Expectativa para “O Doador de Memórias”
– Bom… –
Jonas parou para refletir. – Se tudo é sempre o mesmo, então não há escolhas!
Quero acordar de manhã e decidir
coisas! Hoje vou vestir uma túnica azul ou uma vermelha. – Baixou os olhos para
si, para o tecido sem cor de sua roupa. – Mas é tudo igual, sempre. […] Sei que
não importa o que a gente veste. Não faz diferença. Mas…
– Poder
escolher é que é importante, não é?
Adorei a aparente simplicidade do livro de Lois
Lowry que é um pretexto para as mais amplas reflexões – ler O Doador de Memórias é entrar em um
universo sem cor, aparentemente ideal, onde as pessoas não têm sentimentos, não
têm o poder de escolher. E a história não acontece com uma infinidade de cenas
de ação, de corridas contra o tempo, contra o sistema, ou vozes alteradas. Não.
Tudo acontece de uma maneira contida e belíssima, que confere ao livro tamanha
profundidade: até, de certa maneira, simples, o livro passa da caracterização
de uma sociedade “ideal”, onde sentimentos, cores e escolhas não existem, para
as memórias que mostram a Jonas que as coisas nem sempre foram assim.
E ele não parece mais pertencer àquele lugar.
O livro narra as angústias de saber a verdade
quando não pode compartilhá-la com ninguém mais. Nos pegamos revoltados com a
maneira como tudo é organizado, e como a vida deles é planejada, e ninguém
parece fazer o que quer, apenas o que precisam fazer. O nosso mundo, com as
cores e com os sentimentos, parece ao mesmo tempo perigoso, mas essencial.
Porque essa é a única maneira segundo a qual podemos, de fato, viver. Mas Jonas
sabe disso, o Doador sabe disso. Ninguém mais sabe. E a partir do momento em
que seus olhos se abrem, como Jonas poderia olhar novamente para a comunidade e
para a família do mesmo modo? Como poderia olhar para o pai após assistir à
dispensa?
Sendo assim, Jonas percebe que não pertence mais
àquele lugar. Mas que, de alguma maneira, ainda se importa com algumas pessoas
ali, e gostaria que elas também pudessem sentir e saber as coisas que ele sente
e sabe. Sua atitude final para o término do livro é extremamente bonita. Porque
ele não está sendo totalmente altruísta, ele não sabe qual vai ser o resultado
de sua ação, mas ele sacrifica toda sua vida, agora sem graça, pela possibilidade de que as coisas venham a
mudar. Simples assim. Isso tudo na bonita alegoria de uma jornada, a escalada
de uma colina, e o que o espera depois dela… “Atrás dele, cruzando vastas distâncias de espaço e tempo, vindo do
lugar de onde ele saíra, Jonas pensou escutar música também. Mas talvez fosse
apenas o eco.”
Infelizmente, o filme me preocupa. Foi por causa
do trailer, que inicialmente achei fascinante, que eu resolvi ler o livro. Mas eu
me apaixonei de uma maneira tão inexplicável pelo livro, que eu não sei se
estou preparado para o filme – que parece tão absurdamente diferente pelo
trailer. O enfoque não será necessariamente nessa jornada pessoal de Jonas de
descoberta, mas envolverá também alguns governantes que procuram manter o
sistema, e a tentativa de Jonas de mudar toda a realidade a seu redor. “Não tome sua dose amanhã de manhã”.
Cinematograficamente? Acho que é uma aposta e tanto, e pode dar certo. Mas do
fundo do meu coração? O Doador de
Memórias não é uma obra para os blockbusters…
é muito mais interiorizada, voltada à reflexão. Mas vamos aguardar.
“When the people have the freedom to
choose, they choose wrong”
Desculpe-me, Meryl, adoro você como atriz, mas
juro que questiono sua necessidade nesse filme, nesse papel – espero me
surpreender, mas isso vai aproximar a história de outras produções das quais
não deveria se aproximar. O Doador de
Memórias é único. Mas, pelo trailer, me encantei pela cena na qual o Doador
mostra a dispensa para Jonas, parece extremamente fiel – ao mesmo tempo, não
vimos nada de Atribuição, e isso precisa
existir. Pelo menos algumas fotos com Gabriel me deixaram EXTREMAMENTE FELIZ! Duas
em especial, me pareceram tão reais, ta bonitas, que acho que está emocionante…
mas essa caça por Jonas, por ele ter “se tornado uma ameaça”? Me parece um
tanto quanto forçada; quando lhe atribuíram o cargo de próximo Recebedor de
Memórias, eles sabiam que isso
aconteceria com ele. Se há busca, é apenas no final, e não a vemos.
Mas isso sou eu falando, como leitor do livro.
Então…
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