O Preço do Amanhã
Capitalismo
Darwinista.
As bases do sistema capitalista doentio no qual
vivemos atualmente é justamente esse: a Seleção Natural de Darwin. Lembra-se
como ele nos explicava sobre a girafa de pescoço curto e de pescoço longo, e
que a mais forte sobrevivia? É preciso uma relação de exploração e divisão de
classes para que os ricos possam existir e esbanjar. Não haveria um
“equilíbrio” se fôssemos todos ricos, existiria? Esse filme tenta justamente
questionar esse pensamento tão enraigado e tão “natural” no qual vivemos, e nos
fazer perguntar: onde está a humanidade?
O Preço do
Amanhã é um filme profundamente simbólico – “Para que alguns vivam para sempre, muitos precisam morrer”. Numa
sociedade futurística o dinheiro deixou de existir, e tudo é contado em tempo;
você paga em minutos, horas ou dias pelo seu ônibus, seu café, e a partir do
momento em que seu “tempo” acaba, é só isso… então enquanto alguns acumulam
centenas e milhares de anos (o que equivale a uma vida eterna) outros trabalham
diariamente em troca de um mísero dia de pagamento. E não se engane, a nossa
sociedade não é em nada diferente da que vemos no filme.
A diferença é que o filme traz tudo de uma maneira
muito mais literal – por isso o filme é cheio de símbolos; eles utilizam a
falta de tempo e os “assassinatos em massa no gueto” como uma representação dos
oprimidos em contraste com a vida eterna dos poderosos, que vivem para sempre
com medo de viver… e consequentemente não vivem de verdade. E é dessa maneira
que a personagem de Amanda Seyfried, com um cabelo sofrível, vai ser
apresentada: a menina rica, com 25 anos por 2 anos, que quer se aventurar,
fazer uma tolice, viver de verdade.
Claro, importante ressaltar: como essa sociedade
funciona? Sem dinheiro, o tempo é contado a partir de um relógio no braço com o
qual todos nascem, mas só começam a funcionar a partir dos 25 anos, tempo no
qual todos param de envelhecer. O resultado é uma sociedade muito confusa na
qual todos apresentam uma mesma aparência e não podemos diferenciar filha de
mãe ou avó. Will Salas (interpretado por Justin Timberlake) tem 25 anos por 3
anos, e quando conhece Henry Hamilton (o lindo do Matt Bomer) ele ganha mais de
116 anos em seu relógio enquanto ele tenta se matar…
Tudo faz muito sentido com uma discussão extra
muito bacana que já se têm início ali no começo: com tanto tempo para viver,
para que você vive? Não chega uma hora na qual seu cérebro esteja cansado e
velho, mesmo que seu corpo não esteja? E eu acho que o Sistema não teria tanto
problema se não fosse a dramática e bonita cena na qual a mãe não consegue
alcançar Will… é aí que começa sua batalha para chegar em Greenwich, se tornar
um Robin Hood da era moderna, e fazer a diferença… derrubar o Sistema
inteiramente talvez não seja possível, mas balançá-lo de maneira considerável é
algo provável…
O filme poderia ter se aprofundado mais, no
entanto optou por uma narrativa simples e direta. O que não o desmerece, afinal
a mensagem está muito clara e é um conjunto de discussões bacanas. O próprio
Agente do Tempo, brilhantemente interpretado por Cillian Murphy, rende um texto
à parte sobre sua submissão e incapacidade de mudar, após 50 anos de sua vida
fazendo a mesma coisa. O Preço do Amanhã
é uma ótima ficção científica porque acredito que ficções científicas têm uma
função social muito grande ao nos apresentar um novo olhar sobre nossa
realidade – pode ser de uma maneira futurística ou questionando a realidade,
mas você deve notar: toda ficção científica que se preze leva a alguma reflexão
atual e real. Recomendado.
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