Insurgente – Uma escolha pode te destruir


À medida que o conflito entre as facções e suas ideologias cresce, a guerra se aproxima. E, em tempos de guerra, partidos precisam ser tomados, segredos vão emergir e as escolhas se tornarão ainda mais irrevogáveis – e poderosas. Modificada por suas próprias decisões, mas também por uma devastadora sensação de mágoa e de culpa, descobertas radicas e relacionamentos em transformação, Tris precisa aceitar por completo a sua Divergência, mesmo que não saiba exatamente o que pode perder ao fazer isso.

Insurgente é um livro muito mais complexo do que o seu antecessor – mesmo que ainda siga uma linearidade estrita, parece que o ritmo e as mudanças nesse volume foram muito maiores; e as revelações não vieram tão mastigadas quanto em Divergente, nos permitindo pensar a respeito, e surpreender-se ocasionalmente. Mas mais do que tudo, Insurgente expandiu esse universo e nos apresentou coisas que queríamos saber desde o princípio, além de explorar a natureza humana com reflexões assustadoras sobre a maneira como as pessoas agem. Diferente do que imaginamos, acaba que a série não chega a ser tão política e revolucionária quanto esperávamos – mas parte para um outro lado; acima dos governos autoritários e da realidade cruel da sociedade, Insurgente se propõe a uma análise profundamente sentimental de quem sou eu e o que temos feito.
Indo direto ao cerne, Veronica Roth explora o ser humano.
O sistema de facções desmentido.
Sendo Tris e Tobias Divergentes, acho mais do que necessário que a trilogia abranja mais do que uma facção… e era o meu medo ao começar a ler a trilogia; o fim de Divergente já deixou bastante claro que não seria assim, que teríamos uma boa exploração de todo o universo. E é o que acontece durante Insurgente. Vemos, muito depressa, as coisas aumentando e fazendo sentido, o Universo se expandindo… depois de explorarmos bem a Abnegação e a Audácia no primeiro livro, com um pouquinho de Erudição também, agora partimos para as demais facções.
A visão sobre a Erudição continua parcial, mostrando seu lado vilão e Caleb. Que é confuso. Mas o livro começa na Amizade, depois ainda nos apresenta a Franqueza – sempre nos dando algumas informações cruciais sobre o estilo de vida levada nessa facções, seus costumes, e mesmo trechos de suas Iniciações. Sabemos sobre o soro da verdade da Franqueza que faz os Iniciandos se exporem perante todos, e a droga ministrada aos membros da Amizade pelo pão, que os deixa tão… meio hippies, não? Ver Tris sob o efeito de qualquer um deles é fantástico!
Mas Veronica Roth se superou ao colocá-la sob o efeito da droga da Amizade.
Mas o que mais me chamou a atenção e me deixou muito contente foi que sabemos muito sobre o processo de Iniciação de todos eles, as visões das facções são lentamente desconstruídas (até a Abnegação se mostra curiosa com estudos sobre os Divergentes) e ainda somos apresentados às comunidades de sem-facções – com um número tão grande de Divergentes, é evidente que eles são o futuro, saindo desse mundo de totalitarismo e de verdades absolutas… comunidades nas quais as pessoas são permitidas a serem elas mesmas, e a agir de acordo com suas opiniões e momentos, não seguindo uma única Virtude o tempo todo. São permitidas pensar. Achei isso fascinante!
As coisas acontecem depressa demais, e continuam o tempo todo mudando, o que mantém um ritmo muito bacana – há uma variedade de cenários diferentes do primeiro livro, o que valoriza a sequência e a deixa mais interessante. No entanto, os personagens demoram a sofrer um desenvolvimento à altura. Tris não cresce tanto como pessoa ou como personagem, não surge uma nova guerreira menina, símbolo de nada. Ela não é a Katniss, nunca será. Pelo contrário, ela se torna indiferente, distante. Foi essa a sensação que eu tive em diversas partes do livro: que Tris estava incrivelmente longe do nosso alcance. Até admirá-la por contrariar Tobias e se aliar a Marcus pelo o que acreditava ser o certo.
As simulações nesse livro assumem uma nova identidade que me fascinou – lembro-me que no primeiro livro foram minhas partes favoritas. Adorei o Teste de Aptidão, e as Paisagens do Medo foram ótimos capítulos… não gostei da versão final que transformou o pessoal da Audácia em zumbis para matar a Abnegação, mas do restante. Em Insurgente, tudo é diferente – estamos justamente nesse segundo tipo de simulação, ou na tentativa da Erudição de de fato entender os Divergentes e controlá-los; então os testes realizados por Jeanine são os que fornecem as melhores cenas no estilo… a cena com a mãe e o pai; a cena de Tobias a ajudando a fugir;
Traição.
Seria estranho se eu ainda assumisse que me identifico mais com a Erudição do que com qualquer uma das demais facções? Não quero que ninguém me julgue por isso nem nada, e não estou dizendo que faria o que Caleb fez, mas é o tipo de ambiente no qual eu gostaria de estar. Sem as guerras e manipulações da mente, claro. Mas vide as terríveis cenas dos testes de Tris, que a deixaram num estado deplorável… de uma maneira controversa e doentia, eu os amei. Porque eu tenho essa mesma curiosidade de entendê-los, de saber exatamente o que está acontecendo, e as explicações científicas e os testes da Erudição foram as cenas que mais me prenderam e que mais me deixaram entusiasmado… eu estava finalmente entendendo algumas coisas!
“Todos riem. Todos nós rimos. A mim ocorre que eu talvez esteja conhecendo a verdadeira facção de Tobias. Eles não são caracterizados por uma única virtude. Assumem todas as cores, todas as atividades, todas as virtudes e todas as falhas”. Isso é grande parte e a melhor parte do livro – voltando à discussão apresentada em Divergente sobre uma verdade única e absoluta, o sistema de facções é mais questionado do que nunca; e ver na prática como os sem-facção funcionam (como na excelente cena na antiga casa de Marcus) é muito bom! Eles são humanos, eles são divertidos… eles podem ser eles mesmos sem se preocupar com os dogmas e as proibições de determinada facção. Leitura incrível dessas partes!
E que venha o sistema abaixo!
Muito mais surpreendente do que no livro passado, o clímax dessa vez foi muito bem escrito. Ainda com um exército de zumbis sob o efeito da simulação da Erudição, eles felizmente não foram o foco de toda a sequência… pessoas das quais gostamos muito como Christina e Tris juntam-se a Marcus em uma missão que contradiz completamente a missão na qual a Audácia oficialmente se engaja, liderada por Tobias. A ironia master faz com que o lado da Erudição e da Abnegação de Tris falem mais alto – a curiosidade para saber o que Jeanine tanto esconde, e a decisão de escolher os pais e a causa pelas quais eles morreram; e a Audácia para fazer o necessário. Assumindo totalmente sua identidade Divergente/Insurgente, ela contradiz a todos.
De maneira fantasiosa, no entanto, parece que “todo mundo” decide acreditar nela. O fim do livro conta com cenas maravilhosas dos sem-facção liderados por Evelyn, talvez porque eu goste dela, mas o livro foge de nossas expectativas ao mostrar o vídeo que é a informação tão comentada durante toda a narrativa: mistérios resolvidos. Certo? Parece que mostrar o vídeo apenas nos deixou ainda mais confusos e sem entender o que está acontecendo – foi um daqueles finais surpreendentes que nos deixaram de queixo caído e que certamente nos farão voltar para o terceiro livro. Estou mais curioso para Convergente do que estava para Insurgente. E o mais bacana é ver as pessoas mudarem tão drasticamente diante de seus olhos, e não conseguir projetar para onde a história caminhará…
O que tem do lado de fora da cerca? Vamos para o Distrito 13?

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