Kill Your Darlings
Um ótimo e pesado filme, completamente diferente
de qualquer coisa que eu tenha imaginado. Eu esperei por esse filme durante
muito tempo, lamentei que minha cidade não o tenha estreado nos cinemas, e
mesmo a dificuldade para achá-lo para download
até que o DVD fosse oficialmente lançado lá fora. O filme me chocou, porque a
história completamente sofrida de um poeta e seu melhor amigo não conta com
sequer um romance: é o drama verdadeiro de escritores, sofrendo para escrever,
sofrendo para serem eles mesmos, e para serem parte de uma sociedade cheia de
métrica e forma. As motivações são compreensíveis, e lamentamos os rumos
tomados, sofremos com os protagonistas.
A história é baseada em fatos reais, e conta a
história principalmente de Allen Ginsberg – é muito difícil realizar
julgamentos com base em um filme feito agora, uma vez que eu não conheço a
realidade dessa história e tudo o que temos são relatos, e os dizeres de cada um
dos envolvidos. Mas muito além da história de um homicídio, temos a história
dessas pessoas, e a infelicidade de saber que nem Allen nem Lucien podem de
fato terem encontrado a felicidade em suas vidas. Seja como for, exatamente
como a versão contada pelo filme, ou então a defendida por Lucien em sua vida
real, ele sofreu muito, e ao mesmo tempo em que abomino alguns de seus atos,
não posso deixar de lamentar por ele.
Ginsberg é um rapaz jovem que acabou de chegar na
Universidade de Columbia, nos anos 1940, em plena Segunda Guerra Mundial. O
terror que se espalhava pelo momento histórico era inquestionável, e ele e seus
amigos causam uma revolução na universidade ao quererem quebrar com a forma –
exatamente como Tristan Tzara fez anos antes ao criar o Dadá, eles planejam
quebrar com a métrica e com a forma, influenciados pelas correntes modernistas
da época. Isso enquanto se afirmam como poetas e escritores, que serão
recordados para sempre como grandes artistas que foram – a melhor das cenas
está no ato de rebeldia que foi invadir a biblioteca durante a noite e trocar
os documentos de exposição.
Perfeito.
Allen Ginsberg ainda não sabe exatamente quem ele
é. Jovem, inocente e impressionável, ele se deixa levar e vê-se tirado de sua
vida comum para uma que não sabe controlar – o internamento da mãe, a nova
esposa do pai, as drogas, tudo interfere em sua vida. Bem como os sentimentos
por Lucien que ele ainda não consegue entender. É um rapaz talentosíssimo,
repleto de idéias e com um espírito de liderança nato, mas que precisa aprender
quem ele é. Os momentos de dúvida e de descoberta durante o filme são
comoventes, e foram tão bem filmados que nos deixam embasbacados – é bom vê-lo
sorrir, é desesperador vê-lo sofrer.
Por outro lado, Lucien Carr é um rapaz muito mais
confuso e transtornado do que Allen. Começamos o filme encantados com ele, pela
sua maneira de levar a vida, mas é muito rápido para percebermos o quanto ele
sofre, e o quanto esconde. Na sua vida, David desempenha um papel
importantíssimo: um homem mais velho completamente apaixonado por ele. Não
sabemos na verdade se ele realmente foi apenas uma vítima de um “predador
homossexual” (ele se casou mais tarde e teve alguns filhos), mas não foi isso o
que o filme fez parecer. Parecia muito cômodo para ele que ele se colocasse
como vítima, e também encobria o seu medo incontrolável de revelar-se e não
aceitar quem ele era.
Um processo de aceitação. Lucien sofreu a vida
toda afastando de si pessoas que realmente gostavam dele, como Allen, chegando
a matar David em um ato desesperado. Ele precisava de ajuda, ele precisava de
alguém. Tudo no que eu conseguia pensar era em como Lucien sofreu por nunca
poder ter assumido quem ele realmente era, e sabemos que o processo de
aceitar-se não é puramente pessoal. Não era uma escolha dele, embora ele
pudesse interferir. Vê-lo tão claramente apaixonado por Allen, provocativo, mas
sem nunca poder dizer nada é de fazer qualquer um sofrer.
“First thought is the best thought”
Vê-lo preso, no começo e no fim do filme, tem
conotações completamente distintas! A primeira parte do filme é muito mais
mágica, muito mais cheia de esperança e alegria, mas ver o que o levou até
aquele momento é mais complicado – entender que ele não escrevia nada, entender
que Allen escreveu um belíssimo “romance” como exame final, contando a sua
versão dos acontecimentos, versão essa que Lucien nega até o último momento, e
chama de “ficção”. Ele nega qualquer sentimento por Allen, por mais evidente
que seja, e rejeita a possibilidade de algum dia ter amado David, por mais
plausível que isso possa parecer. E ambos os atores convencem em suas lágrimas,
em seus sofrimentos, em perfeitas atuações!
PARABÉNS para Daniel Radcliffe e Dane DeHaan –
esses dois interpretaram Allen e Lucien fenomenalmente. Já vi outros trabalhos
do Daniel fora de Harry Potter, mas aqui ele estava em seu melhor, e o mesmo
pode ser dito de Dane. Eles conseguiram comover e soar perfeitamente
convincentes em TODOS seus momentos, nos emocionando e nos fazendo sofrer. Ou
então em momentos fofos como aquele maravilhoso momento do primeiro beijo, ou a
hesitante hora na qual Allen toca os cabelos de Lucien: tão terno e natural. Ou
ainda aqueles olhares provocativos de Lucien enquanto Allen estava com aquela
moça na biblioteca. Quer dizer, QUE CENA FOI AQUELA?
Enfim. O filme é surpreendente – porque quando
você começa você não pode imaginar os rumos que ele vai tomar. E da metade para
a frente ele apenas te machuca, te choca e te faz sofrer. Extremamente
melancólico, o terminamos com uma terrível sensação de desamparo – somos
obrigados a ver os dois sofrendo, chorando, ver o fim do David (não gostava
dele, mas esse fim foi ainda pior para o Lucien!) e a vida de todos se
destruindo. Sam morre num disco, Allen perde a virgindade enquanto Lucien se torna
um assassino doente. Cenas fortes, incrivelmente bem filmadas. Final? Todos
sofreram, todos choraram, viveram uma “bonita” e sombria história e se tornaram
ícones.
“It’s complicated”
“Perfect. I love complicated”
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