Elis, a Musical
Depois de um primeiro ato arrastado e com vários
aspectos cansativos, só posso dizer que realmente comecei a gostar de Elis, a Musical ao longo do segundo ato.
Mesmo com ótimas cenas que merecem ser pontuadas na primeira metade, assim como
em Cazuza – Pro dia nascer feliz, os
produtores escolheram reduzir o número de músicas para o segundo ato e
torná-las o centro de cenas independentes, mais marcantes e com muito
significado sendo explorado. Agora posso dizer: muito bom! BRAVO!
O musical conta a história de Elis Regina, a
grande cantora brasileira, baixinha e topetuda – desde quando era uma
adolescente lá no Rio Grande do Sul até conquistar o sucesso, gravar CDs,
brigar com todo mundo, cantar com Tom Jobin, se casar uma vez. Se casar a
segunda vez. Ter dois filhos. E o roteiro não economiza nos palavrões, com
direito a várias brigas que começam ou terminam com “Vá pra puta que o pariu” –
que em um momento ou outro foram cenas bem engraçadas. Mas ironicamente falha em
seguir até o fim… o roteiro omite muito da vida de Elis Regina, e TODA sua fase
mais sombria, deixando tudo com um ar fantasioso e falso que não convence.
Amei realmente o figurino e os cenários, tudo tão
condizente com as épocas e com o que se estava contando – a atriz que
interpretava a Elis (no meu caso Lílian Menezes) estava tão bem caracterizada
que ficou muito parecida. E cantava lindamente! Conjunto de atores fenomenais,
muita muita muita música e um final realmente emocionante que trouxe de volta
vários elementos de toda a caminhada – o vestido rosa inicial, a dança com os
manequins, Jair Rodrigues, Lennie Dale, as roupas do espetáculo e muitas mais
coisas. Ao som de Redescobrir? Lindo
demais!
Durante o primeiro ato, foram algumas coisas que
me fizeram chamá-lo de cansativo: primeiramente que é bem longo, e você nota
isso. Não passa depressa, você enjoa. As brigas de Elis com Ronaldo nos
cansaram – mesmo que essencial à peça, ficou bem repetitivo e parecido, já não
aguentava mais. Os solos dela também, em algum momento na primeira metade achei
que não queria mais – e a cena com Jair Rodrigues, toda aquela seleção de
sambas; foi uma ótima ideia, mas poderia ter sido bem menos longo. Estava ótimo
no começo, nos cansamos antes de chegarmos ao final. Resultado? Nossa
recordação não é de toda boa.
Mas para ser justo, o primeiro ato trouxe cenas
belíssimas. Fascinação, mesmo cantada
só um trechinho é linda! Garoto Último
Tipo / Puppy Love foi ÓTIMO, porque apresentou o elenco todo, e eu amei
aquela plateia da rádio, toda animada e com coreografias lindas. O Pato também, afinal Danilo Timm
arrasou como Lennie Dale (“Ah então aqui
é assim? As pessoas beijam na boca e pegam na bunda dos outros?”) e Menino das Laranjas também foi legal.
Mas o que mais chamou atenção mesmo foram as divertidíssimas Alô, Alô, Marciano e Madalena, clássico.
No final do primeiro ato eu já estava novamente
muito feliz! Tivemos Não Tenha Medo,
na qual Elis foi obrigada a cantar para os militares, e a cena ficou
surpreendente! Eu simplesmente amei a coreografia elaborada deles – ÓTIMA CENA!
Não tão emocionante quanto O Bêbado e o
Equilibrista no segundo ato, que fez muitas lágrimas se juntarem nos meus
olhos, ou então Querelas do Brasil / Deus
Lhe Pague – emocionante, inteligente e forte cena de Elis com os operários,
com direito a citação a Lula e tudo o mais. A cena ficou realmente muito boa.
O primeiro ato acabou com o fim da história com o
Ronaldo e introduziu César, acabamos com uma bonita versão de Casa no Campo, mas o segundo ato…
voltamos do intervalo com ânimo renovado, e a peça realmente nos conquista com
cenas, como aquelas citadas ali em cima, muito mais elaboradas e marcantes –
cada momento era singular, puro, digno de aplausos e mais aplausos – amei
encerrar um momento grande e começarmos outro – fosse divertido, fosse triste,
fosse emocionante. E foi isso tudo. Me arrepiei nas partes mais revolucionárias
(Querelas do Brasil, Deus lhe Pague e
O Bêbado e a Equilibrista) e amei
todo o resto.
O medley
inicial, muito hippie quase me fez
chorar. E tem pessoas que saberão muito rápido o porquê [Oi, Paula!] – hippies, musicais… me bateu uma saudade
TÃO grande de Hair. Mas enfim. Elis
gravando com Tom Jobin, divertido e uma versão muito bonita e bem interpretada
de Águas de Março. Dois pra Lá e Dois pra Cá merece um
comentário: QUE LINDA a dança daqueles rapazes com os manequins, não é? O Guarani / Como Nossos Pais – outra
cena grande e LINDA, com o espetáculo de Elis, com roupas elaboradas e
fascinantes…
Não imaginei que não teríamos um final emocionante
e melancólico. Em As Aparências Enganam e
O Trem Azul, eu fiquei triste por
César, e ficamos pensando no quanto Elis não foi feliz, feliz de verdade –
tenha ela seus motivos. Aos Nossos Filhos,
depois da belíssima e emocionante entrevista. E o final, que para mim foi a
parte mais inteligente por trazer aqueles elementos todos de volta. Vemos a
reentrada do manequim, e então pessoas e peças importantes de toda a história
se reúnem em volta de Elis, cantam uma animada, bonita e ao mesmo tempo muito
triste versão de Redescobrir. Lindo,
BRAVO! Mas deixou muita coisa de fora e acabamos com uma sensação de “E o
resto?”. Musical em cartaz, por enquanto, no Rio de Janeiro, mas se você for
ver apenas um, aconselho CAZUZA! Muito, muito melhor.
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