Noé
Épico.
Procure pela definição de épico que você vai ter
uma boa noção do que é assistir a Noé,
o maravilhoso filme lançado esse ano. Não é um filme bíblico ou religioso,
então esse não é o público alvo – sério, se você só quer ver um novo filme
catequético não assista, não é para você. O filme é inspirado pela história bíblica de Noé, mas não é uma fiel
adaptação da mesma. Mesmo que esteja com as mensagens devidamente passadas, e
toda uma produção maravilhosa de encher os olhos. É uma experiência e tanto,
para você sair do cinema satisfeito. Uma diferente abordagem da história já
conhecida, que aposta justamente no épico e no drama.
Todo mundo conhece a premissa básica da história
de Noé: um dilúvio está por vir, e Deus encarrega o homem de construir uma
arca, na qual todos os animais e sua família serão salvos, enquanto o mundo é
lavado para ter um novo recomeço, uma nova chance. O filme apresentou o
conceito de uma maneira extremamente interessante, através de um pesadelo bem
filmado de Noé, que contava com os pecados da humanidade: a serpente, o fruto
proibido, e a morte do irmão. E, claro, a morte e a destruição causada pela
enorme quantidade de água que acabaria com todo o mundo como se conhecia
naquela época.
A partir de então, Noé entende que Deus não lhe
mostraria isso apenas por mostrar, mas sim porque ele precisava fazer algo a
respeito. E ele começa a construção da arca que demora anos e mais anos, com a
ajuda de gigantes (adorei a criação dos gigantes – de onde eles vieram e porque
ficaram assim!) e despertando a raiva de pessoas que primeiramente não
acreditam nele, mas mais tarde querem juntar-se a ele para “encontrar a
salvação”. Após a construção da arca, a reunião de todos os casais de animais,
vem então o dilúvio, que devasta o mundo, deixando-os presos ali até que terra
firme seja mais uma vez encontrada, meses depois.
O diretor usou a história bíblica, mas deu sua própria cara e interpretação aos temas tratados, criando um filme de tom muito mais cinematográfico e dramático,
então você encontrará coisas que nunca foram ditas na Bíblia – como os próprios
gigantes de pedra. Ou a criação da floresta que será a fonte de tanto material
para a construção da imensa Arca. O Matusalém ainda vivo para ajudar no que
fosse preciso. O fato de dois de seus filhos entrarem na Arca sem esposas, e
ele, entendendo confusamente o plano de Deus, acredita que todos (inclusive
eles) devem morrer para deixar o mundo seguir em frente, um novo Éden sem a
humanidade para estragar com seus pecados. O que gera até a ameaça de morte das
duas gêmeas nascidas dentro da Arca. Que não morrem no final.
Mas as cenas do filme são incrivelmente belas.
Vários momentos me marcaram, mas eu adoro esse tipo de narrativa que envolve o
clássico e o medieval, e coloca esse estilo épico para permear todas as cenas.
Então temos cenas e mais cenas maravilhosas e marcantes, como a chegada de cada
leva de animais – primeiramente as aves, depois os animais que rastejam e os
mosquitos (que cenas mais nojentas!) e por fim os últimos animais, terrestres,
como o elefante e a girafa… ou então a criação da floresta, a água brotando de
todos os lados. A maneira como o mundo é tomado pelo dilúvio ficou realmente
muito bonita!
No entanto, nada melhor do que a cena que seguiu a
entrada e fechamento da Arca – o momento em que Noé conta à sua família sobre a
criação. O filme conseguiu mesclar, de maneira inteligentíssima, toda a teoria
religiosa da criação nos sete dias por Deus com a teoria científica, que
defende o Big Bang. E eu acho que os produtores do filme fizeram isso da
maneira mais precisa possível, incapaz de mudar o pensamento arraigado de
qualquer pessoa (são crenças muito fixas na mente de cada um), mas conseguindo
expor uma junção perfeitamente aceitável que eu achei fascinante! Me lembrou um
pouco o Piloto de Cosmos e o Ano
Cósmico – mas foi inteligente por colocar os sete dias como metáforas, e cada
um deles representando uma época da criação e evolução. Afinal, o que é um
“dia” para Deus? No primeiro dia se fez
luz, o “Big Bang”; depois veio Terra, Mar, os animais, e a câmera mostrava
isso de maneira rápida, representando que muito tempo se passou na evolução de
cada uma dessas coisas, até que no sexto dia Deus criasse o homem, depois de
todo o restante…
Belíssimo!
O elenco também está de parabéns! Além de ter Emma
Watson e Logan Lerman, ambos por quem eu sou apaixonado, tivemos, por exemplo,
Russell Crowe fascinante interpretando Noé – sim, eu fiquei revoltado com
algumas de suas atitudes em alguns momentos, mas esse foi o papel que lhe foi
proposto, e eu gostei da idéia do filme, de trazer Noé para mais próximo da
realidade, como um humano com suas falhas, capaz de falar com Deus e tentar
fazer sua vontade, mas também passível de erros. Não há, e nunca existiu,
bondade completa inseparável da falha do ser humano.
Eu amei uma frase que eu encontrei no Rotten Tomatoes, e acho
que resume muito bem essa minha review,
uma vez que concordo com ela plenamente: “[…] uma história atemporal em uma
escala humana, Noé de Darren
Aronofsky traz o épico bíblico para o século XXI”. Não, não foi a história fiel
e imutável da Bíblia [e nem entrarei em méritos de como essa história, na
Bíblia, não foi escrita por ninguém que esteve lá ou mesmo que ouviu sobre ela
de fonte direta – mas sim muitos anos
depois], mas as mudanças o tornaram mais cinematográfico, atual e certamente
muito mais humano. As mensagens continuam lá e foram todas passadas adiante,
apenas com uma nova roupagem. Fascinante!
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