, mas ainda assim sem descaracterizá-lo – acho que foi Peri quem
garantiu que ele ficasse exatamente como deveria ficar, com seus constantes
comentários, como personagem ou como narradora. Pudemos claramente sentir seu
grande ego e sua arrogância, mas não tanto de sua teimosia… preferimos ficar no
seu lado mais preocupado com os demais.
Colin Baker pode não ser o Doctor favorito da
maioria das pessoas, e tem uma história controversa com Doctor Who. O único Doctor até hoje a ser demitido pela BBC, sua
passagem pelo programa não foi um grande sucesso… é dessa maneira que ele ganha
uma morte ridícula, por motivos absurdos, e provavelmente bravo com a BBC, Colin
Baker nem retorna para gravar sua cena de regeneração… mas ainda acho justo que
reconheçamos sua participação e sua importância, como um Doctor que ficou no
papel por três anos, deixando sua marca na série… e Richelle Mead conseguiu
homenageá-lo de maneira completa e quase admirável, especialmente pelos elementos
fora do Doctor. Como Peri, que foi a melhor escolha para companion, ou então a interessante nova visão sobre regeneração, e
o ponto mais positivo do conto, que foi colocar Rani como a antagonista – que
bom que pudemos ter um tempo com ela (ainda mais levando em conta que é por
causa dela que o Sexto Doctor se regenera em Time and the Rani), bem como já tivemos com o Master alguns contos
atrás! Ótimo trabalho!
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