A.I. Inteligência Artificial
Obra-prima da ficção científica.
A.I.
Inteligência Artificial é um filme complexo lançado em 2001, capaz de
realmente mexer com nossos sentimentos – ele mistura muita coisa e muda sua
narrativa em mais de um momento, para contar a história de David, um Meca que
só queria ser amado por sua mãe. Mas é possível fazer as mais variadas
reflexões a partir do filme, que nos permite diferentes temas e muito
pensamento, muitas dúvidas. É uma produção extremamente melancólica, embora
emocionante, e é daqueles filmes sobre os quais você pensa uma vida inteira, e
que sempre será significante para você.
Quando o filme foi lançado, eu estava para fazer 9
anos de idade ainda, o que quer dizer que eu já o vi quando ainda era muito
jovem e incapaz de realmente compreendê-lo. Eu lembro-me também que ele chamou
muito minha atenção nas primeiras vezes em que o vi, mas algumas cenas ficaram
para sempre marcadas em minha memória, e até hoje eu revejo a cena em que
Monica deixa David no meio da floresta, enquanto ele implora para que ela a
leve junto com ele, com lágrimas nos olhos e uma distante recordação do trauma
que isso foi para mim na infância.
O filme divide-se em pelo menos três partes. Na
primeira delas, conhecemos esse futuro no qual robôs foram programados para
sentir e responder a estímulos, e David ainda é um produto em fase de testes, o
primeiro Meca projetado para amar. Inteligência
Artificial trará uma interessante discussão sobre amor, associando-se
inúmeras vezes a Pinóquio. É uma
versão moderna e muito mais sombria de Pinóquio,
com o “boneco” que quer virar um menino de verdade, e que deseja mais do que
tudo ser amado por sua mãe. E começamos a nos perguntar que tipo de sociedade é
aquela.
Mônica demora para começar a aceitar David como
“seu filho”, e isso infelizmente é interrompido pelo retorno de Martin, seu
filho “de verdade”. E quantos casos reais como esse já não conhecemos, sobre
crianças adotadas rejeitadas quando a mãe fica grávida, ou o crescente ciúme
entre irmãos, a competitividade… e tudo o que David sabia fazer era amar, era
querer estar com a mãe, e isso realmente colocou as pessoas em risco em alguns
momentos, mas tudo com ótimas intenções. E cenas realmente terríveis nos
marcam, como ele abandonado no fundo da piscina, ou a já comentada cena em que
ela a abandona de vez para nunca mais vê-lo.
A lágrima nos olhos dele. O sofrimento é tão real!
E eu me questiono o que é real e o que não é.
David nos parece um “ser humano” muito melhor do que Martin, por exemplo, esse
guiado pelo ciúme em cenas terríveis. E em todo momento, David é guiado pela
sua crença de que pode ser um menino de verdade, e seu sonho de encontrar a
Fada Azul e ser amado por sua mãe – e a partir do momento em que ele acredita
tanto que “é um menino de verdade”,
ele já não passa a sê-lo? Isso faz com que ele aja, pense e sinta como tal,
então o que realmente é a “verdade”? Aquilo que nos dizem ou aquilo que
acreditamos?
“Se eu virar
um menino de verdade, como Pinóquio, eu posso voltar para casa?”
O segundo ato do filme começa com uma assustadora
representação de nossa realidade – e é impressionante como o filme muda
drasticamente. Conhecemos Joe, um Meca garoto de programa, e presenciamos cenas
realmente traumatizantes em um terrível show de horrores no qual muitos e
muitos Mecas estão simplesmente sendo destruídos para a “diversão” de um grupo
de humanos… são cenas coloridas, agonizantes, barulhentas, projetadas para nos
chocar, para nos enraivecer. E o horror de presenciar aquilo tudo é tão
verdadeiro que mal conseguimos nos concentrar em mais nada, apenas no amor tão
verdadeiro que David sente, e naquele que nós já começamos a sentir por ele.
Mas, assustadoramente, aquela É a nossa sociedade
– uma representação do nosso sistema, que trata humanos como os Mecas foram
tratados, que prepara as pessoas para funções específicas, mas as descartam
assim que elas deixam de ser úteis para aquilo a que foram “programadas”. É o
maltrato, a desumanização, a crueldade. Ou ainda os puritanos conservadores com
um discurso de puro ódio a tudo o que é novo, ou não é aceito como “certo”
perante as antigas doutrinas – e isso me parece uma forte discussão e pregação contra o preconceito, porque o que se
diz de Mecas no filme, é o que se diz de muitas minorias na vida real,
exatamente do mesmo jeito!
Como abominações.
E depois o filme segue na constante e incessante
busca de David pela Fada Azul, com direito a uma ida até Manhattan, e outra
cena icônica do filme que nos marcou desde a primeira vez em que o vimos: o
triste e melancólico momento em que ele finalmente a encontra, e começa a fazer
seu pedido. Mas aquele pedido de ser um garoto de verdade que dura 2000 anos,
sem que ele pisque, sem que ele deixe de olhar para ela, sem que ele deixe de
sofrer e desejar o amor de sua mãe acima de qualquer coisa. É muito sofrimento,
é muita tristeza – isso logo depois de ele conhecer o Professor Hobby e se
sentir horrorizado e decepcionado com o que ele virou: o primeiro em uma série
de robôs exatamente como ele, “capazes de amar”.
O final traz com força a última das simbologias do
filme, que é repleto delas: a Fada Azul se despedaçando em milhões de pedaços,
bem como toda a esperança de uma vida inteira passada embaixo da água em busca
de um único sonho: o amor. “Você é muito
importante para nós. Você é único no mundo todo” – quase tudo o que David
sempre quis ouvir, sempre achou que fosse e quis ser, mas dito por seres de
fora da Terra que nunca conheceram sua mãe. E parece que nada faz sentido,
porque ela não está ali. Teddy salva a cena com uma emocionante participação de
lhe entregar de volta o cabelo que Martin o fez cortar, tanto tempo atrás…
As últimas cenas são de partir o coração, mas
verdadeiramente belíssimas! Aquele único dia que ele ganha para poder estar ao
lado de sua mãe, para poder ser feliz com ela sem ninguém mais por perto para
incomodar, que ele pudesse amar e ser amado como sempre sonhou em ser. São
cenas lindas que fazem as lágrimas escorrer involuntariamente, uma bonita
mensagem que nos comove, que nos emociona. “I love you, David. I do love you. I’ve
always loved you”. E
é por todos esses motivos que A.I. Inteligência
Artificial é um dos meus filmes favoritos de todos os tempos. Nem sempre
encontramos filmes que mexem tanto conosco quanto esse…
Comentários
Postar um comentário